ALESSIA BELLINI
Sob o amparo silencioso de Enrico, atravessei novamente os portões da mansão que um dia pensei jamais voltar a ver. O mesmo lugar onde tantas coisas terminaram... e onde, agora, tudo parecia recomeçar.
Ele mantinha-se atento a cada detalhe, ao modo como eu andava, respirava, hesitava. Se eu vacilasse por um segundo, seus olhos já estariam nos meus, vigilantes e protetores, como se apenas sua presença pudesse evitar que eu me quebrasse de novo.
Apesar do ombro deslocado, do tornozelo ferrado e da dor pulsando na base do crânio, eu me sentia inteira. Os arranhões da fuga não eram nada perto do que poderia ter acontecido. E não foi sorte que me salvou. Foi ele.
Enrico.
A tempestade em que me perdi… e o porto seguro onde, contra todas as probabilidades, encontrei abrigo.
A casa estava em silêncio, mas não era um silêncio comum. Era denso, carregado de memórias, como se cada parede lembrasse do que aconteceu… e observasse meu retorno com o mesmo cuidado que Enrico.
Parei na entrada da sala e olhei ao redor. Tudo parecia igual, mas eu não era mais a mesma. Ainda assim, ali havia algo que me puxava, como se aquele espaço estivesse me esperando.
— Tem certeza que não quer ir direto para o quarto? — a voz de Enrico veio baixa, perto do meu ouvido.
Virei um pouco o rosto e encontrei seus olhos. Estavam cansados. Cansados e cheios. De medo, de raiva, de alívio. Mas também de uma ternura que ele tentava disfarçar, em vão.
— Quero ficar aqui um pouco — respondi.
Ele assentiu devagar, sem discutir. Mas eu vi o jeito como ele olhou pro sofá, como se já estivesse calculando se o lugar era seguro o bastante pra me deixar por alguns minutos.
Me afundei no estofado devagar, tentando não fazer o tornozelo reclamar. Enrico continuou em pé, por perto. Me observando. Como se deixar de olhar fosse o mesmo que me perder de novo.
Foi aí que Kendrick entrou. Os passos firmes, o rosto sério. O mesmo de sempre. Mas seus olhos, quando pousaram em mim, suavizaram por um segundo. Um só.
— Estou feliz que você está viva, Alessia — disse, direto.
— Eu também — murmurei, a voz falhando um pouco.
Ele assentiu, quase imperceptível, e então olhou para Enrico. Um daqueles olhares curtos, que diziam mais do que qualquer palavra. Enrico entendeu na hora.
Suspirou, longo e pesado. Como se o corpo inteiro estivesse implorando pra não sair dali, mas a mente lembrasse que ainda tinha sangue pra cobrar.
Ele passou a mão pelo rosto, cansado, e só então falou, com a voz arrastada:
— Marina.
Minha velha amiga apareceu quase no mesmo instante, como se já estivesse por perto, esperando ser chamada. O olhar dela correu até mim com um misto de alívio e dor.
Enrico se abaixou à minha frente, tocando meu joelho com cuidado.
— Eu queria ficar aqui com você — ele disse, com aquele cansaço amargo preso na garganta — mas preciso resolver… aquilo.
Eu sabia o que ele queria dizer. Os homens. Aqueles que tinham vindo me levar de volta.
— Vai — sussurrei. — Eu tô bem.
Ele me encarou por um segundo a mais, como se quisesse gravar meu rosto, garantir que quando voltasse eu ainda estaria ali, respirando.
Então se inclinou e deixou um beijo demorado na minha testa, a mão ainda firme sobre meu joelho.
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🐍🌹A FERA DE ROMA🐍🌹 •EM ANDAMENTO•
Romance18+ Ele é movido pela sede de vingança. Ela anseia desesperadamente por liberdade. Após passar anos aprisionado em Ekbram, Enrico Vitale enxerga uma chance de retornar a Roma e buscar vingança pela tragédia que levou sua família e noiva. Em meio ao...
