🐍CAPÍTULO 1🌹

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ALESSIA BELLINI

Eu sonhei outra vez.

Sonhei com aqueles olhos castanhos-esverdeados profundos, olhos de quem ama com extrema devoção. Eu ainda penso naqueles olhos enquanto tomo café da manhã sozinha, ou quando saio para dar um passeio pelo jardim. Ainda imagino eles fixados em mim, mesmo quando meu noivo está em casa. Mas aqueles não são os olhos de Gabriel. Os olhos dele são castanhos-escuros sem qualquer vida, e eles não carregam tanta devoção, apenas desejo de possuir. Eles não deixam a entender que por mim seria capaz de colocar fogo no mundo como nos livros, na verdade, ele deixa a entender que colocaria fogo em mim caso tentasse fugir dele outra vez.

Não é surpresa alguma que Gabriel não sente qualquer coisa por mim além do puro desejo de me ter presa a si, mas é a primeira vez que o vejo tão agitado enquanto olha pela janela do nosso quarto durante os dois anos que me manteve presa longe de todos. Nos primeiros meses passei acorrentada na cama, porque ele não confiava muito em mim. Não conseguiria ir longe nem se tentasse, mal era alimentada e quando era mal conseguia manter no estômago.

Com o tempo Gabriel começou a fazer jantares todas as noites em sua casa, em todos eles eu tinha que comparecer e fingir ser apaixonada por ele. Ah, como ele odiava quando se dava conta de que eu não o amava e do que estava fazendo comigo.

Já deitada na cama, expulso a coberta do meu corpo agitando as pernas para depois me colocar de pé e seguir até o banheiro. O silêncio desta casa é sombrio, pouco me incomoda, mas não deixa de transparecer que por muitas vezes, vivo com fantasmas. Olho para o grande espelho do banheiro, observando os traços da tatuagem de uma cobra enrolada em uma rosa vermelha entre os seios.

Tateio os traços daquele desenho detalhado e lindo, buscando na memória o exato momento em que ela foi feita, mas não há nada. Tudo que me lembro é de ir festejar com minhas amigas e acordar no dia seguinte com uma tatuagem enorme no peito.

Gabriel a odeia por algum motivo que não ousou me dizer. Na maioria das vezes, prefiro que ele não diga uma só palavra. Ouvi-lo já faz meus ossos tremerem e me render a um ciclo de horror. Pelos últimos dois anos, vivo com a sensação de morar com o inimigo. Recentemente, Gabriel nunca está em casa, são nesses dias que tenho tempo para sonhar com uma liberdade que nunca chega. E também, tempo para pensar no homem de olhos profundos que sempre acabam me fazendo acordar com lágrimas nos olhos com algum tipo de saudade.

Eu me perguntava o seu nome, como era seu rosto além dos olhos de grandes emoções. Me perguntava se era algum tipo de consolo dos céus para o grande inferno que eu estava passando. 

Encaro meus próprios olhos no reflexo daquele espelho, no corpo um pouco mais magro do que deveria, nos cabelos longos um pouco ondulados quase sem vida, e nos olhos castanhos profundos que parecem implorar por uma gota de vida. 

Eu pareço a escultura de uma mulher caindo aos pedaços. Fecho os olhos e respiro mais um pouco, faço devagar, sem pressa alguma para sair daquele banheiro, até que a voz de Gabriel ressoa dentro do quarto em um tom explosivo que nunca havia presenciado. A porta do banheiro é empurrada com força, e nos olhos de Gabriel sei que há alguma coisa errada.

ENRICO VITALE

HORAS ANTES...

— Vitale, seu filho da puta!

Eu considero uma arte a capacidade de um ser humano prestes a morrer ter força o suficiente para me xingar com tamanho ódio. Ele deveria usar suas forças para tentar se manter vivo, esperar como um sonhador porco por seu resgate que claramente, nunca chegaria. Não quando ele está em meu território e veio de boa vontade até mim.

🐍🌹A FERA DE ROMA🐍🌹 •EM ANDAMENTO•Onde histórias criam vida. Descubra agora