sintonia

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flashback – paris

pov gabriela

Segurei a bola com firmeza, sentindo a textura sob meus dedos enquanto ajustava a postura na linha de saque. Fixei os olhos no ponto exato que eu queria que a bola pousasse e respirei fundo, tentando esvaziar a mente. Curvei o tronco para frente, segurando a bola com as duas mãos, e dei alguns toques suaves contra o piso.

Era um costume para sentir a resposta da bola.

Eu só precisava lançar a bola, girar o braço, conectar o impacto – cada movimento estava gravado na memória do meu corpo.

Joguei a bola para o alto com um leve impulso e, no mesmo instante, meu braço direito girou no ar, cortando o espaço com a precisão de quem já fez aquilo milhares de vezes. A palma da minha mão encontrou a bola no tempo certo, sem pressa, mas sem exagerar na força. O saque saiu suave e controlado.

Observei a bola flutuar, girando lentamente enquanto atravessava a rede. Vi com satisfação quando ela caiu exatamente onde planejei, bem no canto esquerdo, no meio da quadra. O som seco do quique ecoou pelo ginásio, e por um segundo, deixei o ar escapar dos meus pulmões.

Mas antes que pudesse relaxar, minha mente voltou de repente aos arredores. A energia ao meu redor me puxou de volta à realidade, o som familiar dos cânticos da torcida brasileira e das meninas gritando os nossos nomes, que se misturava com o eco das bolas quicando e das jogadoras conversando. Eles estavam ali, a poucos metros da quadra de treino, cantando e batendo palmas.

Um calor subiu no meu peito. Eu amava aquilo. Cada aplauso, cada grito... Era impossível não se sentir abraçada por tanta energia. Eles faziam a gente se sentir maior do que qualquer obstáculo, e eu sabia que faria qualquer coisa para trazer o ouro. Não apenas pela minha própria realização, mas por eles – pela torcida que nunca parou de acreditar e que sempre me empurrou para que eu conseguisse me tornar a melhor versão de mim mesma.

Naquele ponto, todas nós estávamos concentradas no jogo que viria a seguir, mas era impossível não rir discretamente vez ou outra com as brincadeiras da torcida. As vozes se misturavam entre "Na Carol não, porra!" e "No on Carol!" toda vez que ela bloqueava com sucesso, e "É a Mami Daher, porra!" quando Thaísa fez o mesmo. Apertei os lábios com força, tentando não rir, mas o canto da boca já ameaçava escapar em um sorriso.

Enquanto eu voltava para a linha de saque, uma bola foi lançada na minha direção. Curvei o tronco para quicar a bola no chão novamente, ajustando o peso do corpo de forma instintiva, e foi nesse momento que ouvi uma voz feminina gritar com entusiasmo:

— SACA VIAGEM, GABI!

Não consegui evitar o sorrisinho de canto, e logo todos que acompanhavam o treino começaram a entoar em coro:

— Saca viagem! Saca viagem!

Atendendo ao pedido da torcida, respirei fundo, ajeitando a bola nas mãos. Dei um passo firme para trás e joguei a bola com força para frente, dei dois passos rápidos e, num pulo preciso, meu braço direito veio num arco rápido, encontrando a bola com força no ponto exato.

O som seco do contato ecoou pelo ginásio, e a bola disparou pelo ar como uma bala, atravessando a rede com força e girando. A trajetória foi perfeita, caindo no fundo, do lado esquerdo, quase beijando a linha. Assim que a bola tocou o chão, a explosão da torcida foi imediata, ensurdecedora. Risos escaparam dos meus lábios enquanto eu acenava para eles, enviando beijos com as duas mãos.

Continuamos o treino, repetindo diversos movimentos – saques, defesas, ataques rápidos. Cada lance era acompanhado pelas instruções atentas da comissão técnica, que nos orientava sobre as táticas para o jogo que viria a seguir. O tempo na quadra de treino passou rápido, mas eficiente. Estávamos afiadas, ajustando o ritmo umas com as outras, preparadas para o que viesse.

la vie en rose - rebiOnde histórias criam vida. Descubra agora