ALESSIA BELLINI
— Alessia…
O chamado me traz um embrulho no estômago, como jamais senti. Está frio e meus pés estão descalços enquanto corro por um corredor que mais parece um labirinto.
— Amore mio, volte aqui…
Ele cantarola. Sou um pequeno rato fugindo, tentando sobreviver. A voz de Gabriel me assombra, ouço sua risada cruel cada vez mais perto. É o suficiente para me trazer desespero, minha respiração se torna ofegante. Apresso meus passos, ouso olhar por cima do ombro vendo a silhueta daquele homem atrás de mim.
— Alessia… — ele insiste, arrastando as sílabas com prazer doentio. — Você sabe que não pode fugir de mim.
Viro bruscamente à esquerda, sem saber se é o caminho certo. Nada ali parece ter fim. As paredes apertam, o ar fica mais denso, pesado. Estou ficando sem fôlego, sem direção, sem forças. Mas continuo. Preciso continuar.
Uma porta.
Ali, à frente. Entreaberta, com uma luz fraca escapando por frestas amareladas. Corro até ela como se minha vida dependesse disso, porque depende. Não posso voltar ao meu pesadelo.
Empurro a madeira com força e entro, batendo a porta às minhas costas. Tranco. Três vezes. Encosto a testa contra a madeira e deslizo até o chão. Meus pulmões imploram por ar. Meu corpo treme. Mas por um momento, apenas um instante, penso estar segura.
— Você sempre escolhe os esconderijos errados, amore…
A voz vem de dentro do quarto. Meu estômago despenca.
Me viro, devagar, com os olhos arregalados.
Ele está lá. Sentado em uma poltrona, à sombra, com um sorriso preguiçoso e os olhos cravados em mim. Como se nunca tivesse me perdido de vista.
— Vamos ficar juntos para sempre.
— Não, por favor! — o grito escapa da minha garganta com toda a força que ainda resta em mim. — ALGUÉM ME AJUDA! POR FAVOR!
Mas o quarto escurece, o ar some, e Gabriel se levanta com calma, como se já soubesse o fim daquela corrida. Seus passos são lentos, implacáveis. Meu corpo congela, a porta trancada atrás de mim já não serve de nada. Tento me mover, mas é como se o chão me prendesse. A sombra dele cresce, toma tudo ao redor. E quando sua mão se estende na minha direção…
— Alessia! — uma voz forte, real, me puxa de volta.
Abro os olhos num sobressalto, arfando, o suor escorrendo pela testa. Meu corpo ainda está em alerta, mas já não há corredores, portas ou risadas ao meu redor. Só o som do próprio coração descompassado… e o calor das mãos que me seguram.
Os olhos castanhos esverdeados estão ali, bem diante dos meus.
Aqueles olhos.
Os mesmos que eu via nos sonhos. Não os pesadelos, mas aqueles momentos breves de esperança que me visitavam quando eu vivia presa. Eram como um refúgio, uma lembrança distante de algo bom. De alguém bom.
— Está tudo bem — a voz dele é firme, mas baixa, como se temesse me assustar mais. — Sou eu, Enrico. Você está segura.
Demoro um segundo para acreditar. Minhas mãos agarram os lençóis, meu peito sobe e desce em desespero. Ele está ajoelhado no centro da cama, com o corpo inclinado sobre o meu. As mãos grandes e quentes envolvem meus braços, me ancoram. O olhar preocupado não desvia, Enrico sequer não pisca.
Meus olhos se fixam nos dele, e pela primeira vez desde que acordei… eu respiro.
— Você… — minha voz falha. — Você estava nos meus sonhos…
VOCÊ ESTÁ LENDO
🐍🌹A FERA DE ROMA🐍🌹 •EM ANDAMENTO•
Romance18+ Ele é movido pela sede de vingança. Ela anseia desesperadamente por liberdade. Após passar anos aprisionado em Ekbram, Enrico Vitale enxerga uma chance de retornar a Roma e buscar vingança pela tragédia que levou sua família e noiva. Em meio ao...
