interações

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flashback – paris

pov gabriela

No relógio, o horário já passava um pouco das 13 horas. O treino tinha se estendido mais do que o previsto e, como sempre, as meninas acabaram se perdendo em conversas e fofocas, o que nos atrasou ainda mais para o almoço. Eu estava faminta, e, naquele ponto, acho que teria forças para disputar comida com um leão se fosse necessário.

Assim que levei a primeira garfada de feijoada à boca, foi impossível não soltar um suspiro de alívio e prazer. A comida me fazia sentir em casa, e o tempero... O tempero era perfeito. A cada garfada, eu me sentia mais longe da realidade, quase flutuando. Por mais que tentasse prestar atenção no que as meninas estavam falando, minha mente estava muito concentrada na tarefa de encher o estômago. De vez em quando, eu pegava algumas partes da conversa: o próximo adversário, as fofocas do vestiário e até comentários sobre o clima cinza daquele dia.

Eu estava completamente alheia, quando uma voz, carregada de um forte sotaque carioca, interrompeu a conversa e me arrancou do meu transe.

— Gente, com licença... Queria apresentar uma amiga minha, muito fã de vocês, mas que tá com muita vergonha de vir pedir uma foto... – a voz fina de Flávia com um sutil tom provocativo chamou nossa atenção.

Seu tom fez sentido quando Rebeca Andrade apareceu ao seu lado, revirando os olhos com um meio sorriso nos lábios, visivelmente envergonhada. Assim que meus olhos pousaram sobre ela, fui tomada por uma energia diferente, uma sensação que percorria meu corpo de forma quase elétrica. Era impossível desviar o olhar.

O rosto de Rebeca parecia esculpido por um artista, com uma perfeição que beirava o surreal. Seus lábios grossos se curvavam em um meio sorriso discreto, uma expressão contida que contrastava com o brilho nos seus olhos. As sobrancelhas, perfeitamente arqueadas, realçavam ainda mais suas feições marcantes. Havia uma harmonia em cada detalhe. A pele dela, lisa e macia, refletia a luz suave que inundava o ambiente, fazendo-a parecer ainda mais radiante.

Algumas mechas loiras caíam por cima de seu ombro, com ondas suaves e bem definidas, como se tivessem sido moldadas casualmente pelo vento. Era estranho como meus olhos se fixavam nela, quase sem que eu percebesse, atraídos por algo indefinido.

Fiquei assim por alguns segundos, apenas observando, até que nossos olhares se cruzaram. Esse foi o estalo que eu precisava para me desconectar, me fazendo piscar e disfarçar a estranheza da situação. Senti um leve desconforto, não por ter sido pega, mas por não saber muito bem o motivo daquilo.

— Ai, fica quieta, Flávia... — murmurou, dando um leve empurrão na amiga. — Oi, gente!

As meninas responderam com uma breve saudação e eu tive apenas forças para acenar discretamente.

As duas vestiam o uniforme azul-marinho do comitê brasileiro, idêntico ao nosso. No entanto, a maneira como usavam o corta-vento era o que as diferenciava. Flávia deixava o zíper completamente aberto, revelando a camiseta branca por baixo. Já Rebeca, por outro lado, mantinha o zíper fechado quase até o topo, apenas com a parte de cima ligeiramente aberta.

— Quem tinha que pedir foto com ela era a gente! — exclamei, com a voz ligeiramente mais rouca que o normal. — E como vocês estão? — completei, com um sorriso discreto no rosto, tentando soar amigável. Flávia, sem hesitar, se aproximou para um abraço caloroso e eu retribuí contente.

— Muito bem! E vocês? — respondeu, animada. — A Rebe tá desde ontem falando em te procurar pra pedir uma foto... — revelou para mim como se estivesse contando um segredo.

Na mesma hora senti uma dose de felicidade ser injetada no meu corpo. Algo dentro de mim ficou contente com o reconhecimento dela. Desviei o olhar para Rebeca a tempo de notar ela soltando uma risadinha envergonhada.

— Com tantas opções aqui, foi logo escolher a Gabi? — disse Rosa provocando, enquanto torcia o nariz em uma falsa expressão de desgosto.

Me soltei do abraço e fui rápida em devolver com um chutinho na canela dela, que soltou um gritinho agudo. Todo mundo começou a rir da nossa interação e eu apontei o indicador pra ela com a feição mais ameaçadora que tinha.

— Ó, a inveja! — provocou Thaísa.

— Gente... Mas não era a Gabi que tava falando em dar uma volta perto do ginásio de treino de ginástica pra conseguir esbarrar com a Rebeca? — questionou Carol, me provocando, com aquele sorriso travesso que me fez instantaneamente sentir vontade de matá-la.

Por que eu conto tudo para essas idiotas, mesmo?

— Que coincidência, né...? – disse Thaísa, enquanto me lançava um olhar que eu conhecia muito bem e eu ergui uma sobrancelha sentindo a minha bochecha corar.

— Uai, gente! Eu só queria atualizar a nossa foto de 2021. — justifiquei, deixando escapar uma meia verdade. Era verdade, eu queria mesmo atualizar a foto antiga, mas não podia negar que havia um outro motivo....

Ultimamente, não conseguia entender direito o que estava acontecendo dentro de mim. Sempre admirei a Rebeca de longe, ela era impecável no que fazia, uma profissional dedicada, que inspirava todos ao redor e era um exemplo a ser seguido. A nossa relação se resumia a essa admiração silenciosa.

Até o dia em que, enquanto rolava casualmente o feed do Instagram, me deparei com uma foto dela. De biquíni. Não foi nada exagerado ou vulgar, na verdade, era uma foto bem normal — um clique dela na praia, com um lindo sorriso e aquele ar descontraído e confiante. Mas, por algum motivo, algo acendeu dentro de mim. Foi como se alguém tivesse apertado um interruptor escondido, daqueles que você nem sabia que existiam, mas que, uma vez acionado, muda tudo.

Que droga. Agora, pensando nisso, eu me sinto como uma idiota. Ou pior, como uma tarada. Nunca olhei para Rebeca dessa forma antes, mas de repente, eu não conseguia tirar a imagem dela da minha cabeça. Comecei a reparar em detalhes que antes não me chamavam atenção: o jeito que ela ria, como ela se movia, o som da voz dela. Era como se tudo nela tivesse ganhado uma nova camada de significados.

E também foi aí que o inferno na minha vida começou. Carol notou o aumento repentino nas trocas de likes e comentários entre Rebeca e eu e a partir daí foi ladeira abaixo. Bastou isso para ela começar a me provocar, e obviamente, as outras meninas seguiram seu exemplo.

Meus pensamentos estavam tão distantes que, por alguns instantes, me perdi completamente. Só percebi que estava aérea quando senti um cutucão discreto na coxa, me arrancando do transe. Thaísa estava ao meu lado, com um sorriso nada sutil nos lábios, claramente se divertindo com o meu momento de distração.

Respirei fundo, tentando recuperar o foco e voltei minha atenção para as ginastas. As outras meninas estavam profundamente engajadas em algum assunto animado, conversando e rindo. Flávia, como sempre, gesticulava bastante enquanto falava, agora com as duas mãos apoiadas na cintura, formando aquela clássica pose de "xícara", reclamando com indignação sobre algo que, aparentemente, nunca mudava de uma Olimpíada para outra: as camas continuavam péssimas.

Naturalmente fui me incluindo no assunto, Flávia e Rebeca eram extremamente simpáticas e engraçadas e exalavam isso nos contagiando. A conversa fluía com facilidade e era acompanhada de muitas risadas até que comecei notar uma movimentação suspeita ao meu lado, instintivamente levei meus olhos a Thaísa que esboçava uma feição divertida e traiçoeira e eu sabia que vinha bomba por aí.

Enquanto ela sugeria um passeio em grupo seus dedos iam cutucando a lateral da minha coxa de uma maneira persistente, e eu sabia muito bem o que aquilo queria dizer. Eu tentei disfarçar, mas a ideia me deixava, no mínimo, envergonhada. Eu sabia muito bem quais eram as intenções dessas idiotas, e, sinceramente, não sabia como lidar com isso.

[...]

n/a

o proximo cap promete e ja ta no forno

nao esquecam do likezinho :)

la vie en rose - rebiOnde histórias criam vida. Descubra agora