🐍CAPÍTULO 11🌹

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ALESSIA BELLINI

Inesperadamente, o quarto havia sido tomado pela noite fria. A coberta não era das mais grossas, mas bastava para me manter viva até o amanhecer. Ajeitei o corpo sobre a cama, ainda com os pensamentos presos ao rosto perturbado de Enrico, à descoberta da morte de sua família… e de sua noiva.

Era difícil imaginar que um homem tão duro como ele tivesse sido capaz de amar alguém. Isso me fazia questionar se Enrico sempre foi assim, ou se tudo não passava de marcas deixadas por um passado sombrio demais para ser esquecido.

Kendrick comentou que reconstruiu esta casa enquanto Enrico esteve longe. E eu me lembrava vagamente de ter ouvido falar sobre um lugar chamado Ekbram… embora não soubesse exatamente o que era.

Fechei os olhos, tentando afastar as imagens que se formavam sem minha permissão. O olhar de Enrico, pesado, carregado de dor e raiva, voltava sempre que o silêncio se aprofundava.

Será que ele ainda sonhava com ela? Com a noiva que perdeu? Será que o amor que sentiu por ela era tão forte quanto o que o destruiu depois?

Um arrepio percorreu minha pele quando o vento soprou contra a janela, e por um instante me perguntei se ele também sentia frio… ou se o frio que o habitava por dentro era tão constante que já não fazia diferença.

Ekbram.

A palavra voltou à minha mente como um eco distante. Tinha o som de algo esquecido, enterrado. Talvez fosse um lugar. Talvez uma prisão. Ou, quem sabe, um inferno moldado para homens como Enrico, ou para transformá-los no que ele se tornou.

Mas por que ninguém falava sobre isso abertamente?

Afundei um pouco mais sob a coberta fina, mesmo sabendo que o frio que me envolvia agora não vinha apenas do quarto. Vinha da ausência de respostas, da presença constante daquele nome, mesmo quando ele não estava ali.

A batida na porta me fez congelar.

Não era forte, nem urgente. Mas inesperada o suficiente pra me fazer largar o que quer que eu estivesse pensando. Olhei na direção da porta, o coração acelerando do nada. Ninguém devia estar ali aquela hora.

Não respondi. Só levantei devagar, sem fazer barulho, e peguei o abajur da mesinha. Era o objeto mais pesado por perto. Ridículo, talvez. Mas era alguma coisa.

Fiquei ali parada por alguns segundos, ouvindo. Então a voz dele veio, baixa, do outro lado:

— Sou eu. Enrico.

Soltei o ar que nem percebi que estava prendendo. Coloquei o abajur de volta no lugar e destranquei a porta, abrindo só o suficiente para vê-lo.

Ele estava ali, parado no corredor com uma coberta dobrada no braço. O olhar sério de sempre, meio escondido pela sombra do corredor. Não disse mais nada. Só estendeu a coberta pra mim.

Foi quando reparei nos nós dos dedos dele. Estavam machucados, vermelhos, com a pele cortada. Mas ele nem parecia notar.

— Tá frio aqui — disse, como se explicasse o motivo de estar ali.

🐍🌹A FERA DE ROMA🐍🌹 •EM ANDAMENTO•Onde histórias criam vida. Descubra agora