Já fazia mais de uma semana que eu estava morando com Carmen. A casa dela era um lugar para eu me curar, curar a ferida que o Dan fez em meu coração. Estávamos sempre à procura de algo divertido para fazer, o objetivo era esquecer do que se tratava do passado. Fazíamos festa do pijama todos os dias e criávamos receitas inovadoras, que ficaram pateticamente horríveis. Parecíamos duas crianças, ríamos à toa e maratonávamos filmes e séries. Claro que nossa "vida de adulta" não nos abandonou, curtíamos nos dias de folga de Carmen. Eu definitivamente perdi meu emprego no shopping após não-sei-quando dias sem ir para o trabalho. Então, quando Carmen ia para o trabalho, eu ficava em casa assistindo séries e arrumando e limpando os cômodos.
- Tinha formiga na cama? – Carmen apareceu na cozinha de pijama, descabelada e com o rosto de quem acordou agora. Eu estava preparando o algo para o desjejum.
- Eu que deveria te perguntar se você está bem...já são dez horas, Sandiego! – exclamei indignada, como se isso não acontecesse comigo nos domingos.
- Me poupe vai! – resmungou passando as mãos sobre os olhos. – Fez o que para a gente comer?
- Bom, me desculpe, mas fiz uma panqueca e fritei um ovo, que eu não vou dividir com ninguém – dei um sorriso sínico.
- Sarah! Eu estou com fome! Que pirraça! – choramingou e eu ri do seu chilique.
- Se você tivesse acordado cedo... – ri. – Agora faça sua própria comida.
- Você é chata.
- Uma chatice amável – gargalhei.
- Argh! – Rimos por um bom tempo, era impossível Carmen não ser cômica.
Estávamos finalmente comendo quando alguém bateu na porta com força. Olhei para Carmen com os olhos arregalados de medo. Será que era o Dan? Carmen fez sinal para que eu ficasse em silencio e foi até a porta. Depois de mais uma batida, Carmen abriu a porta temerosa. Eu não era a única a estar com medo. Fiquei branca como papel ao ver Maliah.
- Sarah, vem – falou assim que me viu, ignorando totalmente a presença de Carmen.
- Para onde?
- Para casa.
- Aquela não é minha casa – respondi firmemente.
Maliah respirou fundo. Ela estava se controlando para não perder a paciência, assim como eu.
- Não importa, é meu dever cuidar de você, queira ou não – deu um passo à frente.
- Maliah, para, por favor. Eu já tenho idade o suficiente de...
- De o que? Querer fazer o que vier na telha? Você não tem maturidade ainda. Além disso você não estuda e nem trabalha, como vai se sustentar na vida? – sua voz se alterou.
- Eu faço o que EU quiser! Sei me virar!
- SEJA INDEPENDENTE ENTÃO! MAS NA HORA QUE PRESCISAR, NÃO CONTE COMIGO!
- Não vou mesmo! E não quero vê-la nunca mais!
Pou!. Maliah bateu a porta com força e foi embora. Carmen estava choque. Eu respirei fundo, mas meus olhos cintilaram e eu não aguentei. A única coisa que eu podia fazer para me sentir bem naquela hora era chorar. A raiva se transformou em lágrimas, e o choro aliviava o peso. Um peso que sinto desde que mamãe morreu, e que, apesar de eu tentar, nunca vai embora. Mas eu insisto. Mesmo sabendo o quanto meu coração está exposto ao sofrimento.
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Em que lugar serei amada assim?
RomanceQueria que a mamãe ainda estivesse comigo, queria que o papai não tivesse me abandonado, queria que minha vida fosse do jeito que eu queria. Por que o mundo me obriga a passar por tanta dor?! Uma vida vazia e sem sentido, essa era minha vida. Preci...