Capítulo 12 - Despedidas

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Uma grande rebelião estava para começar, com a ira de Asmodeus determinando uma atmosfera sombria no vilarejo, qualquer criatura que não fosse demoníaca poderia sentir as dores de sua raiva, a falta de oxigênio que essa atmosfera causava estaria atingindo até mesmo humanos.

Os amigos saem de seus posts e direcionam-se a uma das entradas do prostibulo, sabendo que precisam tirar Felix daquele lugar antes que sua alma seja usada por Asmodeus para atingir o nefilim. Na porta dos fundos do estabelecimento Hyunjin impede que Lino prossiga ao seu lado, ao que o demônio estranha.

– Hyunjin, você sabe que não consegue fazer isso sozinho.

– Meu amigo, não espero sair ileso dessa rebelião. Mas... não posso deixar você arriscar sua conexão com Jisung.

– Eu... eu nem sei... sou um demônio, Hyunjin... não posso nem chegar perto sem condenar sua alma.

– Sei que você vai achar um jeito. – Hyunjin sorri para Lino. – Volte para o telhado.

– Nos encontramos em outra vida? – Lino ergue a mão para um aperto amigável e Hyunjin sorri diante ao gesto.

Após o aperto de mão ambos seguem seus caminhos. Enquanto o demônio se direciona de volta ao telhado, mantendo uma distância segura do que está por vir, sua cabeça divaga sobre o que está acontecendo dentro de si, algo lhe toma naquele momento, ver o nefilim direcionar-se ao que pode ser o seu fim toca o demônio de uma maneira que criatura como ele nunca tivera sido, é quase como se ele tivesse algum sentimento, a perda do amigo lhe pesa aos ombros, mas sabe que entrando nessa batalha ele condenaria Jisung juntamente consigo.

Hyunjin adentra ao recinto sendo o ar rarefeito entorno de si. Ele sabe e sente que Asmodeus trabalha para cortar suas conexões, apagando qualquer ser que se aproxime de uma ligação com um nefilim, sente seu futuro esvaindo-se a cada passo, mas se não chegar até Felix nunca mais o fara. Na enfermaria a cama vazia lhe causa uma sensação de perda imediata, ele começa a ficar zonzo pela falta de oxigênio no ar, passa a engatinhar na direção de outras portas, e se depara com Pépi que lhe reconhece.

– Você é o nefilim, não é? – Hyunjin não consegue responder, mas Pépi olha em volta, certificando-se de que estão sozinhos e então puxa o nefilim para dentro do escritório.

– F-Fe-lix. – Ele murmura buscando o pouco ar que ainda consegue.

– Encontre eles no alçapão. – Pépi abre uma portinhola revelando um pequeno elevador de carga. – Quando chegar no porão os encontrará.

Com a ajuda do homem, Hyunjin é colocado no elevador, se espremendo para conseguir descer. Ele agradece com a cabeça e logo desce para encontrar os dois que lhe aguardam no porão. Assim que a portinha se abre Yeji corre e direção ao nefilim.

– Você é louco. – Ela lhe ajuda a descer.

– Não temos tempo. – Fala, mas encara o olhar curioso de Felix.

Seus olhos se encontram, e é como se jamais tivessem se desconhecido em algum momento de suas existências. Lembranças de vidas passadas, reais ou imaginadas, passam pela mente de ambos, como uma conversa em silêncio. Seus corações batem em uníssono; a ligação entre eles é inexplicável, mas dá sentido a tudo o que enfrentaram até este momento. O nefilim aproxima-se lentamente, na intenção de não voltar a assustar o menino, mas o lhar destinado a ele quase lhe convida a um abraço eterno.

– Você...

– Sinto tê-lo assustado no outro d...

– Você é o meu anjo. – Felix abre um largo sorriso.

Hyunjin encara os olhos brilhantes do menino, seu sorriso largo e inocente. Os machucados em seu rosto, as lacerações e a forma de andar delimitando a fragilidade de seu corpo quebram a alma do nefilim que só se condena por não ter feito isso antes.

– Desculpe pela demora. – Ele acaricia o rosto do menino.

– Não temos tempo. – Yeji corta a cena abrindo o alçapão e ordenando que os dois saiam.

Os dois encaram ela e voltam a se encarar. Hyunjin sabe que, a qualquer momento, Asmodeus ou algum de seus capangas pode surgir ali e seria o fim de sua existência, também seria o inicio de uma eternidade de condenação para a alma do pobre menino que sorri sem saber tudo que este momento pode implicar.

– Vou te pegar nos braços, certo? – Hyunjin fala e recebe um positivo do menino.

Antes de retirar-se Hyunjin agradece a ajuda de Yeji que sempre fora sua infiltrada dentro do prostibulo. Cria de uma antiga criatura, Yeji possuíra genes de anjo, mas estivera condenada por toda sua vida devido ao pecado vivido por seus progenitores. Quando o nefilim caiu e ainda sofria as dores dilacerantes de perder metade de suas asas, Yeji estava a seu lado.

Correndo pela cidade com Felix em seus braços o nefilim encaminhasse ao único destino ao qual pode ofertar alguma libertação. Por mais que a fonte seja um elo de ligação para demônios e humanos, ela também pode ser destinada a outros seres místicos. Desde a chegada do primeiro nefilim à cidade. Assim que chega as imediações da fonte Felix identifica onde estão e encara o nefilim sem entender o que acontecerá em breve.

– Não se preocupe, não vou te fazer mal. – Hyunjin se agacha com o menino nos braços e coloca uma das mãos na fonte.

Assim que a mão do nefilim toca na fonte Asmodeus, do outro lado da cidade, sente o ato e o início de um processo que lhe causa raiva.

– Vamos, coloque sua mão junto a minha.

Felix compreende o que está para acontecer, na realidade, ele acha que compreende. Todos os cidadãos da cidade sabem que aquela fonte tem poderes sobrenaturais, mas também reserva uma condenação a cada um que clame a ela. Por mais confiança que possua em seu anjo, Felix coloca em dúvida suas decisões.

– Eu.... eu não quero... ser condenado. – Seus olhos enchem de lágrimas.

– Não se preocupe, eu não deixarei mais que nenhum mal recaia sobre você. – A dor dilacerante de sua alma sendo rasgada e o que restou de suas asas queimando fazem com que o rapaz vacile.

– Vai doer?

– Não, nunca mais vai doer.

Os olhares cumplices dos dois estabelecem a ligação eterna de suas almas. Hyunjin começara algo que jamais poderia terminar, ele estava ofertando sua alma em troca da salvação da alma de seu amado. Entregar suas asas seria desistir de qualquer possibilidade de voltar ao que fora criado para existir, porém desde o encontro com a alma doce e pura de Felix, o nefilim não sentira mais o propósito de ser, ele sabia que precisaria estar junto aquele que possuía seu afeto, e assim o fizera. A morte de Felix foi tranquila, leve como um sono profundo. Todas as dores em seu corpo sumiram assim que o menino deixou-se ser carregado pelos braços do nefilim, sua alma agora estaria descansando até estar pronta para existir em uma vida pacifica e sem dores. O nefilim, ali naquele instante, deixara de existir. Não se poderia determinar o que fora acontecer com sua existência, mas juntamente consigo esvaiu-se a ira de Asmodeus que pairava pela cidade, todo e qualquer ser celestial que ali existia sentia a dor da perda daquele ser, principalmente Yeji. Assim que sentira a partida do nefilim, a dor em seu peito derramou-se em lágrimas, fora como a perda de alguém muito importante para si. Lino, do telhado, mesmo não se tratando de um ser celestial, sentia o vazio que Hyunjin deixara em si, cada vez mais o demônio sentia, e isso lhe ofertava a sensação do que poderia ser humano. 

Fonte dos pecados - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora