Sombra de Vingança

A Infiltração

A manhã estava fria, o sol apenas começando a nascer no horizonte. Carolina e Ivan estavam em um escritório improvisado, montado no porão da casa onde o grupo se escondia. Mapas e documentos cobriam cada centímetro da mesa à sua frente. Eles haviam passado a noite revendo informações sobre a operação de Sergei e traçando a próxima fase do plano, mas havia algo mais perturbando Carolina.

Ela não conseguia tirar os olhos de Clara e Lucas, que, do outro lado do porão, trabalhavam em silêncio, mas a proximidade entre eles era inegável. Os olhares trocados, os gestos sutis, tudo indicava que havia algo mais crescendo ali. Carolina observava atentamente, seus pensamentos a mil.

— Você percebeu? — ela perguntou a Ivan, sem desviar os olhos do casal.

Ivan, sempre direto, seguiu o olhar dela e assentiu.

— Não sou cego, Carolina. Algo está acontecendo entre eles.

Carolina suspirou, cruzando os braços.

— Isso pode ser um problema. Não podemos nos dar ao luxo de distrações agora.

— Ou pode ser uma força — Ivan sugeriu, com um tom que surpreendeu Carolina. Ele raramente falava sobre emoções ou relacionamentos. — Se eles se apoiarem emocionalmente, isso pode mantê-los focados. Mas se for mal gerido... sim, pode complicar tudo.

Carolina sabia que ele tinha razão. Ela própria já havia passado por situações em que as emoções atrapalharam seus planos. O relacionamento dela com Alexandre havia destruído a estabilidade que ela pensava ter. E agora, vendo Clara e Lucas se aproximarem, ela sentia uma mistura de preocupação e, de certa forma, inveja. Eles pareciam encontrar consolo um no outro em meio ao caos. Mas ela sabia o quanto isso poderia ser frágil.

— Eu vou falar com ela — Carolina disse, decidindo que precisava abordar o assunto antes que as coisas saíssem de controle.

Horas depois, Carolina encontrou Clara sentada sozinha no jardim deserto atrás da casa. As folhas de uma árvore balançavam suavemente com o vento, e o silêncio entre as duas parecia ecoar pela manhã fria. Clara estava perdida em seus pensamentos, os olhos fixos em um ponto distante.

Carolina se aproximou devagar, seus passos leves, e sentou-se ao lado de Clara. Nenhuma das duas falou de imediato. Havia uma tensão no ar, mas também uma compreensão silenciosa. Elas estavam juntas nessa luta, e ambas sabiam o quanto as coisas podiam se complicar.

— Eu não vou mentir — Carolina começou, com a voz suave, mas firme. — Tenho percebido o que está acontecendo entre você e Lucas.

Clara olhou para ela, surpresa, mas não negou. Ela sabia que Carolina era observadora demais para não notar.

— Não sei exatamente o que dizer — Clara murmurou, desviando o olhar. — Tudo isso é tão... inesperado.

Carolina assentiu, compreendendo mais do que gostaria.

— Eu entendo, Clara. Talvez mais do que você imagina. Sei como é estar envolvida com alguém em meio a uma tempestade como essa. Sei como os sentimentos podem se misturar com a adrenalina, a pressão... Mas você precisa ter cuidado.

Clara franziu o cenho.

— Acha que isso vai nos atrapalhar?

— Não acho que precise atrapalhar — Carolina respondeu honestamente. — Mas pode, se vocês não tomarem cuidado. Vocês estão se aproximando em um momento em que precisamos estar no nosso melhor. Você precisa ter certeza de que esse relacionamento não vai tirar o foco de vocês.

Clara respirou fundo, sentindo o peso das palavras de Carolina. Ela já estava dividida entre a missão e seus sentimentos por Lucas. Havia momentos em que sentia que estava perdendo o controle, mas a presença de Lucas também lhe trazia uma força inesperada.