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- Katherine -

Afundada no sofá, eu folheava um velho livro que encontrei no canto do salão, tentando me distrair, mas era difícil ignorar o olhar penetrante de Gally queimando sobre mim. Ele estava sentado ao meu lado, inquieto, como sempre fica quando quer falar sobre algo que o incomoda. Estava calado há tempo demais, e isso era um mau sinal. Eu sabia que ele estava a um milímetro de começar o que só poderia ser mais uma de suas "sessões de terapia fraterna".

— Tá bom, desengasga logo. — Falei sem tirar os olhos do livro.

— Desengasgar? Quem, eu? — Respondeu, colocando uma mão no peito como se estivesse ofendido. — Só estou aqui pensando. Você sabe, preocupações normais de irmão mais velho... Tipo, por que a minha irmãzinha está andando de mãos dadas com um desastre ambulante?

Joguei o pescoço para trás.

— Ah, lá vem. Gally, o que tem o Minho agora?

— Então, você e o Minho... — Ele começou, e eu já sabia que ia ser uma daquelas conversas.

Suspirei, fechando o livro e me preparando para o interrogatório.

— O que tem eu e o Minho, Gally? — Perguntei, como se não soubesse exatamente o que ele queria discutir.

— Ah, sei lá. Vocês andam muito próximos, tipo, próximos demais. — Ele fez um gesto exagerado com as mãos. — E eu fico aqui imaginando... será que ele não encontrou um jeito novo de ser insuportável? — O mais velho sorriu, aquele sorriso sacana de quem estava só começando.

Eu revirei os olhos, mas não consegui evitar um sorriso.

— Estamos tentando ver onde isso vai dar. Não estamos namorando de novo, mas... — Dei de ombros. — A gente está se conhecendo. De novo.

Gally bufou e revirou os olhos tão dramaticamente que quase deu um giro completo.

— "Se conhecendo de novo", como se o cara tivesse mudado de personalidade. Eu conheço o Minho há tempo suficiente pra saber que ele continua o mesmo idiota de sempre. Aquele cabelo espetado dele deve ter encurtado os circuitos do cérebro.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Gally, sério? O Minho não é tão ruim assim. Quer dizer, ele até tentou ser amigo seu.

— Amigo meu? — Ele riu alto, incrédulo. — Minho tentou ser meu amigo do mesmo jeito que uma pedra tenta ser um travesseiro: sem jeito, desconfortável e só acaba machucando a cabeça de alguém.

Eu ri tanto que quase caí do sofá.

— Nossa, você tá inspirado hoje, hein?

— Tô sempre inspirado quando é pra falar mal do Minho. — Ele deu de ombros, satisfeito com sua própria piada. — Vamos ser sinceros, K. O cara acha que "flertar" é a mesma coisa que "desafiar alguém para uma luta". A última vez que vi vocês dois juntos, eu quase chamei a emergência porque achei que alguém ia acabar com um braço quebrado.

— A gente tem essa dinâmica, tá? — Respondi, tentando soar séria, mas falhando miseravelmente. — E você sabe que ele se preocupa comigo. Ele só... mostra isso de um jeito diferente.

— Mostra diferente? Ele é do tipo que acha que mostrar afeto é roubar suas batatas fritas e depois te chamar de "preciosa" quando você reclama. É, realmente um príncipe encantado.

— Pelo menos ele não é entediante. — Dei de ombros.

— Entediante? Minha cara, ele é um show de stand-up ambulante. Só que o público sempre sai com vontade de bater nele. — Ele sorriu, claramente se divertindo.

In My Veins | Maze Runner | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora