Capítulo 5 - Olhares

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Ao final de uma noite intensa de trabalho Jisung se direciona ao local dos banhos onde repensa todo o dia. Normalmente ele se lava com repulsa por tudo que passara na noite de trabalho, porém hoje era diferente, ele praticamente estava no piloto automático, ainda pensando naquele momento da delegacia. Desde que entrara no carro sentira uma presença, como se alguém o estivesse vigiando, mas imaginara que fosse apenas uma paranoia, visto todos os olhares de repulsa da população.

O que havia assustado aquele policial de tal forma que sua postura passara de um pit bull a um filhotinho assustado? Seria a presença que ele sentira mais cedo?

– Ei, dois minutos ou retiro você como está. – Um dos homens que cuidava das duchas lhe adverte tirando Jisung de seu transe.

Jisung se arruma correndo e se encaminha em direção a enfermaria para ficar com o amigo, no caminho encontra Yeji que lhe olha com o olhar enigmático, os dois sabem o que lhes persegue, a dúvida que paira no ar. Ambos resolvem não comentar sobre o assunto devido a quantidade de pessoas ao redor, eles não querem que alguém saiba que tiveram problemas com a polícia, isso pode lhes causar grandes problemas com os administrados. Ao chegar na enfermaria o surpreendente corta seus pensamentos de ambos que ficam em choque com a cena a sua frente

– Oi amiguinhos. – Felix lhes recebe sentado, com um enorme e iluminado corriso no rosto, alimentando-se de uma sopa que Pépi trouxe.

– Estávamos esperando vocês. – Pépi, sentado ao lado da cama de Felix, fala para os dois, ele também possui um sorriso iluminado de satisfação.

Yeji e Jisung assumem sorrisos largos ao se depararem com a cena, ambos correm para abraçar o amigo que geme levemente aos toques carinhoso, ainda estando bastante magro e debilitado, porém isso não lhe incomoda, ele fica feliz com o carinho.

– Ei, ei, vão com calma, ele ainda está se recuperando. – Pépi dispara fazendo gestos para que eles se afastem um pouco.

– Quando você acordou? – Jisung pergunta sem desmanchar o sorriso e possuindo algumas lágrimas de alegria em seus olhos.

– Um pouco mais cedo. – Felix seca sua lágrima com um sorriso. – Mas foi.... estranho. – Ele fica um pouco sério de repente.

– O que foi estranho? – Yeji agora pergunta, ainda sem desmanchar parte do sorriso por ver o amigo acordado.

– Conta pra eles, criança. – Pépi fala, acariciando docemente os cabelos do menino.

– Então... eu meio que ouvi.... uma voz. – Felix recebe os olhares curiosos dos amigos, mas se atenta a lembrar do momento. – Estava com tanta dor, internamente implorando só que parasse, sabe? – Ele olha pra Jisung que tem o olhar agora entristecido pelo relato. – Eu só queria parar de sentir dor e... ele me chamou.

– Ele quem? – Yeji pergunta quebrando a pausa na fala do amigo.

– Eu não sei. Eu só o ouvi dizendo "Felix, não agora, resista". Ele falou outras coisas, mas eu não consegui entender. Aí eu acordei, do nada, sem dor, com muita fome. Acordei quando ele falou meu nome de novo.

– Mas, você já escutou essa voz antes. – Jisung tenta ajuda-lo a entender de quem se trata.

– Acho que duas ou três vezes, mas só em sonho, normalmente nas noites em que estou mais triste, ou... pensando besteira, sabe?! – Ele volta seu olhar, que antes estava no prato de sopa, agora para os amigos novamente. – É sempre algo como "estou aqui", "você não está sozinho", "ainda vamos estar juntos", mas eu achava que eram frases do meu passado, sabe? Um amigo, irmão, sei lá. Mas agora... acho que seja do meu presente.

Uma pausa precede a fala do menino e os olhares curiosos dos amigos variam entre si.

– Ixi, ele ficou doidinho. – Yeji fala quebrando o clima de tensão, todos riem da brincadeira da amiga.

Yeji rapidamente, após aliviar a tensão do ambiente, senta ao lado de Felix e passa a beijar o rosto do amigo que gargalha. Pépi, como o mais responsável, tenta conter a menina, mas o carinho era algo de que Felix realmente estava precisando. Jisung sorri e brinca também apertando levemente as bochechas do amigo, mas ele não deixa de pensar no que o amigo falou, passa em seus pensamentos que eles podem estar sendo perseguidos pela mesma criatura, a mesma da delegacia pode ser a que está mandando mensagens para o amigo.

A enfermeira chega para quebrar o clima amigável sinalizando que só um pode ficar com Felix. Todos sabem da proximidade dos meninos então não existem dúvidas que Jisung permaneceria. Yeji se despede com um beijo na testa do amigo desejando que ele fique melhor e Pépi faz o mesmo, porém também beija as mãos do menino, pedindo que ele coma toda a sopa para melhorar logo. Os dois saem abraçados e abandonam os dois amigos.

– Jisu. – Felix fala assim que todos lhe deixam sozinhos. – Era ele.

– Ele quem, amigo?

– Lembra que um tempo atrás, naquele show que o cara nojento me puxou do palco, tinha um outro cara no bar observando e parecia que.... sei lá... parecia que ele estava brincando com a cabeça do nojento.

– O doido que te tirou do palco pelo braço e depois colocou a mão na fritadeira? – Jisung se recorda do ocorrido.

– Isso, esse maluco. O estranho é que tinha um cara no bar que estava observando tudo e parecia... parecia muito que ele estava coordenando os acontecimentos, sabe?

– Eu lembro que você disse na época que viu ele outro dia no telhado.

– Sim amigo, eu estou te dizendo, ele é um anjo.

Jisung observa o olhar brilhante e esperançoso do amigo e seu sorriso inocente, e não consegue desfazer a fantasia, ele não acredita que possam existir anjos, principalmente naquela cidade.

– Talvez seja seu protetor ou algo do tipo. – Ele sorri cansado, tentando não destruir a fantasia do menino.

– Eu não sei, mas ele tem os olhos bem claros. – Felix agora olha para o horizonte relembrando.

– Espera, viu os olhos dele?

– Era a única luz que conseguia ver enquanto ele me puxava da escuridão, naquele dia, depois no telhado e agora aqui.

Sem mais relatos e tentando não destruir a fantasia do amigo, Jisung apenas sinaliza um positivo com a cabeça, demonstrando felicidade em saber que Felix possa estar sendo protegido, mas no fundo ele desconfia que possa ser algo negativo. Os dois amigos passam para outras conversas triviais enquanto Jisung garante que Felix termine o prato de sopa. Ele se preocupa em ajudar o amigo a tomar os remédios, tomar água e, até mesmo ir ao banheiro. Todas as ações sorrindo e fazendo graça para que Felix sorria, afinal a felicidade exala dos dois amigos que sempre foram muito companheiros, praticamente irmãos.

No topo do prostibulo uma figura paira nas sombras, parecendo ouvir o que os amigos falam do lado de dentro, ele sorri com satisfação. Um estrondo anuncia a chegada de companhia para a criatura de forma humana, porém ele nem pestaneja, apenas permanece ali parado enquanto a figura chega pairando ao seu lado.

– Sabe que não deveria ter feito, não é? Não podemos nos aproximar deles.

A criatura que antes estava em silêncio ri em deboche.

– Você fala como se eu fosse o único. O que foi aquilo na delegacia?

O outro sério, mantem a expressão fria inabalável, apenas solta um leve suspiro anasalado. Eles não se olham, não podem demonstrar afinidades, possuem suas diferenças e não devem ultrapassar limites, mesmo que alguns já tenham sido ultrapassados.

– Ele acha que você é um anjo.

– Bem... Eu já fui. 

Fonte dos pecados - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora