No final de uma tarde quente no Rio de Janeiro, o sol, que ia se pondo, projetava sombras douradas nas paredes de um apartamento na zona sul, enquanto uma brisa leve agitava as cortinas, tornando o ambiente refrescante. As ginastas, sentadas lado a lado, estavam engajadas em uma conversa sobre uma notificação no celular de Rebeca.
Gabriela havia enviado uma mensagem de voz.
A princípio, não parecia ser nada fora do ordinário. As atletas já se conheciam de Olimpíadas passadas, mas nunca tiveram tempo ou oportunidade de aprofundar a amizade. No entanto, durante os Jogos de Paris, elas permitiram essa chance e a conexão foi tão forte que se tornaram inseparáveis.
Porém, com o fim dos Jogos, veio também o término natural daquele convívio que tinham na Vila Olímpica. As duas se acostumaram a se verem todos os dias, entre treinos e momentos de descontração, compartilhando risadas, preocupações e apoio mútuo em meio às competições.
Mas quando as Olimpíadas acabaram, as despedidas se tornaram inevitáveis. Sem a convivência diária, era previsível que o contato diminuísse. Cada uma seguiu seu rumo e voltou para sua cidade. Rebeca, agora com uma visibilidade ainda maior após os Jogos, estava com a agenda lotada. Como a maior medalhista do Brasil, compromissos se acumulavam, deixando pouco espaço para pensar em qualquer outra coisa. A rotina intensa a mantinha ocupada, e os momentos de tranquilidade eram raros. No entanto, mesmo com a cabeça cheia de responsabilidades, algo continuava ocupando um lugar na mente da ginasta.
Gabriela.
Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual aquela mensagem inesperada a desequilibrou de repente. Era um sentimento estranho e confuso, diferente do que sentia por qualquer outra amiga. Por mais que tentasse racionalizar, o jeito como a jogadora permanecia em seus pensamentos a fazia questionar o que realmente estava acontecendo dentro de si.
— Dá play nisso logo!
A voz apressada da loira a arrancou de seus pensamentos, trazendo-a de volta à realidade. Curiosa e cheia de expectativas, Rebeca tocou o polegar suavemente sobre o botão de reproduzir, e o áudio começou a preencher o ambiente.
— E aí, Beca... tudo bem? – começou a voz, com um tom ligeiramente hesitante. — Hm, então... eu tava pensando, queria saber se ainda tá de pé o nosso combinado, sabe? Você lembra, né? – a voz deu uma pausa, como se a pessoa tentasse organizar os pensamentos. — Você falou que viria e... tipo, eu acreditei que ia rolar. – um riso nervoso escapou, quase imperceptível. — As meninas combinaram de ir num barzinho esse final de semana e, tipo, BH tem vários lugares legais que a gente podia conhecer. Sei que deve tá uma correria aí, pós-olimpíadas mas, enfim... tá feito o convite.
Enquanto ouviam o áudio, a negra inclinou a cabeça com um sorriso discreto nos lábios e os olhos fixos na tela. A loira, por outro lado, mordeu os lábios com um sorrisinho sapeca e os olhos brilhavam com uma pitada de malícia. Já tinha sacado o que estava nas entrelinhas.
Quando a mensagem terminou, o olhar das amigas se conectou. Rebeca tentou fingir indiferença, desviando o olhar, mas Flávia não se deixou enganar. Com um sorriso de canto e uma sobrancelha arqueada, ela deixou o silêncio pairar por alguns instantes antes de soltar:
— Hmmmmmm... – alongou a palavra com um tom malicioso, o brilho nos olhos denunciando suas intenções.
— Hm o quê? – respondeu Rebeca, com um vinco entre as sobrancelhas, claramente tentando entender onde a amiga queria chegar.
— Não se faz de sonsa! Toca isso de novo e presta atenção! – insistiu Flávia, a voz carregada de malícia, mas com um tom quase desafiador.
— No quê? – retrucou Rebeca, ainda com o cenho franzido e o olhar desconfiado.
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la vie en rose - rebi
FanfictionUm convite inesperado leva a bicampeã olímpica à capital mineira, onde ela descobre que a pessoa que tem ocupado seus pensamentos mais do que deveria pode, enfim, mostrar-lhe o significado de ver a vida em cor-de-rosa.