Antônia
Essa quinta-feira foi correria pura, fiz questão de escolher pessoalmente um vestido para minha mãe, um longo em crepe azul marinho e a camisa do meu pai, uma off white e uma gravata borboleta azul que ele sempre gostou, sem blazer, mesmo que ele esteja deitado em uma maca eu quero que ele esteja lindo. Edu conseguiu pra gente um fotógrafo de última hora, já que os que havíamos contratado no casamento não estariam disponíveis.
Minha irmã saiu de casa ainda a pouco, veio ver o vestido que ganhei de Bruno, tenho que dizer que fiquei de queixo caído quando finalmente fiquei sozinha e pude olhar o conteúdo da caixa, um vestido branco inteiro de renda no estilo sereia, ombros a mostra e manga comprida brindou meus olhos com tanta beleza. Sofisticado, simples e clean, totalmente diferente do vestido escolhido originalmente para cerimônia, um vestido princesa volumoso com o corpete em formato de coração todo cravejado em pedraria. Helena ficou feliz quando viu que o vestido combinaria perfeitamente com o véu sóbrio na altura dos ombros que ela havia comprado para mim, eu não usaria um mas vendo o véu em minha mão me senti uma noiva completa. Além de bisbilhotar e presentear minha amada irmã veio me dizer que depois que minha mãe contou a eles sobre o vestido que escolhi ela mandou mensagem para as meninas e elas providenciaram vestidos e gravatas azul bebe para todos, e um vestido para a minha sogra parecido com o que dei para a minha mãe. Originalmente elas estariam de rosê gold e minha mãe e minha sogra de marsala. A verdade é que todas elas são lindas e eu tenho certeza que vai ficar tudo muito lindo.
- Cheguei amor! - grita Edu da sala, ele havia saído para fazer a visita a um cliente e como estávamos focados em conseguir realizar o casamento acabou que acumulou tudo e meu futuro marido ficou extremamente atarefado. - Nossa que cheiro bom! - afirmou me abraçando por trás e olhando por cima do meu ombro.
- É o molho de gorgonzola para eu colocar em cima do filé, eu te amo mas se você não me soltar vai queimar e vamos nos casar em clima de guerra. - Falei sorrindo, fico feliz que com ele eu possa ser eu mesma, ele é leve e faz com que nosso convívio seja maravilhoso.
- Tá bem amor estou soltando, bom vou tomar um banho e já volto. - deu um beijo em minha testa e se foi.
Logo que terminamos de jantar nossa cozinha foi invadida por meus irmãos e cunhados, fui arrastada para fora de casa, afinal, amanhã seria o meu casamento e não poderíamos dormir juntos, para criar uma expectativa, segundo eles. Tive tempo suficiente para pegar minhas coisas de higiene pessoal, roupa para dormir e as coisas do casamento, dei um beijo no meu amado futuro marido e fui com aquele bando de malucos, depois de descobrir que Bene, Noah e Ian que havia chego com Vick neste mesmo dia ficariam com Edu.
Fui levada para a casa da minha mãe e informada que a noite dos meninos seriam regada a jogatina e álcool, mas com a promessa velada de Bruno que ele não deixaria Edu passar da conta. Mesmo com toda a tristeza envolvendo o quadro clínico do meu pai eu consigo sentir uma felicidade reconfortante, vou me casar com o homem da minha vida, o homem que amei desde antes mesmo de saber sobre o que o amor se tratava e meu pai estará lá, ao meu lado. Sim, eu sonhava com um casamento de princesa, mas posso pensar nisso mais para frente com uma renovação de votos, o importante é o hoje!
Nossa noite foi bem tranquila, parecia aquela noite das meninas retratadas pelas comédias românticas adolescentes: hidratamos os cabelos, fizemos as unhas e até rodelas de pepinos nos olhos colocamos. Foi um momento tão bom, um dos poucos desde que a saúde de papai entrou em declínio poucos momentos têm sido leves e bons.
Acordo perto do horário do almoço no dia seguinte, na verdade todas nós acordamos, fizemos um desjejum bem reforçado e começamos a nos arrumar …era uma cerimônia simples mas tive um dia de noiva com direito a champagne, fotos e massagem. Era o dia mais feliz da minha vida mas infelizmente o meu pensamento estava todinho em meu pai, me preocupava em como seria depois, qual motivo ele teria para aguentar tão firmemente a barra diária que a doença lhe acarreta. Eu sei que ele não vai aguentar muito mais, todos sabemos como eu também sei e tenho ciência do quanto nós, humanos, somos egoístas. Queremos que nossos entes queridos fiquem porque pensamos somente na dor que sua ausência nos causará e nunca pensamos na dor que sentem para ficarem o máximo possível para não ficarmos tristes, mas este é assunto para outra hora.
Estávamos prontas e lindas, as mulheres da minha família me olhavam com admiração e realmente eu me sentia a mulher mais linda do mundo.
- Vamos ou iremos nos atrasar cambada, não vamos deixar o papai esperando, melhor dizendo o noivo, não vamos deixar o noivo esperando. - O pronunciamento de Helena fez com que todas caíssem na risada, incluindo eu.
- Mãe a senhora está linda, o meu pai vai se apaixonar mais uma vez quando ver que sua esposa está a mulher mais linda dessa sala, eu sei que não tem sido fácil para todos mas sei que especialmente para a senhora vem sendo triste e doloroso, afinal foi o homem que a senhora amou e escolheu para a vida. Vou pedir para que a senhora me leve até o pai que vai estar no altar - logo completei para tirar seu olhar de surpresa do rosto - eu não ia entrar na capela igual minha irmã de maneira nenhuma. Pedi que Bruno providenciasse para que meu pai estivesse no altar junto do Edu.
- Ô minha filha realmente ver o homem que eu tanto amo definhando com o tempo faz com que parte de mim se esvai com ele, mas preciso ser forte por ele e por vocês, eu prometi isso a ele. Está linda minha filha, e o seu ato de amor pelo o seu pai faz com que toda a beleza externa seja ofuscada pelo lindo coração que tem. Obrigada por tudo o que tem feito todos esses anos por nós. Vai ser uma honra te levar até os homens de sua vida.
Fomos interrompidas com o anúncio que o carro havia chego, todas nos abraçamos e saímos rumo ao carro. Havia milhões de borboletas a mais no meu estômago do que o de costume, tudo o que eu vivi me levou até este momento e eu estava trêmula. Um misto de tristeza com felicidade, claro que em maiores proporções no segundo sentimento. Honestamente, nem percebi o caminho e quando dei por mim já estávamos na porta do hospital.
As meninas desceram do carro e entraram, sem nenhum suspense já me posicionei com os braços dados aos da minha mãe, ela ajeitou o meu véu e com um olhar me perguntou se eu estava pronta e sim eu estou. Ajeitei minha postura, moldei um sorriso sincero e é agora.
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O profissional - Lery
RomanceLery, originalmente Eduardo, veio do Brasil para Nova York, a exemplo de sua amiga Helena para exercer sua profissão. "Michê", "Prostituto" é alguns dos nomes em que era chamado. A verdade que é que Lery era um profissional do sexo. Com suas própria...