Capítulo 81

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MALIAH

Era um dia comum. Acordei, me arrumei, passei uma leve maquiagem, fiz um simples café da manhã e fui direto para o escritório. A maioria deve se perguntar se eu sentia saudades de Sarah. Claro, que sim! Ela não voltou para casa depois da última briga que tivemos. Procurei por Carmen, a amiga dela, no seu trabalho, mas tudo o que a empresa do restaurante Globo me comunicou era que ela estava de férias, fora isso nada me disseram. Me sentia culpada por isso, agi mal com ela. Sarah era só uma adolescente que estava no processo de amadurecimento. Eu deveria ter pegado leve, mas agora, não adianta mais.

. . .

Estava concentrada, trabalhando em uma causa, com os olhos vidrados no computador. Mal percebi a hora em que a porta se abriu e um cliente entrou. Vestia roupas humildes, calça jeans com um cinto de couro, camisa azul e um tênis.

- Bom dia – falei educadamente ao notar sua presença. Ele disse o mesmo. Estava parado me encarando, meio que boquiaberto e meio que espantado. Sua feição demostrava admiração. Ele tinha aparência de ser mais velho que eu, talvez entre uns cinquenta anos acima. Após continuar alguns minutos da mesma forma, pausei o trabalho, agoniada com a situação, para lhe dar atenção.

- Bom dia, senhor. O que deseja? – Ele pareceu ter despertado de um sonho. Coçou a cabeça sem graça e perguntou:

- Voçe é a advogada Maliah Andrade?

- Sim – ele suspirou profundamente quando respondi. – Posso lhe ajudar em algo?

- Eu sou Walter Andrade. – Meu corpo gelou, minhas pálpebras mal conseguiam se mover. Parecia uma estátua. Walter. Walter Andrade. Não podia acreditar no que meus olhos viam.



"- Mamãe, o papai disse que vamos poder passear no circo hoje! – as duas menininhas pulavam aos pés da mãe.

- Walter, meu querido – Abigail pôs as mãos na cintura, rindo, ao ver o marido atravessar a porta. – Voçe não disse que não temos dinheiro o suficiente para pagar coisas vãs? – ela lembrou do que ele disse na noite passada.

Walter riu.

- De vez enquanto não faz mal – deu uma gargalhada. – Maliah já foi para um circo, agora é a vez de levarmos a pequena Sarah.

- Sim, sim! – Sarah gritava, - Quero muito ir!

- E eu também! Gosto de circos! – completou Maliah".



- Pai?! – minha voz saiu com dificuldade.

- Sim, sou eu. – Ele tinha os olhos cheios d'água.

- O que faz aqui?! – indaguei, ríspida. Vê-lo fazia meu sangue pusar de ódio, sua covardia após a morte da mamãe me fazia odiá-lo a cada dia.

- Maliah – ele se aproximou com lentos passos até mim. – Vamos recomeçar. Eu me arrependi do que fiz a voçe e sua irmã. Me perdoe.

Perdão. Palavra difícil de se corresponder, principalmente para alguém como ele, que tornou minha vida tão complicada.

- Perdão? – Encarei-o com desprezo. – Perdão não faz com que cicatrizes de uma vida desapareçam. PERDÃO NÃO CURA! – gritei. Me faltava morrer de ódio. – Voçe é TÃO IDIOTA que ainda tem coragem de aparecer aqui e me pedir perdão! Eu nunca, nunca vou te perdoar.

Lágrimas vieram aos meus olhos. Não iria chorar na frente dele, claro, seria uma humilhação. Sai do escritório e o deixei ali, parado, sozinho. Queria que, de alguma forma, ele sentisse, mesmo que pouco, a sensação de abandono que senti tão forte em meu coração. Não tem como perdoar alguém que te abandonou no momento mais sofrido da sua vida.

Em que lugar serei amada assim?Onde histórias criam vida. Descubra agora