A Verdade Sombria

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O clima dentro do esconderijo era tenso. A respiração de todos ecoava em um ritmo lento e pesado, misturando-se ao som suave da chuva batendo na janela. Carolina olhava os mapas sobre a mesa, traçando as últimas rotas para encurralar Julia. Lucas estava ao seu lado, ainda se recuperando dos eventos recentes, mas sua determinação permanecia inabalável. Clara (falsa) circulava silenciosamente pelo local, seus olhos atentos, como se estivessem sempre à espreita de algo mais.

Ivan estava afastado dos outros, observando-a com cuidado. Algo o incomodava há algum tempo. Ele nunca conseguira confiar completamente em Clara, embora todos os outros a tivessem aceitado no grupo. Havia pequenos detalhes, momentos em que ela hesitava ao responder, ou quando sua versão de uma história parecia não se encaixar. E agora, algo mais o perturbava. Uma lembrança vaga, uma inconsistência.

— Ivan, você está bem? — Carolina perguntou, percebendo sua distância.

— Sim, estou, só... — Ivan hesitou, olhando para Clara (falsa). — Acho que há algo que preciso resolver.

Carolina franziu o cenho, mas antes que pudesse perguntar mais, Ivan se retirou para outro cômodo, onde guardava uma pequena caixa de arquivos antigos que coletara ao longo dos meses. Entre os papéis, encontrou algo que o fez parar. Seu coração acelerou.

Um antigo registro de óbito. Clara Andrade. Cidade de Helena. Data da morte... coincidia exatamente com o período em que a Clara que conheciam havia aparecido em suas vidas.

Ivan ficou paralisado, o papel tremendo em suas mãos. Ele sabia que isso mudava tudo.

— Não pode ser... — ele murmurou para si mesmo, tentando processar a descoberta. Mas a verdade estava ali, clara como o dia. Clara (falsa) não era quem dizia ser.

Voltando à sala principal, Ivan encarou Clara com uma expressão que beirava o ódio e a incredulidade. Carolina e Lucas se entreolharam, percebendo a mudança de humor dele.

— O que foi, Ivan? — Carolina perguntou, alarmada com a tensão no ar.

Ivan não desviou o olhar de Clara (falsa). Com um movimento brusco, ele jogou o registro de óbito sobre a mesa, bem em frente a ela.

— Explique isso. — Ivan ordenou, a voz baixa, mas cheia de raiva contida.

Clara (falsa) olhou para o papel com desinteresse aparente, mas o sorriso frio em seu rosto traiu qualquer tentativa de fingir surpresa.

— Não sei o que você está falando, Ivan. — respondeu com uma leve risada. — Deve ser algum erro.

— Um erro? — Ivan deu um passo à frente, cerrando os punhos. — Clara Andrade morreu em Helena. O corpo dela foi encontrado mutilado, abandonado. E você apareceu pouco tempo depois, se fazendo passar por ela! Quem diabos é você?

O silêncio na sala era absoluto. Carolina piscou, tentando processar as palavras de Ivan. Lucas deu um passo à frente, seu rosto pálido de choque.

— Isso... isso não pode ser verdade. — Lucas murmurou, quase inaudível. — Clara, você...

— Não, Lucas. — Ivan cortou-o, seus olhos ainda fixos em Clara (falsa). — Essa pessoa aqui não é Clara. Ela matou a verdadeira Clara e tomou o lugar dela. Ela é uma impostora, uma psicopata.

Carolina recuou, o impacto da revelação a atingindo como um soco no estômago. A mulher que ela considerava uma amiga, alguém em quem confiara... não era quem dizia ser. Toda a confiança, todas as conversas e os momentos compartilhados, agora pareciam distorcidos, cheios de mentiras.

— Diga a verdade, agora. — Ivan ordenou, aproximando-se de Clara (falsa).

Clara (falsa) não recuou. Pelo contrário, ela sorriu. Um sorriso perturbador, vazio de qualquer emoção genuína. Ela ergueu as mãos, como se se entregasse, mas seu olhar estava fixo em Carolina.

Sombra de VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora