In My Veins | Maze Runner | Livro 1

022

- Minho -

Estávamos reunidos em um canto mal iluminado, onde o ar carregava uma tensão que parecia vibrar entre nós. Newt, Gally e eu ocupávamos o espaço como sombras vacilantes, tentando nos ajustar ao que quer que fosse esse novo normal. Eu olhava para os dois, mas minha mente vagava para longe, presa em uma névoa de pensamentos que me mantinham à parte da conversa.

A verdade é que eu não estava tão interessado no que eles estavam dizendo. Não era por mal; Gally falava sobre como foram os dias sozinho, uma narrativa carregada de raiva contida e desapontamento, enquanto Newt ouvia com uma expressão que oscilava entre compreensão e cansaço. Talvez fosse pela expressão de Newt, ou pela forma como as palavras de Gally pareciam ecoar em um vazio que eu já conhecia bem, mas eu não conseguia focar.

Eu estava cansado. Não só fisicamente, mas mentalmente também. Tudo parecia um ciclo interminável de sobrevivência e lembranças que não se encaixavam direito, como peças de um quebra-cabeça que nunca terminava. E ali, no meio daquele diálogo que mal fazia sentido para mim, eu me perguntei se algum dia isso iria mudar.

Newt falava sobre seu estado de coma, sobre o que sentiu e não sentiu, sobre a culpa que ainda carregava. Parecia que todo mundo estava carregando algo, uma culpa ou arrependimento que se recusava a desaparecer, uma sombra que se agarrava aos nossos calcanhares. Me perguntei se algum dia conseguiríamos nos livrar dessas correntes invisíveis, ou se estávamos condenados a carregar o peso de cada decisão errada que tomamos, de cada vez que caímos nas armadilhas do C.R.U.E.L.

Então, Newt fez uma pergunta que me trouxe de volta, puxando-me da névoa para a conversa que eu estava evitando.

— E você, Gally? — Ele começou, sua voz suave e brincalhona. — Você e Katherine... tem alguma coisa?

A sala pareceu congelar por um momento. Eu vi a expressão de Gally mudar instantaneamente, seu rosto se contraiu em uma mistura de irritação, desgosto e desconforto. O silêncio que se seguiu era tão palpável que eu quase podia senti-lo pressionando contra minha pele.

Eu tentei fingir que não estava interessado, que aquilo não importava para mim, mas a verdade é que a pergunta de Newt mexeu com algo dentro de mim, algo que eu preferia deixar enterrado. Gally deu um sorriso forçado, um desses que só faz parecer que está mais irritado do que estava antes.

— Não tem nada entre mim e Katherine, Newt. — Gally respondeu, cortante. — E mesmo se tivesse, não é da sua conta.

Ele evitou olhar para mim enquanto falava, o que me fez sentir uma pontada de algo que eu não queria nomear. Eu sabia que Gally estava sendo honesto, ou pelo menos queria acreditar nisso, mas a ideia de Katherine com ele, ou com qualquer um, me fez sentir um calor incômodo se espalhando pelo peito. Era irracional, eu sabia. Mas ali estava, incômodo e crescente.

Eu me mexi, mudando meu peso de um pé para o outro, como se pudesse sacudir essa sensação para longe. Uma parte de mim queria permanecer ali, se envolver na conversa, talvez até dizer algo que fizesse Gally recuar ainda mais, mas outra parte sabia que isso era inútil, que só me prenderia em uma discussão sem sentido.

Gally continuou, sua voz ficando mais defensiva com cada palavra, enquanto Newt o observava com uma calma que só servia para deixá-lo mais irritado. Eu queria intervir, talvez aliviar a tensão, mas as palavras me faltaram. Na verdade, eu só queria sair dali. Eu não sabia o que me incomodava mais: a ideia de Katherine com Gally, ou o fato de que isso mexia comigo a ponto de eu querer dar as costas para eles e me afastar.

Eu suspirei, esfregando a nuca, sentindo o peso de tudo aquilo se acumulando mais uma vez. Talvez não fosse sobre Katherine ou Gally. Talvez fosse só mais um reflexo de todas as decisões ruins, de todas as vezes que deixamos escapar algo importante. Eu dei um passo para trás, as palavras de Gally ainda ecoando na minha mente, e fiz o que sabia fazer de melhor: eu me afastei.