Capítulo 16

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POV Narrador

— Isso, Cherry! Você está maravilhosa. — Kaan não parava de elogiar, cada segundo trazendo um novo comentário. Hande não se importava; era bom ouvir aquilo, ser desejada, admirada a cada pose que fazia. — Joga o cabelo para frente.

A morena obedeceu, sorrindo para as lentes de Kaan, e em seguida virou-se para o lado oposto, fazendo carão. Nunca imaginou que fotografar fosse tão prazeroso; estava adorando! Precisaria agradecer a Kaan pela ideia, e já sabia exatamente como.

— Esse sorriso está incrível! No que você está pensando, Miyy? — perguntou ele, curioso.

E como poderia ser diferente? A entrevista que conseguira na noite anterior com Ceylan Atinç fora um sucesso, muito além do que esperava. Ela tinha material para preencher facilmente duas páginas da revista, com detalhes desde a vida simples de Ceylan até sua ascensão como ícone mundial da moda. Nem mesmo o álcool que tomara a noite atrapalhara aquele momento crucial, um divisor de águas na carreira de Hande.

Kaan parou de fotografar e se aproximou, um sorriso provocador nos lábios.

— Estava pensando que terei que te agradecer por isso. Alguma preferência? — provocou ela, com o mesmo tom.

— Hmm, faça o que quiser comigo.

— Boa escolha. — Ele piscou para ela, enquanto Hande lhe dava as costas.

— Aonde vai?

— Trocar de roupa. Já fizemos fotos demais com essa. — respondeu, indo em direção ao banheiro.

— Perfeito. — Ele concordou, observando-a sumir atrás da porta. — Você podia se trocar aqui mesmo, sabia? Não me incomodaria. — gritou, arrancando uma risada dela.

O banheiro do estúdio era pequeno, mas bem equipado, com uma arara repleta de peças incríveis. Hande prendeu o cabelo em um coque despojado antes de se despir, observando as roupas disponíveis. Um vestido branco chamou sua atenção, e ela estava prestes a vesti-lo quando ouviu Kaan chamá-la, em um tom de urgência.

— Hande! Precisamos sair agora!

— Estou terminando de me vestir, Kaan. O que aconteceu? — ela perguntou, tentando manter a calma, mas o pânico já se infiltrava em sua voz.

— Não sei! Mas tem fumaça por toda parte! — O cheiro forte começou a invadir suas narinas. Sem pensar, Hande correu para a porta e tentou abri-la, mas estava emperrada.

— Kaan! — chamou, a voz trêmula. — A porta não abre!

— O quê? Como assim?! Você precisa sair daí agora! — Ele bateu à porta com força, tentando abrir, mas sem sucesso.

— Eu não consigo!

Desesperado, Kaan pressionou o corpo contra a madeira, mas tudo o que conseguiu foi uma dor no braço. Ele sabia que precisava agir rápido.

— Hande, eu vou buscar ajuda! Coloque as roupas da arara no vão da porta para evitar que a fumaça entre e fique o mais longe possível da porta, entendeu?

— O quê?! Não! Kaan, não me deixa aqui!

Ele deu um último soco na porta, ouvindo o som das chamas começando a engolir o estúdio. Sem escolha, correu em busca de ajuda, deixando Hande para trás, e ela não pôde conter as lágrimas quando a fumaça começou a tomar conta do espaço.

***

Kerem estava inquieto, incapaz de esconder a irritação crescente enquanto dirigia o carro de Serenay. Cada quilômetro percorrido só aumentava sua frustração.

— Eu ainda não acredito que você está me fazendo encontrar aquele francesinho de meia tigela. — Repetiu pela décima vez nos últimos minutos, a voz carregada de desprezo. Kaan sempre o deixava à beira de um ataque de nervos.

— Vai ser rápido, Kerem. — Serenay suspirou, demonstrando que sua paciência estava no limite. — Só vou pegar o cachê do desfile com o Kaan.

Mas Kerem não se deixaria acalmar tão facilmente.

— E por que tem que ser na casa dele? Ele não tem um escritório? — Continuou resmungando, lançando olhares irritados para o GPS enquanto seguia as instruções. O clima entre ele e Hande estava tenso desde o "incidente" da noite anterior, o que só piorava seu humor.

Serenay tentou encerrar o assunto com uma resposta simples, como se isso fosse resolver.

— O estúdio dele fica na casa dele. Ele está numa sessão de fotos agora.

Mas Kerem não se conformava.

— E ele não podia simplesmente transferir o dinheiro? — A implicância com o nome de Kaan era clara, e Serenay, exasperada, revirou os olhos.

— O depósito demoraria dois dias e eu preciso do dinheiro agora. Mais alguma pergunta? — Ela retrucou, cansada de tantas objeções.

Quando finalmente estacionaram em frente à casa de Kaan, Kerem tomou uma decisão.

— Eu não vou entrar. — Declarou, recostando-se no banco. Mas algo inesperado chamou sua atenção. — Ei, aquele não é o carro da Hande?

Um lampejo de raiva passou por ele. "Claro que Hande estaria aqui", pensou, com amargura. A ideia de que ela poderia estar com Kaan o encheu de uma fúria crescente, que foi interrompida pelo grito alarmado de Serenay.

— Kaan!

Kerem voltou o olhar e viu o próprio Kaan correndo em direção a eles, ofegante, com o rosto sujo de fuligem. O coração de Kerem começou a bater descompassado, um pressentimento terrível se formando em sua mente.

— O que aconteceu?! — Gritou, já com o corpo tenso de preocupação.

Kaan caiu de joelhos aos pés de Kerem, lutando para recuperar o fôlego.

— Fogo... Hande... ela está presa no banheiro... — As palavras saíam entrecortadas, mas foram suficientes para transformar o pânico de Kerem em ação.

Ele ergueu os olhos e viu a fumaça negra saindo pelas janelas da casa. Por um instante, tudo pareceu desacelerar. Seu mundo se resumia a uma única palavra: Hande.

— Onde ela está? ONDE ESTÁ A HANDE? — Agarrou Kaan pelos ombros, sacudindo-o com desespero, esperando uma resposta.

— No estúdio... o banheiro... tentei tirá-la, mas a porta emperrou... — Kaan mal conseguia explicar, e Kerem não esperou mais. Ele já corria em direção à casa, os sons ao redor distorcidos pela urgência do momento.

— Está louco, Kerem? Onde você pensa que vai?! — Serenay gritou, horrorizada com a ideia de ele entrar em um prédio em chamas. Mas Kerem não hesitou.

— Pegue seu carro e leve ele para o hospital. — Ordenou rapidamente.

— E você?! — Serenay perguntou, desesperada, enquanto as chamas consumiam a casa.

Kerem olhou para ela uma última vez, com uma expressão determinada.

— Eu vou salvar a Hande. — E, sem pensar duas vezes, correu em direção à porta, desaparecendo em meio à fumaça e às chamas que ameaçavam tudo ao redor. 

Para ele, nada mais importava.

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