🐍CAPÍTULO 7🌹

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ALESSIA BELLINI

Tropeço nos próprios pés quando sou empurrada para dentro do cômodo. Um latejar incômodo percorre meu braço – cortesia do novo guarda que vigia minha porta na ausência de Kendrick.

A porta se fecha atrás de mim com um estalo seco, substituindo a expressão carrancuda do homem pela frieza impassível da madeira. Meu coração dispara. Respiro fundo, tentando avaliar o ambiente ao meu redor. O escritório de Vitale.

Então, a cadeira à minha frente gira lentamente. Ele me encara com um desinteresse calculado, como se minha presença fosse apenas mais um detalhe irrelevante em sua noite.

— Me diga, ragazza... — Sua voz é suave, perigosa. — O que estaria disposta a fazer para sobreviver?

A pergunta me atinge em cheio, desprevenida.

— Como é?

Vitale não repete. Apenas me observa, impassível.

— Você disse ter uma proposta para mim — continua, o tom preciso, ensaiado, como um ator no auge da performance. — Estou ouvindo.

Meu estômago se revira, e uma onda de calor sobe pelo meu pescoço. Sei que preciso manter a compostura, mas a presença de Vitale tem um peso esmagador. Ele não apenas me olha,  ele me estuda, desmonta cada detalhe meu com aqueles olhos frios e calculistas.

Engulo seco e firmo os pés no chão. Não posso hesitar.

— Eu quero negociar — digo, mantendo a voz firme apesar da pressão no peito.

Se ele se surpreende, não demonstra. Apenas se recosta na cadeira, os dedos tamborilando no braço de couro.

— Interessante — murmura. — Mas me pergunto… o que exatamente você acha que tem a oferecer?

Minhas mãos se fecham em punhos ao lado do corpo. Eu sabia que essa pergunta viria, mas ainda assim, ela me desestabiliza. O que um homem como Vitale quer? O que eu poderia ter que ele não pudesse tomar à força?

Respiro fundo.

— Tudo que posso oferecer, é a mim mesma.

Uma sobrancelha se arqueia em um interesse vago, e um pequeno sorriso puxa o canto de seus lábios.

— Ah, bella, que previsível.

O desprezo na voz dele me dá vontade de avançar sobre sua mesa e sacudi-lo, mas me contenho.

— Não tenho riquezas, armas, nem segredos valiosos — continuo, mantendo o olhar fixo no dele. — Mas tenho algo que você precisa. Minha lealdade. Eu sei que você está em guerra contra Gabriel, e sei que se me chamou aqui, é porque ele está vindo para me pegar.

O sorriso desaparece.

Agora tenho sua atenção.

Ele se inclina para frente, os cotovelos apoiados na mesa, o olhar perfurando o meu como uma lâmina afiada.

— E por que eu deveria acreditar na sua lealdade?

Meu coração bate descompassado, mas não posso fraquejar agora.

As palavras saem firmes, seguras. Ele percebe.

— Eu trabalho para você — prossigo. — Minha obediência, minha lealdade serão suas. E quando tudo isso acabar, quero minha liberdade.

O silêncio que se instala entre nós é denso, pesado como chumbo. Vitale me observa por um longo momento, os olhos analisando cada nuance do meu rosto. Então, solta um suspiro lento, quase entediado, e se recosta na cadeira outra vez.

🐍🌹A FERA DE ROMA🐍🌹 •EM ANDAMENTO•Onde histórias criam vida. Descubra agora