Já ouvi muitas pessoas por aí dizerem que houve uma transformação em suas vidas quando encontraram a beleza e a força verdadeira em si mesmas e a enalteceram. Acho que essa é a autoestima que tanto falam. Ah, o amor próprio! Não consigo sentir isso em mim. São tantas fraquezas e imperfeições que parece impossível se olhar no espelho e se agradar do cabelo ou do rosto redondo, que me faz parecer uma gorda! Mas isso não importa. Apesar de tudo, tento ser o máximo o melhor de mim, porque isso me traz satisfação. Se sentir valiosa, bonita e perfeita como as outras pessoas pensam de si mesmas é a única forma de ocultar as imperfeições.
O despertador começou a tocar, estridente no meu ouvido. São seis horas da manhã. Estou com sono e cansada; meus dias nunca foram tão interessantes. Levantei da cama bocejando e me arrumei. Após me sentir pronta, fui ao espelho e me observei atentamente: calça jeans, o velho tênis branco, a farda desbotada da loja e o cabelo ruivo com uma franja preso em um comum rabo de cavalo. Nada mal para alguém como eu. - Bom dia – digo ao encontrar Maliah fritando ovos na cozinha. – Tapioca?! – lhe lanço um olhar admirado ao ver um prato com duas grandes tapiocas.
- Enjoei de panqueca – respondeu dando ombros.
Maliah é minha irmã desde que me entendo como gente. Ela ficou no lugar da mamãe para mim. Nossa mãe morreu faz cinco anos, mas parece ter sido ontem. Ela se chamava Abigail, e tínhamos uma aparência parecida. Era adorável e sorridente, estávamos sempre juntas e ela me fazia rir a cada hora. Maliah, apesar de ser a primogênita, não tinha, pelo menos não demostrava, tanta conexão com ela como eu. Um brilho em seus olhos me fazia admira-la e querer sua presença a todo instante. Algo maravilhoso transbordava da alma dela, me pergunto qual seria seu segredo para estar sempre alegre; queria poder pergunta-la, mas agora é tarde demais para desvendar o mistério. Mamãe adoeceu, teve câncer e sofreu injustamente. Papai nos abandonou. Odeio ele, odeio sua capacidade de deixar suas duas filhas sozinhas no momento em que mais precisávamos de sua ajuda. Odeio ter que dizer que esse covarde é meu pai. Se ele realmente amasse a mamãe não teria feito uma maldade dessas. Enfim, após a morte da mamãe moramos com a nossa avó materna por um tempo, quando Maliah se formou em direito, trabalhando como advogada em um escritório minúsculo, ela alugou um apartamento para morarmos. Vou ser sincera de que conviver com uma colérica é demasiadamente complicado. Maliah tem um temperamento muito forte, é crítica, perfeccionista e, como todo o colérico, está sempre no liderando tudo o que pode. Sem falar, de que, quando se estressa, fica mal-humorada. Às vezes discutimos, porém não demora para que voltemos a ficar de boa uma com a outra.
- Quer um pouco de café? – ela me oferece uma xícara.
- Não, obrigada – agradeço, - seu café é forte demais para meu gosto.
Ela revirou os olhos com um sorriso que dizia claramente: "frescura". Depois do café entramos no carro. Geralmente a Maliah me leva ao trabalho e depois vai para o escritório dela, hoje, por exemplo, foi assim. Eu trabalhava em uma loja antiga de sapatos que tem no shopping da cidade. Não era um emprego dos sonhos e nem dava tanta renda, mas era o que tinha e, para mim, era o suficiente. - Te pego no horário de sempre – Maliah diz antes de arrastar o carro e eu iniciar a trajetória rotineira até o centro do shopping, onde fica a loja. - Sarah! – ouço uma voz gritar meu nome. É Carmen. Ela é minha amiga, ou melhor, única e melhor amiga. Ela trabalha em restaurante não muito distante da loja, razão pela qual nos conhecemos facilmente.
"- Boa tarde – digo ao me aproximar de uma jovem funcionária do restaurante Globo. – Qual o cardápio
de hoje?
- Olá! Hoje temos comida italiana. Um cardápio de massas: pizza, macarronada e lasanha.
- Uau. Aceito uma pizza.
- Se eu fosse você não pediria isso – ela piscou.
- Por que?
- Temos uma macarronada que está uma belezura! Com um molho de tomate saboroso, almôndegas deliciosamente maravilhosas e um tempero direto da Itália – ela me disse com um sorriso convincente e persuasivo. Eu ri, mudei de ideia e pedi a macarronada.
- Tome e aproveite! – disse a moça quando entregou a bandeja de comida.
- Obrigada – agradeci. – Eu trabalho na loja de sapatos aqui próxima. Qual seu nome?
- Carmen.
- Minha nossa encontrei a Carmen Sandiego tão facilmente assim?
- Oh! – ela riu. – E a propósito, qual seu nome, caçadora de ladras?
- Sarah".
- Amiga, você não viu minhas mensagens?! – ela fala em tom indignado. - Você sabe que nunca olho o celular de manhã – resmungo. Ela sempre esquece esse detalhe. Carmen revirou os olhos de maneira impaciente. Antes que pudéssemos conversar mais, ouço Miguel, meu chefe, me chamar, e nós, infelizmente, tivemos que nos separar.
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Em que lugar serei amada assim?
RomanceQueria que a mamãe ainda estivesse comigo, queria que o papai não tivesse me abandonado, queria que minha vida fosse do jeito que eu queria. Por que o mundo me obriga a passar por tanta dor?! Uma vida vazia e sem sentido, essa era minha vida. Preci...