Sombra de Vingança

Teias de Intrigas e Paixões Sombrias

O ambiente estava mais tenso do que o habitual. Carolina, Ivan, Clara e Lucas estavam sentados ao redor da mesa, iluminados apenas pelas luzes fracas do porão em que estavam reunidos. O ar era denso, e a sensação de que algo grande estava prestes a acontecer pairava sobre todos. O plano para derrubar Julia estava tomando forma, mas todos sabiam que não seria uma tarefa fácil. Eles precisavam atacar de forma certeira, sem levantar suspeitas.

Lucas, sempre o mais leve do grupo, estava inquieto. Diferente de sua postura habitual, hoje ele parecia mais concentrado. Ele havia passado as últimas horas pensando em uma ideia que poderia mudar tudo.

— Tenho algo — disse ele, finalmente quebrando o silêncio.

Todos olharam para ele, surpresos. Lucas geralmente era o último a contribuir com ideias sérias, mas desta vez sua expressão era sombria.

— Tenho um amigo... bem, um velho amigo, que pode nos ajudar a desmantelar a rede de Sergei — continuou Lucas, sua voz mais grave do que o habitual. — O cara é um dos maiores traficantes de drogas em Miami agora, mas nós crescemos juntos. Tenho certeza de que ele estaria disposto a se infiltrar na operação de Sergei e destruí-la de dentro para fora.

Clara o observava atentamente, uma sobrancelha arqueada. Embora sempre tivesse gostado do jeito descontraído de Lucas, agora ele parecia quase outra pessoa. Era evidente que ele levava essa ideia muito a sério.

— Como você tem certeza de que podemos confiar nesse amigo? — questionou Ivan, seus olhos estreitos enquanto analisava Lucas. Ivan sempre mantinha uma postura de desconfiança, especialmente quando se tratava de introduzir novas variáveis ao plano.

Lucas deu de ombros, mas seu olhar estava fixo no de Ivan.

— Porque ele me deve uma. Quando éramos mais jovens, antes de ele entrar nesse mundo, eu o ajudei a sair de uma situação complicada com a polícia. Se não fosse por mim, ele estaria na cadeia. Ele não esquece dívidas, e eu nunca pedi nada em troca... até agora.

Carolina, que até então estava silenciosa, finalmente falou.

— E você acha que ele se arriscaria a ajudar a derrubar Sergei? Isso pode significar a morte dele.

Lucas assentiu, embora soubesse que a pergunta era válida.

— Sim, ele se arriscaria. Especialmente se o pagamento for bom. Ele não é um homem de lealdades, a não ser ao dinheiro. Se prometermos a ele uma fatia da operação de Sergei depois que desmantelarmos tudo, ele estará dentro.

Clara, que tinha permanecido calada, observava Lucas com atenção. Ela conhecia o tipo de homem que ele estava descrevendo. Pessoas movidas apenas pelo lucro eram perigosas, mas também eram úteis em momentos como esse.

— E quanto a essa pessoa que você mencionou, Lucas? Alguém para se infiltrar na operação de Sergei? — perguntou Clara, inclinando-se para frente.

Lucas sorriu, como se estivesse esperando por essa pergunta.

— Eu tenho alguém em mente. Um amigo do meu amigo. Ele é ex-militar, um cara que sabe como se mover em operações desse tipo. Treinado, ágil, e sem nenhuma ligação direta com a gente. Ninguém vai suspeitar dele. Ele já fez isso antes, se infiltrou em organizações como a de Sergei e saiu ileso.

Ivan se mexeu na cadeira, claramente intrigado.

— E como você acha que vamos integrar esse cara na operação de Sergei? Sergei não confia em ninguém que não conheça pessoalmente.

Lucas deu um sorriso satisfeito, como se já tivesse previsto essa pergunta.

— Esse é o ponto. O meu amigo de Miami pode fazer essa introdução. Ele já negociou com Sergei algumas vezes. Se ele sugerir esse cara como um novo parceiro, alguém para cuidar da segurança das rotas de tráfico, Sergei vai aceitar. Ele precisa de gente, e esse é o momento perfeito para plantar nossa peça dentro da organização dele.

O plano começava a tomar forma, mas Clara ainda parecia hesitante. Ela olhou para Lucas com seriedade.

— Tudo isso soa... bem, mas há algo que me incomoda. Nós estamos colocando muito nas mãos dessas pessoas. E se algo der errado? Não podemos controlar tudo de tão longe.

Lucas sabia que essa preocupação era legítima, e por isso, ele foi sincero.

— Não podemos controlar tudo, Clara. Mas precisamos arriscar. Se ficarmos esperando o plano perfeito, Julia vai continuar crescendo, e Sergei vai se fortalecer. Este é o momento. Meu amigo vai garantir que a infiltração aconteça, e eu prometo que estarei lá para supervisionar tudo o que puder.

Clara suspirou, sentindo a pressão aumentar. Ela sabia que Lucas estava certo. Não havia garantias, mas eles também não tinham o luxo de esperar.

— E esse ex-militar, ele está preparado para o que vem a seguir? — Clara perguntou, finalmente cedendo um pouco.

Lucas assentiu.

— Ele é um dos melhores. E, se tudo der certo, ele vai nos dar uma visão interna de como destruir Sergei de dentro para fora. A queda de Sergei vai enfraquecer Julia de um jeito que nenhum outro movimento poderia fazer.

Carolina, que até então estava perdida em pensamentos, ergueu a cabeça e olhou para os outros.

— Se vamos seguir com esse plano, então precisamos garantir que tudo seja feito em segredo absoluto. Julia não pode suspeitar de nada. Não podemos subestimá-la novamente.

Todos concordaram em silêncio. O plano parecia arriscado, mas era a melhor chance que tinham de finalmente enfraquecer Julia.

Ivan olhou para o mapa na mesa, contemplando os próximos passos.

— Vou entrar em contato com alguns antigos contatos. Vamos precisar de mais informações sobre Sergei antes de fazer qualquer movimento. Se falharmos, Julia vai nos caçar sem piedade.

Enquanto Ivan falava, Lucas se levantou da cadeira e foi até Clara, que estava um pouco distante dos outros. Ele percebeu o quanto ela estava sobrecarregada. Tudo o que aconteceu nas últimas semanas, e a perda de Rafael, a deixaram mais vulnerável do que ela gostaria de admitir.

— Ei — disse Lucas suavemente, tocando de leve no braço dela. — Vai ficar tudo bem. Eu sei que parece arriscado, mas confie em mim. Nós vamos conseguir.

Clara olhou para ele, seus olhos cheios de dúvidas, mas também de algo mais. Ela nunca havia olhado para Lucas dessa forma antes. Sempre o viu como alguém leve, talvez até um pouco irresponsável. Mas hoje ele parecia mais forte, mais centrado. E isso mexeu com ela de uma maneira inesperada.

— Eu só não quero perder mais ninguém, Lucas — confessou ela, com a voz baixa, quase um sussurro.

Ele se aproximou um pouco mais, a intensidade do momento crescendo entre eles.

— Você não vai perder ninguém. Não vou deixar que isso aconteça — prometeu ele, a voz firme.

Havia um silêncio pesado entre eles, mas era um silêncio carregado de emoções não ditas. Clara olhou nos olhos de Lucas, sentindo uma conexão que nunca havia sentido antes. Lucas, por sua vez, estava começando a enxergar Clara de uma maneira diferente. Ela não era apenas a parceira de missão, nem a mulher determinada que ele conhecia. Havia algo mais, algo profundo, e pela primeira vez, ele se pegou pensando nela de uma maneira que não tinha previsto.

O som da porta do porão se abrindo interrompeu o momento. Ivan voltou com uma série de documentos nas mãos, seu olhar focado no próximo passo do plano.

— Temos muito o que preparar. Se queremos que esse movimento funcione, precisamos estar prontos para qualquer eventualidade — disse ele, já voltando a analisar o mapa e as informações que tinha reunido.

Clara e Lucas se separaram, mas o momento entre eles ficou marcado. Algo havia mudado, mesmo que nenhum dos dois soubesse ainda como lidar com isso.

Agora, todos os olhos estavam voltados para o plano. A infiltração estava prestes a começar, e o destino de todos estava interligado de maneiras mais profundas do que eles poderiam imaginar.