ficção

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O clima no apartamento estava incomum, quase opressivo. O silêncio parecia mais denso do que o normal, como se carregasse todas as palavras que Gabriela e Rebeca não tinham dito. Enquanto a ginasta tomava banho, a ponteira sentia urgência em deixar aquele ambiente para tomar um pouco de ar fresco. Ficar ali, rodeada por aquela atmosfera carregada, deixava seus pensamentos ainda mais confusos, e a proximidade com Rebeca tornava impossível encontrar qualquer resquício de clareza.

Gabriela pegou um pedaço de papel e uma caneta, concentrando-se para que sua caligrafia saísse minimamente apresentável.

Escreveu rapidamente:
"Vou ir comprar nosso café da manhã com Nadal."

Franziu o cenho. Isso parecia sério demais. Ela mordeu o lábio, hesitante, e balançou a cabeça, decidindo adicionar algo no final.

"Não morra de saudades :)"

Um pequeno sorriso escapou de seus lábios enquanto desenhava os olhinhos e o sorriso da carinha no final da frase.

Era uma desculpa simples, mas suficiente para dar a ela o espaço necessário para respirar.

Com a carteira no bolso e um par de óculos escuros no rosto, a ponteira chamou Nadal, que correu animado até a porta. No momento em que o elevador fechou as portas, Gabriela se viu perdida em seus próprios pensamentos, que fluíam com uma frequência alucinante, como ondas que não paravam de quebrar.

Quando a oportunidade finalmente estava em suas mãos, a ponteira travou, incapaz de qualquer reação. O pior de tudo era que ela sempre levava jeito com garotas, flertar e lidar com situações parecidas nunca tinha sido problema para ela.

Mas com Rebeca... era diferente.

Havia algo na ginasta que a desarmava por completo. Talvez fosse o jeito que seus lábios se curvavam quando ela ouvia uma das piadas toscas que a ponteira insistia em contar, ou a maneira como seus olhos brilhavam toda vez que falava sobre seus sonhos, cheia de paixão. Talvez fosse o jeito despretensioso com que prendia o cabelo em um coque bagunçado, expondo ainda mais o rosto que parecia ter sido esculpido, ou quando a ponta do nariz enrugava levemente quando algo a frustrava.

Talvez fosse o conjunto de todas essas coisas, um amontoado de gestos pequenos e olhares silenciosos que, juntos, faziam Rebeca ser tudo aquilo que Gabriela nunca soube que precisava, mas que agora não conseguia deixar de desejar.

Durante o caminho até a padaria, a ponteira passou cada segundo se castigando mentalmente por ter congelado, revivendo o momento na varanda repetidas vezes.

Será que ela não mudaria de ideia agora?

A dúvida corroía Gabriela por dentro, somando-se ao arrependimento que não deixava sua mente em paz.

Foi só quando chegou à padaria que seus pensamentos finalmente deram uma trégua. Sentindo o aroma dos pães frescos e o cheiro doce vindo do balcão, ela se forçou a focar no que precisava. Pediu pães novinhos e quentinhos, um suco de caju feito na hora, alguns pães de queijo e dois pedaços de torta de limão.

Trocou algumas palavras educadas com a atendente e, após pagar pelo pedido, saiu com a sacola na mão e Nadal ao seu lado, o focinho curioso farejando o ar ao redor.

[...]

Gabriela abriu a porta do apartamento com um leve receio, o friozinho de ansiedade voltando a subir por sua barriga. A expectativa de reencontrar o motivo dos seus surtos fazia seu coração acelerar. Respirou fundo antes de entrar, tentando parecer mais tranquila do que realmente estava.

No primeiro plano, não encontrou a ginasta. Mas algo chamou sua atenção imediatamente: a mesa já estava posta, com dois pratos, copos e talheres alinhados com cuidado e o café já passado. A sala, que na noite anterior estava uma bagunça, agora estava impecável. Cada coisa no lugar, tudo organizado. Aquilo fez um sorriso pequeno e involuntário brotar nos lábios da ponteira.

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⏰ Última atualização: Oct 23 ⏰

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