ALESSIA BELLINI
A noite passou sem que o sono realmente viesse. Fiquei ali, deitada, encarando o teto como se ele tivesse alguma resposta que eu ainda não conseguia alcançar. As palavras dele ecoavam na minha mente e o modo como me olhou, como se enxergasse algo que nem eu mesma compreendia.
O silêncio era traiçoeiro, preenchido por pensamentos que eu não queria admitir. Sentimentos que pareciam florescer no terreno errado, em meio a ruínas e feridas ainda abertas.
Quando o sol começou a insinuar sua presença pelas frestas da janela, levantei. A cabana estava mergulhada em um silêncio estranho, como se até ela soubesse que havia algo mudando.
Não sei exatamente o que eu esperava encontrar ao descer, mas parte de mim ansiava e odiava ansiar por sua presença.
Desci em silêncio, guiada por algo que não era razão, apenas o desejo de verificar se ele ainda estava ali. Algo dentro de mim se abalou, assim que encontrei-o na sala, vestindo um sobretudo escuro e luvas de couro, como se estivesse prestes a enfrentar o próprio inferno.
Ele ergueu os olhos quando me viu. Não sorriu, mas também não pareceu indiferente.
— Achei que ainda estivesse dormindo — disse ele, com a voz rouca da manhã.
— Não consegui — respondi, cruzando os braços. — Já está indo?
— Sim. Preciso resolver aquela coisa antes que possa levá-la de volta.
— Não gosto quando fala dessa forma.
Ele me observou por um segundo a mais do que o necessário. Depois caminhou até uma pequena mesa onde ajeitou a arma no coldre, com precisão quase meticulosa.
— Não precisa gostar. Aqueles homens que tentaram levá-la, quero garantir que nunca mais cheguem perto de você — respondeu sem rodeios. — E que sirvam de aviso para qualquer outro imbecil que pensar em tocá-la.
Um arrepio percorreu minha espinha. Não pelo que ele disse, mas pela frieza com que disse. Havia algo protetor naquele gelo, algo que me fazia sentir segura, mesmo sabendo do que ele era capaz.
Uma mulher como eu, não deveria se sentir assim em relação a um homem como ele.
— Vai matá-los?
— Não hoje — respondeu, enquanto pegava o relógio de pulso. — Hoje será apenas uma introdução.
— E depois disso?
Ele se aproximou devagar, até ficar perto o suficiente para que eu sentisse o cheiro amadeirado de seu perfume.
— Depois, você volta comigo para casa. — Fez uma pausa. — Não gosto da ideia de você fora do meu alcance.
— Isso é uma ameaça? — perguntei, tentando soar firme.
— É um aviso — ele disse, os olhos fixos nos meus. — Mas também pode ser um pedido, se você quiser ouvir dessa forma.
Por um segundo, tudo parou. O ar entre nós parecia eletrificado, carregado de coisas não ditas.
Então ele se afastou, caminhando até a porta.
— Você fala isso como se fosse normal — murmurei, antes que ele pudesse alcançar a porta.
Ele parou, a mão já na maçaneta. O silêncio entre nós se esticou, denso como fumaça.
— O quê? — Sua voz soou baixa, quase arrastada, como se já soubesse exatamente o que eu queria dizer.
— Torturar pessoas. Machucar até que implorem por misericórdia. Você fala como se fosse... parte da rotina. Como se fosse só mais um passo no seu dia.
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🐍🌹A FERA DE ROMA🐍🌹 •EM ANDAMENTO•
Romance18+ Ele é movido pela sede de vingança. Ela anseia desesperadamente por liberdade. Após passar anos aprisionado em Ekbram, Enrico Vitale enxerga uma chance de retornar a Roma e buscar vingança pela tragédia que levou sua família e noiva. Em meio ao...
