Capítulo 7

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Tudo virou de cabeça para baixo.

No início eu me acostumei a fazer nossa comida todos os dias, apesar de não ser uma delícia, era comível. Dan sempre aparecia na cozinha e me enchia de beijos e abraços. Me fazia lembrar dos meus pais, antes de minha mãe ficar doente. Eles se amavam, pelo menos era o que parecia. Minha mãe sempre ria quando sua barba fazia cócegas em seu pescoço.

As coisas começaram a dar errado quando ele saia de casa e voltava tarde da noite. Dizia que era o trabalho, mas nunca me dizia o que realmente trabalhava. Uma vez fui lhe perguntar isso e ele respondeu grosseiramente "não é da sua conta". Deitar ao lado de Dan começou a ser desconfortável, algo de errado acontecia. Era como se eu não existisse mais, ele nem me notava. A tristeza que eu tinha guardado e escondido nas profundezas do meu coração, voltou. Onde está o amor que habitava em mim há pouco tempo? Por que foi embora tão depressa? Por que não durou? "Coisas boas nunca durão, Sarah", papai costumava me dizer. Me senti na beira do precipício sem ninguém para me socorrer. Minha vida nunca deixa de ser uma porcaria.

Olhei para o celular. O relógio apontava meia-noite, Dan passou o dia todo fora e não mandou nenhuma mensagem. Entrei no quarto e tranquei a porta, depois deitei na cama e chorei. Às vezes, só o choro pode aliviar dores ou feridas na alma. Chorei tanto que peguei no sono e dormi por várias horas. Quando acordei, já me sentia um pouco melhor. Destranquei a porta e saí do quarto devagarinho e silenciosamente. Até que...

- Sarah?! – vejo Dan deitado no sofá e uma menina só com lingerie agarrada nele. Tremi da cabeça aos pés e meus olhos, cansados da madrugada, se encharcaram novamente. Senti puro ódio, não só da moça, mas do próprio Daniel. Fiquei em choque, parada feita estátua na frente daquela imagem repugnante, e não consegui dizer nada até algum deles falar algo a respeito.

- Vai sair ou não? – Dan interrompeu o silencio. Ele, aparentemente, não sentia vergonha.

- Como assim?

- Não quero mais você – aquela frase cortou meu frágil coração. Fui rejeitada descaradamente.

- Se você não me queria, por que me iludiu? – foi a única coisa que consegui dizer aos prantos.

- Me poupe, vai – ele deu uma gargalhada maldosa. – Por que espera que os outros te amem? Agora, sai.

Eu me sentia tão atordoada que deixei tudo para trás, saí da casa do jeito que estava: de moletom, que, a propósito, era de Dan. Fui para a praça e me sentei em um banco qualquer. Estava sem rumo. Não aceitaria voltar para a casa de Maliah. Então, liguei para Carmen aos prantos.

- Amiga? – ouvi sua voz do outro lado da linha. – Sarah você está bem? Sarah, responde.

- Ele...Dan... – foram as únicas palavras que saíram de mim.

- Ele fez o que? Te machucou?!

- Por que não me disse que ele não prestava? – gritei em meio a lágrimas.

- Eu... não sabia! – Carmen gaguejou. Senti que era mentira, ela nunca gaguejou daquela forma comigo.

- Está mentindo – conclui com uma fungada.

- Ah, Sarah – a ligação ficou silenciosa. Estava provavelmente chorando. – Me perdoa vai! – disse a voz choramingando, - você estava tão feliz que não quis falar nada. Não queria estragar sua felicidade. Me perdoa! – ela chorou. Desliguei a ligação, não conseguia falar mais nada, nem mesmo Carmen que chorava.

. . .

Quando a porta se abriu e vi Carmen o rosto molhado de lágrimas, corri para abraça-la. Não consegui falar nada, nem ela. Acabamos caídas no chão, abraçadas e chorando. Eu a perdoei ela, apesar de não ter dito em palavras. Amiga de verdade não se perde facilmente, afinal.

Em que lugar serei amada assim?Onde histórias criam vida. Descubra agora