ENRICO VITALE
Eu não saberia dizer quanto tempo fiquei ali, jogado no chão daquele escritório agora revirado, como se um furacão tivesse passado. As palavras ecoavam dentro da minha cabeça como gritos abafados, e tudo parecia girar. Eu estava zonzo, não de cansaço, mas de incredulidade.
Como eu poderia encarar nos olhos a mulher que amo depois do que ouvi?
Ela tem a idade que minha irmã teria agora, se estivesse viva. Vinte e três anos. Vinte e três. A idade congelada na memória da dor.
A minha irmãzinha.
E a melhor amiga dela...
Aimee.
Não. Não pode ser.
Isso seria cruel demais. Impossível.
Eu saberia. Deus, eu teria que saber. Se Alessia fosse Aimee, eu sentiria algo. Um arrepio. Um lampejo de memória. Um sinal.
Mas... e se eu já estivesse sentindo e me negava a ver?
— MERDA! — rugi, chutando o livro no chão com tanta força que as páginas se espalharam como fragmentos de mim mesmo.
Não sei como me sentir. Não sei o que pensar. É como se estivesse caminhando dentro de uma neblina espessa, onde tudo parece fora do lugar, até o próprio tempo.
Me levantei com esforço, como se meu corpo estivesse tão pesado quanto minha consciência. As revelações me atingiram como estilhaços, pequenas verdades afiadas que se cravaram em mim.
Eu achei que, ao confessar meu amor por Alessia, finalmente tudo se encaixaria. Que talvez o destino estivesse, enfim, me dando uma chance de recomeçar.
Ilusão tola.
Como um homem como eu ousa pensar em felicidade?
Ela pode ser irmã do meu melhor amigo. Filha do Consigliere do Don.
E, se for Aimee... Meu Deus. Se for Aimee.
O pensamento me engole por dentro.
Eu não deveria tocá-la.
Não deveria sequer respirar o mesmo ar.
Antes de tê-la, eu teria que morrer.
Saí daquele escritório como um fugitivo, atravessando o frio da noite sem sentir o vento no rosto. Meus homens faziam a ronda habitual, mas desviaram o olhar, como se soubessem que algo havia quebrado dentro de mim.
Meus passos me levaram ao jardim, e depois, quase sem perceber, entrei na casa em silêncio furioso. Subir as escadas foi um esforço hercúleo. Cada degrau era um peso, cada passo um confronto com o que eu não queria aceitar.
No fim do corredor, parei.
Respirei fundo.
Mas não havia ar suficiente no mundo para preparar meu coração. Minhas mãos tocaram a maçaneta e, antes que eu pudesse me conter, abri a porta.
E lá estava ela.
Alessia.
Sentada na beira da cama, com os joelhos encolhidos, como uma criança perdida. Seus olhos vagavam pelo chão, distantes, aflitos, até encontrarem os meus.
E quando encontraram...
Eu quase desmoronei.
Ela se levanta assim que me vê, os olhos inquietos, o corpo meio curvado, como se algo nela soubesse que tem um desastre vindo, mesmo sem entender de onde.
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🐍🌹A FERA DE ROMA🐍🌹 •EM ANDAMENTO•
Romance18+ Ele é movido pela sede de vingança. Ela anseia desesperadamente por liberdade. Após passar anos aprisionado em Ekbram, Enrico Vitale enxerga uma chance de retornar a Roma e buscar vingança pela tragédia que levou sua família e noiva. Em meio ao...
