Capítulo 17

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POV Narrador

— HANDE! — Kerem gritou pela quinta vez, mas o eco de sua voz se perdia no caos. O desespero de tirar a colunista dali impediu que ele perguntasse a Kaan onde ficava o estúdio do francês. Agora, vagava às cegas pelos cômodos tomados pelo fogo. — Droga! — rosnou ao abrir outra porta para encontrar apenas mais um quarto vazio.

Restava o segundo andar, onde as chamas rugiam com mais intensidade. Kerem arrancou a camisa encharcada de suor e a amarrou no rosto para tentar filtrar a fumaça sufocante. Não era o ideal, mas era o melhor que podia fazer.

Ao subir as escadas, um dos degraus de madeira cedeu sob seus pés. Ele se agarrou ao corrimão com todas as forças, forçando os braços até conseguir se impulsionar para o topo. As paredes escurecidas pela fuligem indicavam o provável foco do incêndio. Se a causa fosse um curto-circuito no estúdio de Kaan, era lá que Hande estaria.

Kerem investiu contra a porta do estúdio, mas uma explosão o lançou contra a parede oposta. A dor nas costelas latejava, mas ele se levantou, trôpego, e respirou fundo antes de atravessar o cômodo.

— HANDE! — gritou, sua voz agora rouca pelo calor e fumaça.

— K-Kerem? — A voz dela era fraca, quase inaudível. Hande estava encostada em um canto, a cabeça repousando contra os joelhos. Seu peito mal subia e descia, e ela tentava, sem sucesso, puxar o ar pesado. As moléculas tóxicas de monóxido de carbono estavam se acumulando em seu corpo, sufocando-a lentamente.

— Hande! Cadê você?! — Kerem ficou atento, os ouvidos focados no som fraco da voz da morena.

— A-qui... no banheiro — ela tentou se levantar, mas a fraqueza a impedia de mover qualquer parte do corpo.

— Vou tirar você daí, aguenta firme! — Kerem bateu na porta de madeira. — Afaste-se!

Ele tomou distância e chutou o meio da porta com força. A madeira cedeu, e lá estava Hande, pálida e desorientada. Kerem se ajoelhou diante dela, segurando seu rosto entre as mãos. O olhar de Hande tentava focar no dele, mas tudo parecia um borrão preto coberto pela fuligem. Ela mal acreditava que ele estava ali.

— Você... veio me salvar? — perguntou, com a voz fraca, incrédula.

— Não deixaria um incêndio matar você — murmurou, afastando uma mecha de cabelo que caía sobre o rosto suado dela. A outra mão firme em sua cintura sujou ainda mais o vestido branco de fuligem. — Essa função é minha, diaba — brincou, piscando para ela. Hande tentou sorrir, mesmo com o pouco de forças que lhe restava.

— Achei que... viraria churrasco aqui dentro — tentou responder, a voz ainda débil.

— Até que daria um belo bacon — ele deu de ombros, enquanto a ajudava a se levantar.

— Cala a boca, Bürsin — ela sussurrou, forçando um sorriso, mas logo seu corpo cedeu, desmaiando contra o peito de Kerem. A fumaça a atingira mais do que ele pensara.

— Hande! — Kerem sacudiu levemente o corpo da colunista, mas ela não respondeu. — Merda!

Tomando-a nos braços, ele correu para fora do cubículo onde estavam, desviando como podia dos destroços que caíam à sua frente, as labaredas consumindo o espaço ao redor. As escadas estavam em grande parte comprometidas, mas era sua única saída. Kerem passou Hande para as costas, segurando-a com firmeza enquanto se preparava para descer.

— Que Deus nos ajude — murmurou, antes de dar um impulso e pular a escada. — Se sairmos dessa, prometo que nunca mais te chamo de diaba. — Sabia que, se tentasse pisar nos degraus, eles cederiam, levando ambos ao fundo do poço.

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