𝐂𝐀𝐎𝐒 𝐏𝐄𝐑𝐅𝐄𝐈𝐓𝐎 | 𝖦𝗎𝗂𝗅𝗁𝖾𝗋𝗆𝖾 𝖠𝗋𝖺𝗇𝖺

𝟎𝟒

CAPÍTULO 4 — ANA CLARA BASTOS

      𝗢 𝗦𝗢𝗠 𝗗𝗔 𝗖𝗔𝗠𝗣𝗔𝗜𝗡𝗛𝗔 ecoava pelo corredor do apartamento, repetidas vezes, como uma batida frenética que combinava perfeitamente com o meu humor. Eu estava exausta.

Não, exausta era pouco.

Cansada ao ponto de desejar deitar nesse carpete enquanto esperava que alguém finalmente se dignasse a abrir a maldita porta. Na verdade, era só o meu irmão, Luís Gustavo, que estava lá dentro, provavelmente com os fones de ouvido tão altos que nem um terremoto o tiraria da partida de videogame.

Ah, a delícia de ser o caçula, mimado e sem preocupações na vida.

Pressionei o dedo contra o botão da campainha mais uma vez, segurando até ouvir um ruído de protesto vindo do outro lado da porta.

———— Luís Gustavo! ———— gritei, sem me importar se algum vizinho ouviria ———— Se você não abrir essa porta agora, a mãe vai ficar sabendo do vaso que você quebrou semana passada jogando altinha com seus amigos.

Ouvi um barulho abafado, algo caindo no chão, provavelmente ele tropeçando em alguma coisa. Eu revirei os olhos, já antecipando o olhar confuso que ele me daria ao finalmente abrir a porta.
A maçaneta girou, e lá estava ele, meu adorável irmãozinho, com o cabelo bagunçado, os olhos semicerrados, e um fone pendurado no pescoço. Luís piscou para mim, como se estivesse voltando de uma longa hibernação.

———— Caramba, Ana, precisava desse escândalo todo? ———— ele me olhou de cima a baixo, o sorriso preguiçoso crescendo ———— Voltou do safari na África, é?

———— Aham, e adivinha só? Trouxe um leão faminto na mala, pronto pra devorar adolescentes lerdos que não atendem a porta. ———— eu empurrei a porta e entrei, arrastando minhas malas para dentro. O apartamento cheirava a lasanha congelada, algo que só poderia significar que meus pais ainda não estavam em casa ———— Cadê a mãe e o pai?