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- Gally -

Estávamos todos reunidos na sala de reuniões, o ar pesado de tensão. Alby, que havia acordado de seu estado semi-comatoso, nos convocara assim que soubera da volta de Katherine.

— Precisamos decidir como lidar com isso. — Disse Alby, sua voz grave cortando o silêncio.

— E como pretende "lidar" com essa situação? — Questionou Minho, cruzando os braços.

Enquanto os outros discutiam, minha mente vagava. As memórias recuperadas do dia em que fui picado por um Verdugo voltaram à tona. Entre as visões distorcidas e a dor, havia uma verdade que eu nunca tivera coragem de revelar a ninguém, especialmente a Katherine.

O choque da descoberta ainda me abalava. Por que nunca nos contaram isso antes? E como eu, de todos os lugares, acabei no mesmo labirinto que ela? Havia uma explicação, eu só não recordava.

Eu estava planejando contar a ela antes de seu desaparecimento. Nunca consegui. Ela se foi antes que eu tivesse a chance de confessar. E agora, com toda essa confusão, eu me perguntava se algum dia conseguiria dizer a verdade.

— Eu vejo com meus olhinhos algo que está... — Era a vez do meu pai no jogo.

Estava em um carro, viajando com meus pais em uma noite chuvosa. O som da chuva batendo contra o vidro e o ronco do motor eram a única trilha sonora.

— Entediado. — Falei. — Envergonhado e possivelmente adotado.

A pessoinha ao meu lado me olhou e sorriu, não tardei em retribuir.

— É, esse provavelmente sou eu. — Completei.

— Pai, quando a gente chegar, que tal um restaurante?

Revirei meus olhos ao escutar a pergunta.

— Desse tamanho e só pensa em comida... — Resmunguei. — Quero ver como vai arrumar um namorado se continuar desse jeito.

Assim como eu, ela revirou os olhos.

— Belém, belém, — seu pequeno indicador alternava entre suas bochechas. — Nunca mais eu tô de bem. Mal, mal, agora só tô de mal. — Finalizou me mostrando a língua.

Ri, sabendo que não duraria muito. No momento que eu mostrasse um chocolate para ela, eu tinha certeza que toda aquela raiva sumiria em questão de segundos.

— Ei, vocês dois. — Minha mãe virou o pescoço em nossa direção. — Podem parar de discutir.

— Tá olhando para mim por quê? Eu não fiz nada. — Tentei me defender.

Ela me encarou como se soubesse de todos os meus pecados mais profundos.

— Já estamos chegando? — A mais nova perguntou, sem ligar para a bronca.

— Com essa chuva eu acho que o barco chega até nós bem rápido. — Foi o que me prestei a responder.

— Você conhece o ditado. — Era a voz do meu pai, olhando para mim pelo retrovisor. — Se não gosta do clima, espere mais cinco minutos.

Eu preferia esperar em casa, em um lugar seguro, mas não disse nada, apenas assenti.

— Não estou vendo nada. — Minha mãe anunciou. — Vocês conseguem ver alguma coisa? Acho que deveríamos parar.

Pelo menos alguém tem bom senso, pensei.

Assim que terminei meu pensando, uma buzina soou. Um caminhão vinha em nossa direção. Sem perceber, travei minha respiração.

In My Veins | Maze Runner | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora