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- Minho -

Era uma tarde de céu cinza e chuvisco fino lá fora, mas dentro da base do C.R.U.E.L, o ar estava abafado. Na sala de convivência, onde o som da chuva batendo nas janelas abafava os ruídos distantes de passos e ordens, eu e Katherine tínhamos encontrado um canto de paz. Não era um tipo de paz que prometia segurança ou descanso eterno, mas era o que tínhamos. Sentados no chão frio, encostados na parede, dividíamos um pacote de batatinhas que ela havia "roubado" da despensa. Esses pequenos gestos – como surrupiar um lanche proibido – eram a forma dela de desafiar o sistema. E eu amava isso nela.

Katherine estava ao meu lado, os joelhos dobrados perto do peito, e o jeito que ela segurava o pacote com uma mão, enquanto levava uma batatinha à boca com a outra, parecia quase casual. Mas eu sabia que por trás desse exterior tranquilo, ela estava sempre analisando, sempre sentindo cada mudança no ambiente, pronta para se mover a qualquer momento. Às vezes, eu me pegava só observando-a, como naquele momento. Era ridículo o quanto eu gostava de olhar para ela, mesmo quando ela estava apenas mastigando batatinhas.

Eu tinha acabado de contar uma piada boba sobre um dos recrutas novatos que acabara de tropeçar no próprio pé durante o treino. Katherine jogou a cabeça para trás e riu alto. Eu sabia que a piada em si não era tão engraçada, mas o riso dela... Esse riso era a coisa mais incrível do mundo. Era contagiante, quente. Fazia meu peito se expandir, como se estivesse rindo também, mesmo sem fazer um som. Ela era a única pessoa que podia fazer meu coração acelerar apenas por rir. Eu adorava vê-la assim – despreocupada, por um momento, longe do peso constante da sobrevivência.

— Você tem que parar de fazer piadas durante o treino. — Ela disse, ainda sorrindo, os olhos brilhando com aquele humor que sempre me deixava fora de mim. — Um dia você vai acabar se distraindo e levando um soco na cara.

— Não se for de você. Eu sei todos os seus movimentos. — Provoquei, pegando mais uma batatinha e mordendo-a devagar, com um sorriso presunçoso no rosto.

Katherine arqueou uma sobrancelha, um desafio em seus olhos.

— É mesmo? O que eu vou fazer agora?

Ela estava me desafiando, e, para ser sincero, eu adorava quando ela fazia isso. Era como se houvesse uma energia invisível que puxava nós dois para um ponto de colisão, um ponto onde tudo ao nosso redor desaparecia e só restava ela. Eu nunca deixaria que ela soubesse o quanto isso me afetava.

— Bem, considerando sua falta de jeito, provavelmente vai tropeçar no próprio pé igual ao novato. — Respondi, um sorriso convencido se formando.Mas pode ficar tranquila, eu sempre vou estar lá para te salvar.

Minha namorada riu e me deu um leve soco no braço.

— Idiota. — Ela falou, mas com aquele brilho no olhar que eu conhecia bem – um misto de diversão e algo mais profundo, algo que eu fingia não perceber. Ou talvez eu apenas não quisesse entender o que significava. A verdade era que eu preferia esses momentos de brincadeira, onde tudo parecia mais simples.

Mas, como se aquele riso tivesse puxado algum fio invisível que conectava nossas preocupações, o sorriso de Katherine diminuiu, e o silêncio caiu entre nós. O som da chuva fina batendo na janela tornou-se o único ruído na sala. Algo mudou no ar, uma tensão sutil que me fez olhar para ela com mais atenção. Seus olhos não estavam mais brilhando da mesma forma.

In My Veins | Maze Runner | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora