compostura

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— Só não repara na bagunça — disse Gabriela, destrancando a porta, mas sem abri-la de imediato, enquanto conectava o olhar com Rebeca, o canto dos lábios se curvando num sorriso divertido.

— Não só vou reparar como postar no Insta — provocou Rebeca com um sorriso travesso. — Abre logo — ordenou, dando dois tapinhas discretos na bunda da maior, que apenas riu e fez o que se foi pedido.

Ao entrar no apartamento de Gabriela, a primeira impressão de Rebeca foi de um ambiente minimalista, confortável e organizado. A sala era ampla e aberta, com paredes brancas impecáveis que refletiam a abundante luz natural que entrava por uma janela grande, coberta por cortinas de linho fino em um tom suave de bege. A luz do dia preencheu o espaço, destacando os móveis do apartamento.

Abaixo da TV, um aparador discreto exibia alguns itens de decoração minimalista: uma pequena escultura de metal, alguns livros empilhados e duas velas perfumadas. No entanto, o que realmente atraiu o olhar de Rebeca foram os dois porta-retratos ali posicionados, objetos que imediatamente capturaram sua curiosidade. Ela se perguntou quem estaria nas fotos, já pensando em dar uma espiada mais de perto depois.

— Bem-vinda à minha humilde casinha — disse Gabriela, sorrindo enquanto deixava as chaves em um porta-chaves preso na parede ao lado da porta.

— É exatamente como eu imaginei — comentou Rebeca, observando o ambiente ao redor.

A jogadora sorriu e piscou para ela, divertida.

— Vou levar suas malas pro seu quarto, e fica à vontade, viu? A casa é sua.

Rebeca, ainda um pouco tímida, concordou com a cabeça enquanto pressionava os lábios, murmurando um "tá bom". As duas trocaram um pequeno olhar antes de Gabriela rumar pelo corredor com as bagagens em mãos. A ginasta a acompanhou com os olhos até que ela sumisse de vista, então se virou de volta para a sala, começando a prestar mais atenção nos detalhes do ambiente.

Ela logo rumou até o que havia despertado sua curiosidade desde que entrou. Em passos discretos, aproximou-se do aparador e pegou o primeiro porta-retratos, seus olhos atentos, analisando a imagem emoldurada. A foto capturava um momento íntimo: uma celebração familiar, com várias pessoas reunidas ao redor de uma mesa decorada. Gabriela estava ao lado de uma mulher mais velha, que Rebeca supôs ser sua mãe — o mesmo sorriso largo e os olhos brilhantes de felicidade eram inconfundíveis. Ao redor delas, outros familiares completavam o quadro, todos sorrindo para a câmera. A ginasta deu um leve sorriso ao apreciar a cena, sentindo uma leve pontada de ternura ao vislumbrar um lado mais pessoal da jogadora.

Devolveu o objeto e seus olhos se voltaram para o segundo porta-retratos, também pegando em mãos. Ela se inclinou um pouco, e seu sorriso se alargou ao reconhecer o conteúdo da fotografia: uma imagem pós-jogo da equipe da seleção brasileira de vôlei. Todas vestiam o uniforme amarelo, e o grupo parecia tentar se encaixar ao máximo no enquadramento, apertando-se e empilhando-se alegremente, com sorrisos radiantes em seus rostos. Gabriela aparecia em um dos cantos, espichando o pescoço e se esticando ao máximo para não ficar de fora da foto, com o mesmo sorriso de sempre em seu rosto.

Rebeca soltou uma risadinha silenciosa, imaginando a energia caótica daquele momento.

— Vem conhecer seu quarto, Beca!

A ginasta foi despertada de seus pensamentos pela voz de Gabriela. Rebeca devolveu o porta-retratos ao lugar com cuidado e caminhou em direção ao chamado. Ao chegar no corredor, encontrou a mais alta encostada no batente de uma das portas, de braços cruzados, os lábios inicialmente pressionados se transformando em um sorriso simpático.

— Tô esperando, no mínimo, uma cama king size — comentou a ginasta, provocativa. Gabriela ergueu uma sobrancelha. — Foi você que me tirou do meu quarto chiquérrimo do hotel.

A jogadora soltou uma risada sarcástica e apontou para si mesma.

— Eu?! Eu fiz a reserva pra 2025?

Rebeca abriu a boca para retrucar, mas quando percebeu que Gabriela estava certa, pressionou os lábios, frustrada.

— Isso não interessa — desconversou rapidamente.

— Ah é? — a mais alta arqueou uma sobrancelha com um sorriso convencido, e a menor assentiu, fingindo firmeza. — Péssimas notícias pra você então: a opção com cama king size só está disponível se você dormir comigo.

O tom brincalhão de Rebeca congelou por um instante. Ela sentiu as bochechas aquecerem de repente, o rubor subindo rapidamente. O comentário de Gabriela, dito com leveza, a pegou de surpresa, e ela teve que lutar para manter a compostura. Internamente, um turbilhão de pensamentos a fazia quase perder o controle, mas conseguiu, com um esforço discreto, manter a expressão serena.

— Quando é assim, a dona da casa tem que ir dormir na sala e deixar a cama pras visitas — respondeu a ginasta, com rapidez, tentando disfarçar o impacto que aquela frase inocente havia causado, enquanto se aproximava da porta.

A mais alta inclinou a cabeça levemente para o lado, com uma expressão curiosa e um sorriso provocador nos lábios.

— Aqui em casa não funciona assim — disse ela, afastando-se do batente e indicando com um gesto que a menor entrasse primeiro.

Rebeca entrou no quarto, tentando não pensar demais na última troca de palavras. Gabriela começou a falar sobre quais poderiam ser os planos para aquela sexta, enquanto ia apresentando o quarto de hóspedes. A ginasta assentia e tentava se concentrar em cada palavra, mas sua mente insistia em voltar ao comentário anterior. Ela se culpava por ter dado uma conotação diferente a algo que, aparentemente, era apenas uma brincadeira inocente.

Ou será que não?

la vie en rose - rebiOnde histórias criam vida. Descubra agora