Em que lugar serei amada assim?

Capítulo 78

Nos hospedamos em um hotel na cidade, só para a passar a noite. Ethan me perguntou se queríamos voltar para Dallas ou para San Francisco.

- Eu vou voltar para o Brasil – decidi. Os dois me olharam surpresos. – Eu sinto que devo fazer isso. Quero ver Maliah, terminar a faculdade, procurar um trabalho e viver minha vida.

- E voçe? – Ethan falou com a irmã. Carmen estava tão atordoada que decidiu fazer o mesmo.

- Eu...acho que vou ficar na casa da Vovó Jane por um tempo – ela murmurou.

- Me perdoe por aquela confusão – sorri humildemente.

- Eu também...fui muito obsessiva com voçe – ela me abraçou.

. . .

Ficamos nós duas, quando Ethan foi para seu quarto, deitadas na larga cama de casal. Havia passado tanto tempo que era estranho estarmos juntas novamente. Carmen, que sempre fora tão "faladeira", estava quieta.

"Senhor, aja", orei em pensamento. Eu não conseguia dormir, não conseguia fechar os olhos em paz. De repente, quando menos esperava, ouvi um ruído baixinho. Carmen estava chorando, certamente.

- Estava com saudades – falei. O ruído parou.

- Também estava – ela disse.

- Voçe está bem? – perguntei. Pareceu que minhas palavras atravessaram em seu coração de maneira profunda. Carmen entrou em uma crise de choro. Me sentei na cama e passei a mão sobre seus cabelos.

- Me conte. O que aconteceu?

- Por que está agindo assim? Tão... diferente? – ela se engasgou com as lágrimas.

- Por que eu fui curada, encontrei o amor perfeito e eterno. Das minhas feridas Ele brotar flores.

- Quem?

- Jesus. Me achei Nele e Nele sou completa.

Seus olhos se arregalaram. Estava surpresa, certamente. Quem diria que eu me tornasse cristã?

- Agora me conte. O que aconteceu? – perguntei pela segunda vez.

- Eu matei. – Meu coração gelou com aquele verbo tão pesado. – Antes de nos conhecermos eu conheci um cara, meu primeiro namorado, que me engravidou. Quando descobri a gravidez ele não gostou e me deu uma pílula...eu fui...TÃO IDIOTA! Se eu não tivesse tomado... – ela chorou copiosamente. Cada lágrima derramada era um pedaço de seu coração. – Ele morreu. Eu o vi...meu bebe. Eu destruí uma vida...aquele pedacinho de gente. O feto no chão...esbagaçado...MORTO.

Ela chorava em meus braços. E não posso negar que eu também chorava, por pena. Minha melhor amiga, estava perdida, sofrendo e com um peso enorme nas costas.

- Sou uma assassina! Eu não deveria ter tomado a pílula. Doí, isso doí. Lembrar daquilo no chão e saber que um dia seria um bebezinho lindinho. E eu procurava algo para me satisfazer, curar essa dor. Foi assim que me tornei essa prostituda desgraçada! – ela gritava em meio ao choro. Estava em pânico. – Eu deveria morrer no lugar dele!

- Não, voçe não deveria! – interrompi. – Ele te perdoa.

- Ele vai me condenar. Todos me condenam quando sabem disso - ela pôs as mãos nos olhos.

- Eu estava perdida, Carmen, mas Ele me encontrou. Estava suja, mas Ele me limpou. Estava condenada, mas Ele me salvou. O mesmo pode acontecer com voçe quando nos arrependemos de coração.

- Ele me condena – ela repetia com suas lágrimas molhando a colcha da cama.

- "Sua culpa de sangue, ainda não perdoada, eu a perdoarei" – o Espírito Santo dominou minha língua de forma maravilhosa. – "Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar a pedra nela", disse Jesus. Os que ouviram foram saindo, um de cada vez. Jesus se pôs em pé e perguntou-lhe: "Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?". "Ninguém, Senhor", disse ela. Declarou Jesus: "Eu também não a condeno. Agora vá e abandone sua vida de pecado". Seu erro nunca será maior que o perdão que Ele te dará.

Carmen, que estivera quieta me ouvindo, chorou quebrantada. Ela procurava perdão, e encontrou.