Capítulo 27| Ian

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Ressentimentos e mágoas. Acompanham-me desde o dia da tragédia e temo que nunca me deixarão em paz. A escuridão tomou conta de mim e destruiu-me por completo. 

Há poucos motivos para eu acordar todos os dias e enfrentar os desafios da vida. Raros momentos onde me sinto bem e em paz. Nos últimos três anos, lutar pelo bem-estar da minha irmã manteve-me vivo. A felicidade dela foi sempre a minha prioridade, e o que me fez voltar a Itália. 

Nas últimas duas semanas, Mathilde tornou-se um fator de distração e, ao mesmo tempo, uma razão para estar vivo. Não consigo explicar o que aconteceu, porque é tão intrigante como incompreensível. Eu conheço-a desde que ela nasceu e nunca pensei que ao reencontrá-la iria despertar algo tão intenso dentro de mim. 

Ambos sabemos que não foram apenas algumas noites de prazer entre nós. A nossa conexão não se resume a atração carnal, mas infelizmente a nossa realidade é demasiado complexa para ela se permitir explorar isso. 

Eu entendo-a. Os seus receios, as suas preocupações, a sua hesitação. Mathilde ficou tão ou mais destruída do que eu e tem todo o direito de não se sentir preparada para uma relação. Contudo, isso não diminui a minha revolta.

Entrar em casa parece ainda mais difícil, como se o meu mundo estivesse a desabar aos poucos. Subo as escadas sem ligar as luzes, arrastando-me lentamente até à casa de banho.

A luz do quarto dela está ligada e é impossível não desejar estar com ela. Abraçá-la e sentir o seu cheiro a morangos. Enrolar o seu cabelo e admirá-la enquanto dorme.

Gestos tão simples que parecem ridículos, mas têm um valor especial. Pelo menos, tinham para mim, enquanto pude usufruir deles.

Afundo-me na cama, mas o meu corpo está demasiado tenso e a minha mente demasiado agitada. Não consigo estar confortável e perco rapidamente a intenção de dormitar para fugir dos pensamentos que me perseguem.

Levanto-me com rapidez e os meus músculos enrijecem com o movimento brusco. Os passos que se seguem são feitos por mim em modo automático.

Tiro a mala de baixo da cama e junto a pouca roupa que trouxe. Atiro tudo para cima da cama, sem me preocupar em dobrar cada peça e organizar tudo dentro da mala. Faço o mesmo com todos os produtos de higiene e alguma comida para a viagem.

Repito para mim mesmo que estou a tomar decisão certa e tento ignorar por completo os últimos dias, durante todo este processo.

Deixar Ivy para trás será talvez a escolha mais difícil que tenho de fazer, mas sei que ela ficará num lugar melhor, com pessoas que a amam e que vão fazê-la feliz.

Além disso, a minha irmã sabe que eu sempre estarei de braços abertos para a receber, onde estiver, independentemente de qualquer coisa. Se ela precisar de mim, sabe como me encontrar.

...

A viagem foi ao mesmo tempo longa e curta demais. Regressar a casa deveria acalmar-me, até porque nunca tinha estado tanto tempo longe da minha comunidade, mas tem o efeito contrário.

Sinto-me vazio, como se a minha alma tivesse ficado perdida algures pelos lugares onde passei.

O caminho para a mansão que herdei quando assumi a chefia da máfia é feito em silêncio, enquanto observo as gotas da chuva a escorrer pelos vidros do carro.

A solidão acompanha-me enquanto tiro a mala da bagageira e levo-a até à minha suíte. Está tudo exatamente no mesmo sítio onde deixei há pouco mais de duas semanas.

Rapidamente percebo que ficar sozinho seria um martírio e talvez o pior erro que eu poderia cometer. Eu não estava disposto a cavar a minha própria cova e afundar-me em algo que ainda não consegui rotular, mas é definitivamente deprimente.

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⏰ Última atualização: Jan 20 ⏰

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