018

351 25 228
                                    

- Minho -

Katherine estava no banco do motorista, as mãos firmemente posicionadas no volante, mas ela não tinha a menor intenção de sair dirigindo enquanto não resolvesse a questão da minha ferida. A insistência dela em me fazer tirar a camisa estava começando a me deixar desconfortável. Não era medo do que ela poderia ver – eu já sabia que a ferida estava cicatrizando mais rápido do que deveria – mas sim porque eu não estava acostumado com tanta atenção. Já me machuquei várias vezes antes, mas nunca houve alguém tão preocupada com o estado da minha saúde. E definitivamente nunca alguém como Katherine.

— Minho, eu não vou sair daqui até você me deixar ver essa ferida. — A voz dela estava firme, mas havia uma suavidade que não passava despercebida. Katherine era sempre assim, teimosa e implacável, mas agora havia um cuidado, uma preocupação que eu não estava acostumado a ver.

Suspirei, tentando relaxar os ombros que haviam se tensionado. Parte de mim queria ceder, outra parte estava mais preocupada em manter as coisas sob controle, mas... quando foi a última vez que eu realmente consegui controlar algo ao redor dela?

— Eu estou bem, Katerina.

O nome saiu da minha boca antes que eu pudesse me segurar. Eu sabia o quanto ela odiava ser chamada assim na Clareira, mas também lembrava daquela madrugada, do jeito que ela quase implorou para que eu a chamasse assim de novo. No instante em que falei, os olhos dela se arregalaram ligeiramente, e eu vi aquele mesmo brilho confuso de antes. A mistura de surpresa, nostalgia e... algo mais. Algo que fez meu coração bater um pouco mais rápido.

— Você realmente espera que eu acredite nisso? — Retrucou, estreitando os olhos. Havia um pequeno sorriso nos seus lábios, mas o que chamou minha atenção foi uma nota mais suave na sua voz. Um sinal de que o nome a atingiu, mas de uma maneira que nem ela mesma parecia entender completamente.

Sorri, tentando aliviar a tensão.

— Muito empenho para uma desculpa para relar no meu corpo, hein? — Brinquei, inclinando-me um pouco para ela. — Não precisa disso. Quando me quiser sem camisa, é só dizer.

Ela revirou os olhos, mas o leve rubor em suas bochechas entregava mais do que palavras poderiam. O olhar de Katherine endureceu, e ela se inclinou ligeiramente para frente, o suficiente para eu sentir seu perfume.

— Tire a blusa antes que eu mesma arranque.

E ali estava a Katherine de sempre. Eu a observava, com a expressão determinada e o olhar desafiador, e não pude evitar um sorriso. Era difícil não gostar dessa versão dela.

Suspirei, sabendo que não havia como escapar daquela. Com movimentos lentos, comecei a desabotoar a camisa, observando o rosto dela enquanto fazia isso. Ela tentou não demonstrar, mas vi o modo como seu olhar seguia cada movimento meu, o leve morder de lábios que ela deu quando a camisa finalmente deslizou pelos meus ombros. Não pude evitar um sorriso, sabendo que ela estava prestando atenção em mim. E então, algo mudou. Seus olhos se fixaram em uma cicatriz específica, antiga, na lateral do meu abdômen. Uma lembrança compartilhada, mas que ela ainda não havia revelado para mim. Katherine ficou paralisada por um momento, como se o mundo ao nosso redor tivesse parado também. Eu senti a intensidade do olhar dela, a forma como seu peito subia e descia lentamente enquanto ela processava a memória que aquela cicatriz trazia. Ela tocou de leve o contorno da marca, os dedos hesitantes, quase como se estivesse pedindo desculpas sem palavras.

Katherine ficou ali, em silêncio, seus olhos correndo pela cicatriz como se estivesse tentando lembrar de algo, ou talvez tentando se conectar a uma memória que não queria deixar surgir. A intensidade em seu olhar me pegou desprevenido, e por um momento, senti como se estivéssemos sozinhos em um mundo onde apenas aquela cicatriz importava. Então, quase de repente, ela piscou, voltando à realidade.

In My Veins | Maze Runner | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora