Nós resolvemos e passamos a noite toda no love, só ficamos em um empate babado com o nome da minha menina.
Eu falei logo, Íris ou Antonella. Mas meu bofe já descartou os dois, e deu as ideias dele, Helena ou Mariah. Então temos quatro possíveis nomes para nossa filha, Emerson mandou no grupo da família e o pessoal ficou mais indeciso ainda e eu adorei por que quem tem que escolher é nós dois.
Hoje tem baile aqui no morro meu bofe não queria ir mas quando eu disse que iria ele começou a dizer pra eu não ir e várias coisas mais. Não abaixei a cabeça por que eu não tava entendendo nadinha, e ele invés de conversar comigo queria me dá ordens, já fiquei bolada mas nada disse a ele.
Mandei mensagem pras meninas e elas disseram que não iriam então desanimei, mas mesmo assim me ajeitei bem bonita e já tava saindo e fui barrada na porta de casa.
Emerson: Tu não para, falei o que pra tu? Fica dentro de casa, tu gosta de me desafiar garota. – filho da puta todo de preto, armado até os dentes.
Thalia: Você não me explica as coisas amado, tu só quer me dá ordens invés de conversar comigo. – do nada uma sensação de perda me atingiu, certeza que hoje acontece alguma coisa.
Emerson: Foi tu mermo que disse que não queria saber nada sobre meus bagulhos, então só tem que ouvir o que digo e seguir. Fica dentro de casa, tudo trancado só abre se eu aparecer entendeu?
Thalia: Aí não vem com esses papo nada haver não, tá acontecendo o que? Onde você vai assim? Amor pelo amor de Deus em, no que você tá se metendo?
Emerson: Fica susa, vai ficar tudo bem. Se minha mãe aparecer ou tuas amigas tu deixa entrar, se não só eu entro entendeu? Tenho que ir preta, te amo pra caralho.
Thalia: Não vai ir não, você vai conversar comigo primeiro, vai sair assim do nada? Me deixando preocupada, já tô até passando mal Emerson. – comecei a soar frio, fica nervosa.
Emerson: Vamos receber uma visita dependendo do desenrolar, vai ter guerra, não queria tu aqui mas não deu tempo de te mandar pra longe. Fica em casa tá? Não fala nada com ninguém no WhatsApp e em lugar nenhum, se for falar com tuas amigas fala sobre outros bagulhos.
Thalia: Por favor não vai, fica com a gente, você sabe que não me entro nas suas paradas mas hoje tá um clima pesado. Olha como você tá vestido, parecendo que vai para guerra isso não vai dar bom amor.
Emerson: Vou só ajudar teu padrinho bagulho vai ser rápido não se preocupe, não entre em mato pra me procurar, me espere em casa se eu não aparecer em duas semanas tô morto, vai ter gente pra ir atrás do meu corpo se não acharem por que não sobrou.
Olha o que esse homem tá me dizendo, primeiro me diz pra não me preocupar, depois diz que tem gente pra achar o corpo. Que contradição é essa, não aguentei e comecei a chorar, bofe sentou comigo no sofá e ficou dizendo que me amava, fazendo carinho na minha barriga, conversando com nossa filha. Pedindo até pra colocar o nome de Pérola se ele não voltasse, estávamos tão bem, tão bem e vem essas coisas para atrapalhar a vida da pessoa.
Na minha mente isso era uma despedida, não tinha como não ser, ele falava se despedindo, eu chorando pra caralho e ele gravou um vídeo pra nossa filha dizendo que amava nós duas, que sempre ia tá com a gente.
Fiquei segurando ele por um tempo, meu dindo chamando ele no rádio toda hora e o mesmo não respondia, até que ele se soltou e saiu pela porta. Não pude fazer nada mesmo sabendo que meu homem poderia não voltar, mesmo sabendo que ele próprio já acha que tá morto.
Não demorou nem duas horas para o tiroteio começar, não tinha muito o que fazer a não ser pedir a Deus para que o meu marido voltasse para casa. Olhei todas as janelas e as duas portas estavam trancadas, subi pro quarto e tirei a maquiagem, depois tomei um banho.
As meninas me ligaram e ficamos conversando, por um tempo, mas logo decidimos desligar, era melhor do que tocar no nome dos meninos.
No twitter não falavam sobre outra coisa, mas ninguém sabia se algum alemão tinha invadido ou se era a polícia. Era torturante não saber o que estava se passando, se os meninos lá estavam bem ou se algum deles tinha morrido.
Eu tava muito mal e minha filha tava sentindo tudo de dentro da minha barriga, ela tava se mexendo pra caralho e eu tava me sentindo a pior mãe do mundo, todos os meus sentimentos indo pra ela que não tem culpa de nada. Fiz de tudo para me acalmar, orei, bebi água, comecei a escrever umas cartas pra minha filha, pro meu marido e pra mim mesma. Comecei a fazer isso há um tempo na real, pra abrir quando minha filha tiver quinze anos, um presente diferente.
Eu espero de todo o meu coração que não seja só eu e ela abrindo essas cartas, espero que o pai dela esteja lá. Espero que estejamos juntos, espero que essa noite passe logo e seja só uma lembrança ruim.
Essa foi a noite que mais escrevi, essa foi a carta mais longa que fiz pra minha filha, e nela tá toda a minha angústia, todo o sofrimento que tô sentindo hoje, o medo, a raiva, a saudades.
No meu pensamento até a separação veio, hoje sei o que é ser mulher de bandido, não sei se aguento mais outras noites dessa. Pessoal achar que ser mulher de bandido é lindo, que é só luxo e baile. Ninguém vê por trás, ninguém vê o sofrimento que sentimos, pelo menos as que realmente estão com os caras por amar e não por dinheiro.
Imaginei minha filha sem o pai, imaginei ela me perguntando qual o motivo dele não estar com ela, dele não ter largado essa vida por ela, do que por que ele ter escolhido o crime e não ela. Foi angustiante não saber as respostas para dar a ela, e eu fiquei me perguntando: é isso que quero pra minha vida? Pra vida da minha filha? Qual exemplo tô dando a ela? Como vou dizer que não é bom ela se envolver com esse tipo de gente se eu me envolve? Se o pai dela é desse meio? Passei a madrugada em clara com vários pensamentos, eu mesma tava me torturando.
Eu nem sei qual horário da manhã eu dormi, só lembro de estar olhando para o nada quando apaguei.
Meta de 25+ comentários.
O que estão achando do livro?Desculpa a demora, às vezes dá um branco e não consigo escrever nadinha.
Outras vezes dá um pique e escrevo vários capítulos.