Jay tinha mal pisado para fora da faculdade, ainda com a mente cheia de artigos, projetos e prazos apertados. Fazia dias que ele e Heeseung mal trocavam mensagens, e era visível que o tempo livre estava escasso para ambos. Mas hoje era diferente. Ele finalmente conseguiu uma brecha na agenda e decidiu fazer uma visita ao amigo.
Ao chegar, Jay notou algo estranho na expressão de Heeseung. Aquele ar abatido não combinava com o amigo que sempre tentava manter uma postura otimista, mesmo quando as coisas estavam difíceis. Ele ficou inquieto só de olhar.
— Eu tiro meus olhos de você por uns dias e já volto para te encontrar com essa cara de emo? Não gosto disso. Vai, desembucha! — Jay encostou-se à parede, cruzando os braços, a típica postura de quem estava pronto para fazer um interrogatório.
Heeseung sabia que não tinha como escapar daquela. Jay, apesar de todo o jeito despojado, era incansável quando se tratava de cuidar das pessoas que amava. Ele era como um pai, ou uma mãe, sempre presente, sempre oferecendo suporte, mesmo quando não era pedido. E se tinha algo que Heeseung não sabia lidar muito bem, era com a forma como o amigo o fazia se sentir genuinamente cuidado. Era um contraste gritante comparado ao que ele sentia dentro de casa, algo que ele evitava reconhecer. Ele ainda se agarrava à imagem de uma família feliz, mesmo que soubesse, no fundo, que isso era uma ilusão.
— O Jake... — Heeseung suspirou profundamente, as palavras pesando em sua garganta antes de sair. — Ele está de luto. Perdeu a mãe.
Jay, mesmo sem conhecer Jake tão bem quanto Heeseung, sentiu o impacto da notícia. Ele entendia bem a dor da perda. Não era preciso entender a fundo a relação de Jake com a mãe para sentir compaixão.
— Poxa, Hee... E onde ele 'tá agora?
— No quarto dele, no andar de baixo.
Jay franziu a testa, claramente mais perdido do que imaginava. O que ele tinha deixado passar enquanto estava imerso nas obrigações? Ele não estava por dentro de metade das mudanças na vida do melhor amigo.
— Quarto dele?
— É uma longa história. — Heeseung respondeu, esfregando as têmporas com uma expressão cansada. Parecia que o peso de tudo aquilo estava começando a esmagá-lo.
Jay descruzou os braços, aproximando-se devagar, com aquela presença sólida de quem nunca se apressava, mas sempre sabia a hora certa de estar perto.
— Eu sempre tenho tempo para as suas longas histórias. — Ele falou com uma leveza que quase fez Heeseung ceder àquela vontade de se abrir por completo, de simplesmente desmoronar ali.
A atenção e paciência de Jay, a maneira como ele sempre estava disposto a ouvir, faziam Heeseung sentir uma pontada de medo de acabar chorando, toda vez que a conversa ficava mais séria. Talvez fosse o fato de que Jay era o único que realmente via ele. De verdade.
— 'Tá... Eu vou falar. — Heeseung se deu por vencido, suspirando com o peso daquilo tudo. Não adiantava mais tentar fugir.
— Sou todo ouvidos. — Jay respondeu, sentando-se ao lado dele, sem pressa, como sempre fazia quando sabia que uma conversa complicada estava prestes a começar.
Os dois estavam sentados na beirada da cama de Heeseung, encarando a sacada cuja porta de vidro permanecia fechada por causa da chuva que castigava a cidade. O som das gotas batendo no vidro era quase hipnótico, e a atmosfera pesada do dia nublado parecia espelhar a alma de Heeseung. Ele se pegou distraído por um momento, pensando em como Jake devia estar se sentindo naquele exato instante, sozinho em seu quarto.
— Por onde você quer que eu comece? — Heeseung perguntou, a voz um tanto baixa, como se estivesse lutando contra o próprio cansaço.
— Tem tanto assunto assim? — Jay arqueou uma sobrancelha. — Eu não posso ficar muito tempo sem vir aqui, e você é péssimo em atender o telefone.
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Red looks good on you
FanfictionJake vivia uma vida miserável como assassino de aluguel. Ele era obrigado a carregar esse fardo para garantir a sobrevivência de sua mãe que tinha uma doença terminal. Entretanto, um serviço em especial mexeu muito com ele, e ele se viu perdido entr...