02. 赤

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A manhã fria em Seul despertou Jake mais uma vez, mesmo que seu desejo fosse dormir e nunca mais acordar.

Jake não tinha um prazo específico para cumprir o seu serviço, mas ele mesmo queria terminar o quanto antes por certas incertezas. Ele havia pensando em várias formas de se aproximar de Heeseung, mas nenhuma delas tinha um sentido sólido o suficiente para dar certo. A frustração estava o dominando.

ㅡ Se eu ao menos pudesse me infiltrar na casa dele como um dos funcionários seria ótimo, mas quem gostaria de contratar um maltrapilho como eu? ㅡ O Shim riu em escárnio do próprio pensamento. ㅡ Como você é idiota Jake, nem perfil para ser escravo de rico você tem.

Jake percebeu que para conseguir realizar esse pensamento tão desesperador ele teria que gastar um pouco do seu fundo de sobrevivência, o dinheiro que ele usava para se alimentar. Mas dane-se os direitos básicos do ser humano, se o governo está se fodendo para pessoas como ele, ele estaria se fodendo mais ainda, com tanto que ele conseguisse manter sua mãe bem em seus últimos dias.

Então, assim que pegou o dinheiro, saiu pela cidade em busca de bazares e brechós para procurar por roupas mais formais, dignas de um trabalhador "normal". Ele tinha pouca noção sobre formalidades e essas inutilidades, mas nada que pechinchas e dicas o fizessem passar por cima daquela situação.

ㅡ Senhor, bom dia! Você sabe se a residência dos Lee 's está contratando? ㅡ Jake questionou a um velhinho, dono de uma banca de jornais, enquanto fingia procurar por anúncios de emprego.

ㅡ Olha, meu jovem, aquela mansão é barra pesada. Sempre estão contratando pessoas novas, porque o nível de desistência lá é muito grande. Você acha que consegue encarar aquele pessoal? ㅡ Jake assentiu com prontidão. ㅡ Pelo o que eu sei, estavam contratando para os cargos de jardineiro, faxineiro e mordomo. Vou pegar o número da secretária para você.

Com o número em mãos, Jake agradeceu o homem com uma reverência. Após conseguir algumas roupas decidiu voltar para casa, para então começar os preparativos.

ㅡ O cargo de mordomo me parece bem interessante. ㅡ Jake sussurrou para si, enquanto um sorriso ladino surgia em sua face e ele se transformava em apenas mais um pessoa na multidão de corpos andantes.

[...]

Um novo dia nasceu relembrando Jake do mesmo pesadelo de sempre, a vida real. Os jornais não conseguiam retratar nem um terço de todo o terror que era a vida nas periferias e o Shim sabia disso como ninguém.

O rapaz teve que aprender a se virar sozinho desde criança pois, por infelicidades do acaso, sempre estava envolvido em brigas e em pequenas confusões. Não chegava a ser um grande lutador, mas tinha noções básicas de autodefesa e se virava bem em lutas corporais. As ruas haviam ensinado que para viver naquele meio você tinha que dar tudo de si, a não ser que você quisesse ser morto em um beco por um drogado qualquer.

Jake nunca chegou a usar drogas, consumir álcool ou derivados, mas em seu passado havia um histórico de ideações suicidas. E foi sua mãe, a mulher que agora se encontrava acamada entre a vida e a morte, que o deu mais um significado para viver. E ele viveria por ela até o último momento.

Jake achava que viver era um luxo que pessoas como ele não tinham o privilégio, e que morrer, talvez, fosse a solução mais eficaz. Mas ele não daria esse gostinho de vitória ao universo ainda, não sem antes levar algumas pessoas ruins para o mesmo inferno que ele iria.

ㅡ O que é necessário para ser um mordomo? será que eu tenho que ter um vocabulário refinado e todas essas palhaçadas? ㅡ Jake divagava em seus pensamentos enquanto caminhava, já trajado formalmente, em direção ao barbeiro, procurando estar o mais apresentável possível em sua entrevista de emprego. ㅡ Espero não ter que aguentar nenhum rico mesquinho me tratando igual cachorro.

Red looks good on youOnde histórias criam vida. Descubra agora