Capítulo 13 - Perdas

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Quando o amanhecer acinzentado desponta no horizonte Jisung levanta-se, mais cansado e dolorido que o normal, sentindo o peso do ocorrido na noite anterior, mesmo que não tenha vivenciado todos os acontecimentos. Quando chega pela manhã no refeitório, o burburinho de todos ali chama sua atenção. Ele encontra Pépi e Yeji com olhares entristecidos que lhe encaram, sem entender vai em direção aos amigos.

– Criança. – Pépi fala de forma triste e abraça o menino.

– Pépi... a noite... não foi das piores, só estou muito mais cansado que o normal. – Ele sorri cansado, mas intercala o olhar para os dois amigos.

Yeji abraça o amigo calorosamente e logo ele entende que algo muito ruim aconteceu. Novamente ele intercala o olhar entre os dois.

– Vou na enfermaria, não vi o Liz hoje.

– Jisu. – Yeji segura seu braço e lhe encara entristecida com os olhos cheios de lágrimas.

Jisung encara os amigos com o olhar umedecido, mas sem querer lidar com a verdade. Ele sai correndo em direção a enfermaria que se encontra vazia, depois em direção a seu quarto compartilhado e não o encontra. Da janela o burburinho na cidade se torna audível, chamando a atenção do rapaz que corre em direção à saída para compreender o que se passa na cidade. Chegando nas redondezas da ponte ele se esgueira em meio à multidão e se depara com a imagem do corpo do amigo sendo recolhido.

– FELIX. – Ele corre em direção ao amigo, sendo contido, mas logo soltando-se dos braços de um dos homens que contém a multidão. – Lix. – A voz sai como um sussurro enquanto ele acaricia o rosto do menino. – Não me deixa, por favor. – Jisung se abraça ao corpo sem vida do rapaz, chorando compulsivamente.

Logo Yeji e Pepi surgem em meio a multidão e se juntam ao lado do menino. Pépi explica a um dos policiais de quem se trata enquanto Yeji tenta consolar o amigo devastado.

– Jisu. – Sua fala sai embargada. – Ele descansou. Ele está livre.

Os amigos choram abraçados e, após muito tentarem, conseguem levar Jisung de volta ao prostibulo. A despedida dos amigos fora simbólica e muito triste. Em parte, Jisung compreendia que o amigo estaria melhor agora, sem todo o sofrimento que esta vida lhe causara, mas a falta dos sorrisos, das conversas, de todos os momentos que compartilharam juntos, era devastador uma vida sem Felix.

Um funeral simples e cheio de amor foi conduzido por Pépi, por ser o mais velho e conseguir conter-se a ponto de organizar tudo. Jisung só fazia chorar a todo o momento, sem conseguir conter as emoções.

Após o funeral, a tristeza em Jisung enraíza-se em cada aspecto de sua vida. Dias e noites se confundem num emaranhado de horas vazias e sem propósito. Ele vagueia pelo prostíbulo como uma sombra do que já fora, com o olhar perdido e distante, como se a própria luz em seus olhos tivesse se apagado. As atividades diárias parecem um peso insuportável, e a ausência de Felix é como um buraco no peito, sugando qualquer resquício de ânimo que pudesse restar.

A insônia se torna companheira constante, e quando dorme, os pesadelos o fazem reviver a cena do corpo do amigo sendo recolhido, despertando-o em meio a lágrimas e a um desespero sufocante. A falta dos risos e das conversas ecoa em sua mente, e o silêncio que substitui esses momentos pesa como um luto sem fim. Os amigos tentam trazê-lo de volta à realidade, mas suas palavras e gestos soam distantes, abafados pela névoa de dor que o envolve. Pequenas atividades antes prazerosas agora são evitadas; ele mal consegue sair do quarto, mal se alimenta, e cada dia que passa sente-se mais esgotado, preso a uma apatia esmagadora. O trabalho se torna a única ação a qual ele se dedica, tornando-se uma atração mais requisitada por clientes. Certo dia trabalhara quase três dias seguidos sem pausa, os machucados em seu corpo se intensificando devido a falta de cuidados com o próprio corpo.

A chegada de mais uma noite de trabalho inicia e Jisung prossegue suas ações no modo automático. Jisung está vestido de forma marcante enquanto caminha em direção ao trabalho no prostíbulo, de forma completamente automática transmitindo a apatia de seus dias. Ele usa um top vermelho sangue de couro que realça sua silhueta, com alças e detalhes de cintos que adicionam um toque utilitário ao visual. Uma jaqueta de pelúcia preta está caída sobre seus ombros, trazendo uma sensação de ousadia e estilo noturno. O cinto escuro com fivela e uma faixa de cintura visível completam a estética descontraída e audaciosa. A saia minúscula deixa as pernas alongadas e o sapato plataforma completando o visual.

Adentrando ao quarto ele se depara com aqueles olhos que antes lhe fascinavam, Lino lhe encara com perplexidade, percebendo seu olhar vazio e a determinação em seus atos. O menino se direciona a pequena plataforma a frente do sofá para iniciar sua dança sensual, atirando o casaco em cima do que lhe observa. Sensualmente ele inicia uma dança que é acompanhada pelos olhos atentos de Lino. Jisung senta-se em seu colo percorrendo o peito com as mãos, ele abre violentamente a camisa do homem a sua frente, ele alisa o peito e tem as mãos seguradas por Lino.

– Não. – Ofegante Lino hesita.

– Não me quer, senhor? – Jisung fala rente a seu rosto.

– Você não imagina o quanto.

– Então... – Ele aproxima suas bocas, mas Lino esquiva.

– Não posso. – Ele se retira de baixo do rapaz e fica de costas para ele.

– Então qual o propósito. – Jisung se levanta e discute com o homem. – Você vem aqui, todas as vezes, com um olhar que me engole, você evita me tocar e ao mesmo tempo me deseja... não consigo entender.

– Se eu o tocar irei lhe condenar.

– Acha realmente que já não estou condenado.

–Você não entende.

– Então me explique. – Jisung se exalta.

– Eu sou um demônio. – Lino lhe fala, agora lhe encarando.

A tensão palpável no ambiente se intensifica, Jisung parece tirado do piloto automático, de certa forma Jisung compreende que precisa temer a figura a sua frente, mas não é seu instinto natural. O rapaz só consegue fixar-se nos olhos brilhantes, na boca convidativa e o peitoral exibido do homem, ele quer se entregar, ele quer ser tomado.

– Não tenho medo de você. – Jisung se aproxima novamente de sua boca.

Um beijo intenso toma forma, iniciado pela ousadia de Jisung, que se aproxima com uma confiança irresistível. Lino hesita no começo, consciente das consequências que aquele momento pode trazer, mas a proximidade e o desejo são avassaladores demais para resistir. Quando seus lábios finalmente se encontram, uma onda de calor se espalha pelo corpo de Lino, acendendo algo que ele não consegue mais conter. Ele envolve Jisung pela cintura, puxando-o para mais perto, e o beijo se torna voraz, quase feroz.

Os lábios se entrelaçam em uma dança que vai além de qualquer racionalidade, o toque de suas bocas aprofundando uma conexão que os consome por inteiro. É como se suas almas, há tanto tempo distantes, finalmente encontrassem o caminho de volta uma para a outra. O mundo ao redor desaparece, e a única realidade é o calor de seus corpos e a intensidade do beijo que compartilham, como se nada mais importasse. Mas de repente o homem pausa o beijo, respirando com dificuldade.

– Não posso... Não quero perde-lo. – Lino sente algo molhado escorrendo por seus olhos e passa a mão no rosto... uma lágrima escapara de seus olhos lhe deixando atônito.

– Você... está bem? – Os olhos curiosos do menino lhe encaram.

Linose retira rapidamente da sala, direcionando-se a um corredor próximo e respira pesadamentepara retomar seus pensamentos. Ele pondera sobre o que Hyunjin dissera antes dedespedir-se, ele precisaria achar um jeito de aproximar-se de Jisung e, assimcomo Hyunjin, conseguir finalmente ligar suas almas para prosseguirem por vidasjuntos. Como um demônio, Lino não fazia ideia de como fazer isso, mas sabia quedeveria existir uma maneira e tinha total certeza de que o amigo traçava agoraum caminho de paz, junto a seu amor. 

Fonte dos pecados - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora