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Mesmo que, para Rebeca, o mundo parecesse ter congelado enquanto seus olhos percorriam cada mínimo detalhe das costas de Gabriela, na realidade, apenas alguns segundos haviam se passado. Com muito esforço, ela se recompôs e, em passos firmes, começou a se aproximar, fingindo naturalidade. A ginasta sentia o calor subir em suas bochechas, mas evitava a todo custo olhar diretamente para ela, tentando focar apenas na tarefa de limpar a bagunça que havia causado.

A jogadora, alheia ao turbilhão interno da menor, utilizava um pano de cozinha para secar a tampa da ilha, realizando movimentos despreocupados. Rebeca agradeceu silenciosamente por ela estar distraída o suficiente e não ter notado nada.

Ao se aproximar, pela visão periférica, a ginasta percebeu que Gabriela agora a observava por cima dos ombros, com um leve sorriso no rosto.

— Olha, depois desse atentado... Acho melhor eu contar, né? — comentou ela, em tom divertido, se virando na direção da menor e a olhando com uma expressão provocativa. — Senão vai me esganar enquanto eu durmo.

— Para, idiota. Foi sem querer — rebateu Rebeca, sentindo as bochechas esquentarem, tentando desviar o olhar. A jogadora apenas riu, divertida com o desconcerto dela. A ginasta se ajoelhou para limpar o chão, com o pano em mãos, notando a camiseta branca amassada no piso. — Manchou muito a sua camiseta? — perguntou.

Ao erguer o olhar, a menor imediatamente se arrependeu do ato. Gabriela estava ao lado da ilha, virada de frente para ela, na parte superior do corpo usava apenas um top esportivo branco. A luz que entrava pela janela realçava o abdômen esculpido e os ombros largos, que pareciam ganhar contornos ainda mais marcados. A musculatura da mais alta se destacava de maneira evidente: os braços fortes e bem delineados e o abdômen firme e sarado, em conjunto com as "entradas em V" que se desenhavam abaixo de sua cintura, desaparecendo sob a calça jeans de caimento reto.

— Um pouco — respondeu a jogadora, baixando o olhar para o próprio abdômen e tocando a região onde o café havia respingado. — Infelizmente, o plano de me queimar deu ruim — provocou, rindo.

Quando a mais alta voltou a olhar para Rebeca, por breves milésimos, percebeu que os olhos da ginasta estavam fixos em seu abdômen. A menor rapidamente desviou o olhar para cima, seus olhos castanhos subindo com pressa até encontrarem os de Gabriela. No reflexo de surpresa, Rebeca umedeceu os lábios com a língua, tentando disfarçar o instante em que seus pensamentos ficaram perdidos naquela visão.

— Cala boca, idiota — disse a ginasta, quase rindo, enquanto revirava os olhos diante da ideia absurda dela, mas ainda achando graça. — Que bom que não te queimou.

A mais alta pareceu aérea por um momento, desconcertada, como se estivesse processando algo internamente.

— É... Hm... Deixa que eu limpo isso, você é visita.

— Até parece! Fui eu que fiz a bagunça — insistiu Rebeca, já começando a limpar o chão. — Aproveita pra me contar, já viu o que uma garota curiosa é capaz de fazer — provocou, entrando na brincadeira. Gabriela riu e cruzou os braços, mas, ao fazer isso, pareceu perceber que ainda estava despida.

— Só espera eu botar uma camiseta, já volto — disse, pegando a peça molhada do chão e indo em direção ao corredor.

Rebeca suspirou aliviada, percebendo o quão difícil era se concentrar com ela sem camiseta por perto. Sentiu-se estranhamente exposta, uma sensação nova e desconcertante. Ficou parada por um momento, confusa e pensativa. Nunca tinha se sentido assim antes, especialmente por uma mulher. No entanto, naquele ponto, era óbvio para si mesma que Gabriela conseguia provocar coisas que nenhuma outra garota jamais conseguiu.

la vie en rose - rebiOnde histórias criam vida. Descubra agora