Capítulo 1

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Narradora

Na visão da Kylie o mundo girava, enquanto ela flutuava nele, as pessoas ao seu redor estavam tão imersas no álcool, que a forma como ela caminhava passava despercebida. O seu corpo balançava para a direita e para a esquerda, sincronizadamente, como se fosse uma sequência lógica e fácil de resolver. As cores estavam mais vivas, eram tão brilhantes que incomodavam os seus olhos castanhos, contornados com um tom vermelho. Ela piscava-os, pesadamente, tentando  amenizar a sensação de ardência e continuava a coçar o seu nariz, com tanta força, deixando-o vermelho.

Apesar da sua situação deplorável, ela sorria e acenava a todas as pessoas, mesmo àquelas inventadas por si, essas faziam parte do seu mundo feliz. Tentava encontrar a porta da saída, mas quanto mais caminhava, mais perdida ficava. De repente, a casa deixou de ser uma casa, transformou-se num longo labirinto indecifrável, as suas mãos tocavam em todas as paredes, enquanto ela, ainda, balançava ao sabor da doce sensação. Quando, finalmente, encontrou o que ela achava ser uma saída.

Encontrou uma cama vazia e deixou que o seu corpo caísse sobre ela, tão levemente, como se fosse uma pena. Deixou-se ficar deitada a observar o teto, que naquele momento já não era branco, mas sim um arco-íris. Ela sentiu os seus olhos a ficarem pesados e foi teletransportada para o mundo dos sonhos.

A Kylie ficou presa no seu mundo durante horas, quando finalmente sentiu a sua alma regressar ao seu corpo, acordou sobressaltada. Sentia o palpitar do seu coração, que parecia querer fugir de dentro do seu peito. Ela estava ofegante, tentava, inutilmente, recuperar o ar que perdia. O seu corpo tremia e suava, a jovem dos cabelos castanhos, sabia que precisava do seu milagroso "calmante". 

Levantou-se e direcionou-se para perto do espelho, cambaleava e tropeçava em objetos não identificados, por ela, naquele momento. Retirou um pequeno papel branco do bolso das suas calças, este que escondia o seu caminho para a felicidade, com as mãos a tremer quebrou o pequeno comprimido branco até que virasse pó. Quando isso aconteceu, ela aproximou o seu nariz dele e sugou-o, como se a sua vida dependesse dele. Certificou-se que tinha consumido todo o pó e quando sentiu aquela sensação voltar a preencher o seu corpo, suspirou de alívio, aos poucos a sua respiração voltava ao normal, o seu coração batia mais calmamente e a sua mente estava silenciosa. 

A Kylie não sabia, mas estava a ser observada por uma linda jovem de cabelos encaracolados, que a olhava assustada, tentando compreender o que estava a acontecer. Assim que Kylie percebeu a sua presença girou a cabeça para a observar, ficou espantada ao ver uma figura tão familiar à sua frente, era Malia, a sua antiga melhor amiga de infância. Elas já não se viam há anos. A raiva tomou conta do seu corpo, estava presa na sua garganta, sufocava-a, ela não queria, mas gritou:

- SAI! SAI DAQUI! - Kylie gritou para a Malia que a olhava assustada.


O corpo da Malia tremia por inteiro, ela não conseguia compreender o que estava a acontecer.

- EU JÁ DISSE PARA SAÍRES! - ela continuava a gritar, e a Malia com o choque não se conseguia mover, estava perplexa com toda aquela situação e com o estado em que a Kylie se encontrava.

A sua amiga de infância não era assim, ela era doce, sorridente e tão amável...e agora estava num estado deplorável...Quando ganhou forças, abandonou o local, lutando contra o seu instinto que lhe sussurrava para ficar.

A Kylie, por sua vez, observou o seu reflexo no espelho, enquanto levava a sua mão para perto do nariz e o coçava, enquanto fungava, saboreando aquela doce sensação, que ela tanto amava.
A sensação transportava-a para um mundo onde não existia dor, um mundo mais colorido, um mundo que anestesiava a sua alma...Um mundo onde ela era feliz....pelo menos até a doce sensação a abandonar, novamente.

Pov Malia

Acordei assustada, tinha acabado de ter um pesadelo horrível, a minha cabeça doía e eu quase não conseguia abrir os meus olhos, acho que bebi demasiado, ontem, na festa. Eu não gosto muito de festas e não gosto de beber, mas a minha amiga Morgan, suplicou-me para fazer a festa na minha casa e eu cedi ao seu pedido, e acabei por beber mais do que devia. 

Olhei em volta e percebi que não estava no meu quarto, estava na sala, que se encontrava desorganizada, coberta de garrafas pelo chão, restos de comidas e outras coisas. Ótimo, não vou poder descansar no meu último dia de férias, a casa já se encontrava vazia, ou seja, teria de limpar tudo sozinha. 

Eu cheirava a álcool, algo que eu detestava, então decidi tomar um banho quente e aconchegante. 

O cansaço, ainda, controlava o meu corpo, subir aquelas escadas foi como subir uma montanha. Quando, finalmente, cheguei ao corredor, reparei que a porta do meu quarto se encontrava aberta, o que era um sinal alarmante, porque eu tinha fechado a porta, na noite anterior. Será que alguém dormiu no meu quarto? Será que aconteceram coisas no meu quarto? Uma expressão de nojo surgiu no meu rosto ao pensar nessa hipótese. Respirei fundo e andei bem devagar, com medo do que poderia encontrar. 

O que eu encontrei no meu quarto, não era nada do que a minha mente tinha inventado, era algo pior, algo que me deixou petrificada. Realmente, alguém tinha dormido no meu quarto e esse alguém era a Kylie, a minha antiga melhor amiga de infância, que eu não via há anos. Eu não fiquei chocada com a sua presença, mas sim com as suas ações, ela estava a consumir drogas, parecia desesperada, fez questão de "aspirar" todo o pó branco com a sua narina esquerda, enquanto o seu dedo tapava a outra e com o tempo  foi ficando mais aliviada.  

Ela não tinha sentido a minha presença, porém, quando sentiu o peso do julgamento do meu olhar sobre ela, gritou para que eu saísse dali. O meu corpo ficou em alerta e tremia por inteiro, eu não conseguia me mexer, até que ganhei forças e saí do meu quarto, o mais depressa que consegui. Lutei contra o meu instinto, que sussurrava para eu ficar, mas eu sabia que se ficasse, algo poderia acontecer, ela estava fora de si. O seu estado era deplorável, o seu olhar vermelho e completamente vazio, o seu corpo estava demasiado magro e o seu rosto cansado, transmitia todas as mágoas que ela carregava. 

O que aconteceu à Kylie e por que ela escolheu refugiar-se nas drogas?

Autora

Consegui escrever o primeiro capítulo hoje, espero que gostem! 

Between Love and DrugsOnde histórias criam vida. Descubra agora