vulnerável

1.6K 165 59
                                    

Gabriela segurou a segunda garrafa de vinho, um argentino desta vez, com firmeza. O rótulo destacava o "Malbec Reserva" com elegância, e a ponteira, já experiente, com um giro ágil do pulso, inseriu a espiral no centro da rolha e começou a puxar a rolha de cortiça. O som característico do "pop" ecoou pela sala, um estalo seco que parecia quebrar o silêncio aconchegante do ambiente.

Assim que o barulho preencheu o ar, Rebeca, que já estava bem alegre com o álcool circulando livremente em seu corpo, soltou um gritinho de comemoração, seguido por palminhas animadas. A ginasta, rindo de maneira solta e desinibida, esticou o braço com a taça em mãos, esperando impaciente que a mais alta enchesse seu copo. Gabriela, com um sorriso leve nos lábios, inclinou a garrafa e serviu mais uma dose generosa de vinho, observando as bolhas suaves se formarem enquanto o líquido roxo-avermelhado descia com suavidade.

A luz quente e indireta do ambiente deixava a sala ainda mais aconchegante. O brilho suave refletia nas paredes, criando sombras leves que complementam o clima de conforto e relaxamento. Um filme de comédia romântica sáfica, escolhido por Rebeca, estava pausado na metade, aguardando silenciosamente na televisão enquanto ambas aproveitavam o momento.

As atletas desfrutavam do jantar com calma e descontração, saboreando cada pedaço de pizza e cada gole de vinho. Havia uma simplicidade prazerosa na companhia uma da outra, como se o tempo tivesse desacelerado para que pudessem conversar sem pressa.

Rebeca, por sua vez, começava a demonstrar os sinais típicos do álcool. Sua voz, levemente embolada, tropeçava nas palavras, mas ela parecia não se importar. O sorriso bobo que não saía de seu rosto era acompanhado por uma leve falta de coordenação nas mãos, que faziam pequenos gestos descuidados ao segurar a taça ou levar a pizza à boca.

Ao contrário da ginasta, Gabriela estava ligeiramente mais sóbria, embora o álcool circulasse por seu corpo de forma suave. Talvez ainda afetada pelos eventos anteriores no banheiro, ela bebia de maneira mais cautelosa, controlando cada gole com prudência. No entanto, por mais que tentasse manter o foco, o efeito do vinho a traía vez ou outra. Seus olhos castanhos caíam com frequência no pescoço exposto de Rebeca, deslizando lentamente pela pele macia, permanecendo por alguns segundos antes de subirem apressados, como se tentasse esconder de si mesma esse desejo silencioso.

Rebeca tampouco conseguia disfarçar suas intenções. Seus olhos vagavam pelo corpo da jogadora com uma intensidade que, em outro contexto, seria impossível ignorar. Ela observava o pescoço de Gabriela, as mãos grandes e os dedos compridos que manejavam a taça com facilidade, e, por fim, os braços que, embora escondidos pelas mangas da camiseta, já tinham se tornado uma memória vívida em sua mente. Flashes das imagens de Gabriela apenas de top, mais cedo naquele dia, voltavam à sua mente, repetidamente. Em certo ponto, a ginasta chegou a sentir uma leve vontade de derrubar vinho na camiseta dela, só para que pudesse repetir a cena, mas conseguiu conter o impulso, rindo por dentro de sua própria ousadia.

Pensando em ousadia, lembrou-se de mais cedo, quando conseguiu uma resposta mais que concreta para suas dúvidas. As lembranças do momento no banheiro, arrancaram um sorriso sutil em seus lábios. Seu autocontrole havia sido posto à prova de uma maneira inesperada. A intensidade no olhar de Gabriela, o jeito como seus olhos percorreram o seu busto, como se a devorasse, foi o suficiente para fazer Rebeca sentir as pernas estremecerem.

Na mesma hora que essas lembranças cruzaram sua mente, uma ideia surgiu...

— Ai, eu esqueci de perguntar, aquela hora mais cedo... – começou Rebeca, dando uma pausa proposital, o bastante para capturar a expressão de leve desespero que surgiu no rosto de Gabriela. A menor observava com atenção cada micro reação, saboreando o nervosismo da jogadora. — Ficou tudo bem depois que a pressão caiu? Me distraí e esqueci de perguntar... – completou, a voz levemente embolada.

la vie en rose - rebiOnde histórias criam vida. Descubra agora