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- Minho -

O clima na Clareira estava tenso como nunca. Alby nos convocou para uma reunião de emergência antes mesmo do sol nascer completamente. Ele estava furioso, e com razão. O que tínhamos feito violava todas as regras que estabelecemos para manter a ordem aqui. Mas havia algo mais profundo nessa raiva. Algo que me dizia que não era só sobre as regras.

Alby estava parado no centro da sala, os olhos faiscando de raiva enquanto nos encarava. Gally, Katherine, Newt, Thomas e eu formávamos um semicírculo ao seu redor, cada um lidando com a tensão à sua maneira. Eu mantinha os braços cruzados, tentando não deixar transparecer a irritação crescente.

— Eu não posso acreditar que vocês fizeram isso! — Alby rugiu, a voz ecoando pelas paredes da sala. — Ocultaram informações de mim e deixaram Katherine saber coisas que deveriam estar enterradas!

Newt tentou intervir, a voz calma e conciliadora.

— Alby, espera... — Newt começou, tentando acalmar a situação. — Thomas nem estava aqui quando fizemos aquela reunião.

— Isso não é desculpa! — Rebateu, virando-se para Thomas. — Você ainda participou dessa bagunça.

Alby lançou um olhar cortante para Thomas, que estava sentado com uma expressão defensiva.

— Eu esperava isso de Gally. — Alby continuou, a voz gotejando desprezo. — Sabia que ele nunca faria nada que prejudicasse Katherine. Entendo Newt, ele era amigo dela antes dela sumir. Mas Minho, você? Você deixa claro que odeia a menina! E Thomas, você mal a conhece!

Eu senti o olhar de todos sobre mim. A verdade é que eu não sabia exatamente o que sentia por Katherine. Não era ódio, mas também não era algo fácil de definir. Havia momentos em que sua presença me irritava profundamente, sua determinação parecia uma afronta. No entanto, havia também uma admiração relutante por sua coragem e pela forma como ela desafiava as normas da Clareira. Ela era um mistério, e isso mexia comigo de uma maneira que eu não estava pronto para admitir.

— Estou gostando mais dela do que de você. — Eu disse, a voz carregada de sarcasmo.

Enquanto eu tentava processar tudo isso, Alby continuava a falar, listando nossas transgressões como se estivesse recitando um mantra. Minha mente vagou por um instante, lembrando-me das vezes em que vi Katherine no Labirinto, a determinação em seu olhar, o jeito como ela desafiava o perigo sem hesitar. Ela não era apenas uma garota teimosa; ela era alguém que estava disposta a arriscar tudo para encontrar a verdade. E talvez, de algum modo, eu sentisse uma conexão com essa coragem.

Quando a vi ali, ao meu lado, desafiando Alby com tanta força, algo dentro de mim se agitou. Havia uma faísca, uma conexão que eu não podia ignorar, mas que também não sabia como lidar. E isso me assustava.

Katherine deu um passo à frente, seu olhar fixo em Alby, desafiador.

— Alby, o que você realmente está tentando esconder? — Perguntou Katherine, a voz firme. — Está claro que você não quer que a gente descubra a saída. Está com medo do que podemos encontrar lá fora?

Alby ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos nos de Katherine. Havia uma faísca de algo – talvez medo, talvez culpa – mas ele rapidamente recuperou a compostura.

— Não seja ridícula! — O ancião retrucou, mas havia uma hesitação em sua voz. — Estou tentando proteger todos vocês. Existem coisas que não entendem, coisas que podem ser perigosas.

— Proteger? — Katherine rebateu. — Ou está com medo do que pode acontecer se sairmos daqui? O que você lembra do mundo lá fora, Alby?

O olhar de Alby ficou sombrio, e eu percebi que Katherine havia tocado em um ponto sensível. Ele estava escondendo algo, algo que ele temia que soubéssemos.

— Vocês quebraram as regras e isso não pode ficar impune. — Alby anunciou, sua voz mais fria, mudando completamente de assunto. — Todos vocês serão punidos por isso.

— Punidos? — Gally explodiu. — Por tentar achar uma saída? Por tentar descobrir a verdade?

— Sim, punidos. — Alby confirmou. — Minho e Thomas, vocês estão permanentemente proibidos de serem corredores. A partir de agora, vocês vão trabalhar na Clareira como todos os outros.

Thomas e eu trocamos olhares de frustração. Perder nossos cargos de corredores significava perder nossa melhor chance de descobrir a saída do Labirinto. Era um grande retrocesso.

— Newt, você está destituído do posto de segundo no comando. — Alby continuou, sem sequer olhar para Newt, que ficou em silêncio, a expressão séria.

— Gally, você vai ser realocado para trabalhar na cozinha, junto com Caçarola. E Katherine... — Alby parou, seu olhar ficando ainda mais frio. — Você será isolada. Nada de interações com os outros Clareanos em momento algum.

O choque se espalhou pelo grupo. Ficar longe do Labirinto significava perder nossas chances de exploração, de buscar uma saída. Para Katherine, o isolamento era uma punição ainda mais cruel.

— Isso é injusto, Alby! — Newt protestou. — Estamos tentando ajudar todos nós!

— E eu estou tentando evitar um desastre! — Alby respondeu, a voz cheia de convicção. — Essa é a minha decisão final.

Katherine não recuou. Ela deu mais um passo à frente, desafiando Alby com cada fibra do seu ser.

— Alby, você sabe que isso não é apenas sobre as regras. Você está com medo do que podemos encontrar, e por isso está tentando nos manter aqui. Mas não vamos parar. Vamos continuar procurando pela saída, com ou sem sua permissão.

Eu o observei com atenção. Havia algo na sua postura, uma rigidez que traía sua preocupação. Ele não queria admitir, mas eu podia ver que Katherine estava certa. Ele estava tentando nos manter na Clareira, afastados de alguma verdade que ele não queria que descobríssemos.

Alby respirou fundo, tentando manter o controle.

— A reunião está encerrada. Cumpram suas punições e parem com essa insubordinação.

A reunião se desfez com um novo senso de propósito. Eu sabia que a estrada à frente seria difícil, mas pela primeira vez, senti que tínhamos uma chance real de encontrar a saída. E não importava o que acontecesse, eu estava determinado a enfrentar qualquer obstáculo ao lado daqueles que, apesar de tudo, estavam dispostos a lutar ao nosso lado.

Conforme nos dispersávamos, Katherine me lançou um olhar. Não era de desafio, como de costume, mas algo mais suave, quase vulnerável. Meu peito apertou, e eu não soube como responder. Apenas assenti, mantendo a expressão séria. A batalha que vínhamos travando era muito mais do que física. E eu sabia que, eventualmente, teria que confrontar meus próprios sentimentos confusos sobre ela.

Não consegui deixar de olhar para a loira, sua determinação era inquebrável. A postura de quem tinha um plano. Algo dentro de mim se mexeu novamente, uma mistura de admiração e confusão. Katherine era um mistério que eu precisava desvendar, tanto quanto o próprio Labirinto.

In My Veins | Maze Runner | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora