𝑵𝑶𝑩𝑶𝑫𝒀 𝑩𝑼𝑻 𝒀𝑶𝑼, madison beer

forty-one

continuação...

n a r r a t o r

A chuva caía em torrentes, encharcando o gramado e transformando o parque em um labirinto de poças e lama.

O vento frio cortava o ar, empurrando as gotas de água de forma quase horizontal.

As ruas estavam vazias, exceto por duas figuras que corriam lado a lado, ofegantes e molhadas até os ossos.

Zara estava à frente, com a mão ainda ardendo e os punhos cerrados, enquanto Madison tentava acompanhá-la.

Elas não disseram uma palavra desde que Zara desferira o soco que atingiu Ethan diretamente no rosto.

O som da carne se chocando ainda ressoava nos ouvidos de Madison, um misto de choque e satisfação preenchendo-a. Ethan merecia aquilo. Ele a havia desrespeitado na frente de todos, tentando se impor de forma grosseira.

Mas o que a surpreendeu não foi a agressão, e sim o fato de Zara ter sido a primeira a reagir, a defendê-la com uma intensidade que Madison não esperava.

Elas chegaram ao mirante do parque, um refúgio coberto que oferecia proteção parcial da tempestade. — Já que a chuva as pegou no meio do caminho de volta pra casa.

— O que você estava pensando? — Madison finalmente quebrou o silêncio, a voz tremendo tanto de frio quanto de confusão.

Zara se virou, os olhos faiscando sob a luz fraca que filtrava pela escuridão.

Seu rosto estava parcialmente coberto por mechas molhadas do seu coque bagunçado, mas Madison pôde ver o fogo que ainda ardia nela.

— Eu estava pensando que ele merecia aquilo — a negra responde, a voz baixa, carregada de raiva controlada. — Ele estava agindo feito um babaca. Você estava incomodada e ele não te deixava em paz. O que eu deveria ter feito?

Zara se defendeu, ainda sobre o efeito da adrenalina.

— Eu podia ter lidado com isso sozinha! — insistiu Madison, tentando manter o controle sobre suas palavras, mas seu coração acelerado a traía — Não precisava me defender como se eu fosse... — ela faz uma pausa, buscando a palavra certa — Como se eu fosse sua.

Zara, que já estava impaciente, deu um passo à frente, os olhos ardendo de uma frustração que parecia mais profunda do que o simples ato de defender Madison.

— Eu te defendi porque não suporto a ideia de alguém te tratando de qualquer jeito! — soltou de repente, as palavras explodindo — E se te incomoda, talvez você devesse pensar o por quê isso mexe tanto com você.

Madison ficou em silêncio, suas mãos tremendo levemente ao ouvir aquilo.

  O que Zara estava dizendo a atingiu como uma onda, afogando-a em sentimentos que ela estava tentando negar há tanto tempo.

O coração batia descompassado, e o ar entre elas parecia eletrificado, carregado de palavras não ditas e emoções reprimidas.

— Ou você acha o quê? — ela continua exaltada — Que eu vou ver alguém chamando a minha garota de piranha e não vou fazer nada?

Zara percebe o que fala após perceber o rosto da garota ruborizar.

— Por que? — Beer consegue dizer, olhando dentro dos olhos da Gilinsky.

Zara deu mais um passo em sua direção, tão perto agora que ela podia sentir o calor que emanava do corpo dela.

  O olhar da negra era intenso, carregado de uma mistura de raiva e... algo mais. Algo que Madison reconhecia, mas não queria admitir.

— Por que disso tudo? — a morena completa.

— Porque eu não aguento mais fingir que não sinto nada. — admite, a voz baixa mas carregada de emoção — Eu quero você mais do que consigo expressar, Beer. Eu... eu não consigo mais fingir que tudo entre nós é só amizade, se eu estou completamente apaixonada por você.

As palavras pairaram no ar, e o mundo pareceu parar ao redor delas. O parque, o barulho da chuva, tudo desapareceu.

Havia apenas Zara e Madison, e a verdade crua que finalmente saíra à tona.

Madison sentiu o chão se abrir sob seus pés, o peito apertado pela confissão de Zara.

Ela sabia, no fundo, que algo assim existia entre elas, mas ouvir Zara dizer aquilo em voz alta fez com que todos os sentimentos reprimidos viessem à tona de uma só vez.

O ar parecia carregado de eletricidade, e a proximidade da Gilinsky fazia seu coração disparar de um jeito que ela não conseguia controlar.

— Zara... — Madison começou, a voz falhando.

Mas antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Zara avançou o último centímetro que as separava, sua mão tocando levemente o rosto de Madison, e num gesto impulsivo e desesperado, seus lábios se encontraram.

O beijo começou tenso, cheio de urgência e emoções reprimidas, mas logo se suavizou.

  Madison sentiu seu corpo relaxar sob o toque de Zara, os braços dela envolvendo-a como se tivessem esperado por toda a vida.

O mundo ao redor desapareceu, e tudo o que restava era o calor do beijo, a pressão suave dos lábios de Zara contra os seus, e a verdade finalmente revelada.

Quando elas se separaram, os olhos de Zara estavam brilhando, cheios de um misto de medo e esperança.

— Eu não queria te assustar — disse Zara, a voz baixa, quase um sussurro. — Mas eu precisava que você soubesse.

Madison sentiu o peso das palavras de Zara.

Ela olhou nos olhos dela, e pela primeira vez, tudo pareceu fazer sentido. Todo o ciúme, a briga, todos os sentimentos confusos que ela sentia por Zara. Era amor.

E não importava o quão complicado aquilo fosse.

— Eu também não quero fingir mais — Madison finalmente disse, sua voz baixa, mas firme. — Meu coração só quer você, Zara. E isso é assustador.

Zara sorriu, aquele sorriso suave que Madison tanto amava, e puxou-a de volta para mais um beijo.

Dessa vez, não havia mais tensão, apenas o alívio de finalmente ceder ao que ambas sabiam que estava ali o tempo todo.