atitudes

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O som suave da porta deslizando enviou um arrepio involuntário pela espinha da mais alta, um friozinho se formando em seu estômago. A expectativa crescente fez o momento parecer se arrastar, como se o tempo desacelerasse. Gabriela, com seus olhos castanhos atentos, viu tudo se desenrolar em câmera lenta.

Rebeca passou pela porta, seu cabelo preso em um coque desleixado, feito às pressas. A regatinha branca colada ao corpo e o shortinho folgado moldavam a silhueta de seu corpo, com destaque a curva acentuada de sua cintura. A expressão sonolenta da ginasta se destacava, seus olhos piscando lentamente, tentando se ajustar à luz suave que inundava o ambiente. Ainda com movimentos lentos, ela se espreguiçou preguiçosamente, alongando o corpo e soltando um suspiro enquanto finalmente olhava para a ponteira.

— Bom dia, Gabriela – disse a ginasta, a voz carregada de sonolência enquanto conectava o olhar.

Gabriela sentiu o friozinho na barriga se intensificar, um misto de nervosismo e algo mais que ela preferia não nomear. A agitação se manifestou em sua garganta, fazendo sua resposta soar rouca e entrecortada:

— Bom dia – murmurou, tentando esconder o tremor.

Ela manteve o contato visual, os olhos presos aos de Rebeca, mas havia algo quase instintivo dentro dela, uma pequena insistência silenciosa que a tentava. Pela sua visão periférica, ela tinha um vislumbre do decote da ginasta, parcialmente visível, provocante, à margem de sua atenção. Como se algo dentro dela insistisse que aquele era o lugar certo para seus olhos descerem, mesmo que por um breve momento.

No entanto, se esforçou para manter a compostura e olhos nos lugares adequados.

— Achei que tinha ouvido você falando com alguém, ou tô ficando louca? – perguntou Rebeca, despreocupadamente, em meio a um sorrisinho.

Gabriela sentiu o mundo despencar. Um frio gélido percorreu sua espinha ao concluir que ela provavelmente tinha escutado algo. Sua mente acelerou em busca de uma explicação rápida, mesmo que hesitante.

— T-tá não, eu tava falando com a Carol. – as palavras saíram apressadas, enquanto seus olhos começaram a trair suas ordens internas. O olhar de Gabriela escorregou brevemente pelo decote de Rebeca, mas, forçando-se a desviar, ela olhou para frente, encontrando os prédios vizinhos e as árvores que enfeitavam o bairro. — Ahn... – fez uma breve pausa, tentando pensar em alguma desculpa plausível. — Teve uns probleminhas com a reserva de hoje e... eu tava ajudando ela a resolver...

Rebeca se aproximou, silenciosa, seus olhos também se fixando no horizonte. A proximidade fez Gabriela engolir em seco quando o cheiro inconfundível da ginasta invadiu seus sentidos. O efeito do aroma da pele dela sobre a ponteira parecia ter triplicado de intensidade após ter passado a noite passada de conchinha. O cheiro de Rebeca havia invadido seu sistema nervoso, turvando seus pensamentos e tornando o raciocínio quase impossível.

Seus olhos castanhos, relutantes em se fixar na paisagem entediante à frente, acabaram seguindo o instinto de admirar o rosto esculpido da menor. Quando o fez, a encontrou com um sorrisinho travesso e uma sobrancelha erguida, que a observava de volta, claramente se divertindo.

— Tendi... – disse alongando o final da palavra e pressionando os lábios em seguida. — E caiu da cama? – trocou de assunto, com um toque de malícia na voz, a ponteira deu um sorriso de lado.

Para Gabriela, a desculpa pareceu ter convencido, o que trouxe um alívio imediato ao seu interior. A tensão em seus ombros diminuiu, e sua respiração, que havia ficado presa por alguns segundos, finalmente fluiu com mais naturalidade.

— Até parece, fazia tempo que eu não acordava tão tarde assim. – respondeu, enquanto girava o celular na mão, mostrando o horário na tela para Rebeca.

la vie en rose - rebiOnde histórias criam vida. Descubra agora