O salão era iluminado por um candelabro imponente no centro, lançando sombras suaves pelas paredes ornamentadas. O ar estava denso, carregado com um silêncio pesado, como se todos naquele cômodo soubessem que algo mais profundo e perturbador estava para ser revelado. Clara, Carolina, Lucas e Ivan se reuniam ali, cada um com sua própria bagagem emocional, suas feridas internas, esperando pelo que parecia ser uma conversa inevitável, mas temida por todos.
Carolina estava tensa. Sua postura geralmente controlada parecia menos estável. Suas mãos estavam inquietas, os dedos brincando nervosamente com uma fina corrente de prata pendurada em seu pescoço. Ivan, de pé ao seu lado, observava-a com o olhar impassível, um traço de frieza que lhe era característico. Lucas, sentado mais afastado, evitava contato visual direto com qualquer um, enquanto Clara, com o rosto marcado pelo luto antigo, mas ainda muito presente, mantinha uma expressão de dor e raiva mal contida.
Ivan respirou fundo. Ele sabia que precisava compartilhar a notícia da morte de Rafael, mas também sabia que a revelação teria um impacto imenso sobre Carolina. Embora Rafael tivesse se tornado uma figura ameaçadora nos últimos tempos, havia uma história entre eles, algo que ninguém ali além de Carolina poderia entender completamente. Ele hesitou por um momento, algo raro para ele, antes de finalmente falar.
— Carolina... — sua voz era baixa, quase um murmúrio, mas cortante como uma lâmina. — Tenho algo para te contar. Não vai ser fácil ouvir.
Carolina levantou os olhos, encontrando o olhar de Ivan. Ela sabia que o que viria a seguir não seria bom, mas não podia sequer imaginar o que estava por vir. Sentia seu coração acelerar, batendo contra seu peito como se quisesse escapar.
Ivan continuou, sem suavizar as palavras.
— Rafael está morto. Julia o matou.
O mundo de Carolina pareceu desmoronar naquele momento. O ar saiu de seus pulmões como se tivessem sido perfurados. Tudo ao seu redor começou a girar, as luzes do salão se tornaram borrões e sons distantes. Seu coração, que já estava acelerado, agora batia de forma irregular e descompassada. O nome de Rafael, associado à palavra "morto", a atingiu com uma força inimaginável. Apesar de tudo o que Rafael havia feito — as traições, a perseguição, a tentativa de assassinato — eles tinham uma história. E agora, essa história havia sido brutalmente interrompida, sem uma resolução adequada.
— Não... — murmurou ela, enquanto as lágrimas começavam a se acumular em seus olhos. — Não, isso não pode ser verdade...
Carolina não conseguia mais controlar sua respiração. Seus pulmões pareciam incapazes de receber ar suficiente, e ela entrou em uma crise de pânico, sentindo-se sufocada pela realidade que Ivan havia acabado de colocar diante dela. As mãos dela tremiam descontroladamente, e uma sensação de desespero total tomou conta de seu corpo.
Clara, que até então estava em silêncio, observando a cena com uma mistura de raiva e dor, foi a primeira a se aproximar de Carolina. Clara sabia o que era perder alguém assim, de forma brutal e injusta. Ela havia perdido o noivo, um amor que lhe foi arrancado pelas mesmas mãos cruéis que agora haviam tirado Rafael de Carolina. Apesar de tudo, Clara não conseguia ignorar o sofrimento de Carolina, pois ela também conhecia aquela dor insuportável.
— Carolina, me escuta — disse Clara, ajoelhando-se ao lado dela, colocando uma mão firme, mas gentil, em seu ombro. — Respira. Devagar. Isso, só respira. Eu sei que é difícil. Sei que dói como o inferno... Mas você vai conseguir superar isso. Vai conseguir.
Carolina balançava a cabeça, tentando processar as palavras de Clara, mas o pânico ainda estava presente. Ela ofegava, lágrimas escorrendo por seu rosto, enquanto Clara continuava falando suavemente.
— Eu passei por isso... Quando o tiraram de mim, eu achei que nunca mais iria conseguir respirar de novo. Mas estou aqui, e você também vai conseguir. — Clara segurou as mãos de Carolina, apertando-as com força, tentando passar algum conforto através do toque. — Você não está sozinha. Nós vamos enfrentar isso juntas.
Pouco a pouco, Carolina começou a acalmar-se. As palavras de Clara, repletas de uma compreensão verdadeira, conseguiram atravessar o pânico e alcançar algo profundo dentro dela. Carolina respirou fundo algumas vezes, ainda soluçando, mas a sensação de sufocamento começava a se dissipar.
O Peso da Realidade
Quando Carolina finalmente se acalmou, o ambiente no salão mudou completamente. A tensão era palpável, como se o ar ao redor tivesse se tornado mais denso. Clara permaneceu ao lado de Carolina, mas havia algo em seu olhar agora, algo mais sombrio. A raiva que antes estava escondida sob a superfície, agora estava à flor da pele. Para Clara, essa nova perda era uma confirmação de que Julia precisava ser destruída a qualquer custo.
— Ela vai pagar — murmurou Clara, a voz baixa, mas carregada de ódio. — Julia vai pagar por cada vida que tirou. Pelo meu noivo... pelo Rafael. Ela não vai escapar.
Lucas, que até então estava calado, começou a se sentir cada vez mais desconfortável. A intensidade dos sentimentos no ar, o desejo de vingança, a frieza com que Ivan falava... Tudo isso o deixava ansioso. Ele tinha seus próprios motivos para odiar Julia, mas ver a determinação crescente em Clara e Carolina o fazia sentir uma pontada de medo.
Ivan, por outro lado, observava tudo de forma calma e calculada. Ele havia esperado que Carolina reagisse fortemente à morte de Rafael, mas o que realmente o interessava agora era a reação de Clara. O ódio dela por Julia era um trunfo que ele e Carolina poderiam usar. O desejo de vingança a tornava mais suscetível a manipulação, e Ivan sabia que precisariam de todas as armas possíveis para destruir Julia.
Depois de alguns minutos de silêncio pesado, Ivan se levantou da cadeira onde estava sentado e começou a falar novamente, desta vez de forma mais estratégica.
— Rafael era uma peça. Um peão que Julia usou e descartou. Mas o que mais importa agora é que ela continua se movimentando, e precisamos estar um passo à frente dela. — Ivan olhou diretamente para Carolina. — Julia pode ser destrutiva, mas não é invencível. E temos uma oportunidade de desmontá-la completamente.
Carolina, ainda com os olhos vermelhos de chorar, ergueu a cabeça e encontrou o olhar frio de Ivan. Ela sabia que ele estava certo. Sabia que, por mais que a morte de Rafael a tivesse abalado, não havia tempo para fraqueza. Julia ainda estava lá fora, destruindo vidas, e Carolina precisava ser forte o suficiente para acabar com ela.
— O que você tem em mente? — perguntou Carolina, sua voz ainda rouca, mas cheia de determinação.
Ivan cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente.
— Eu já estou infiltrado em várias das redes de Julia. Mas ela é cuidadosa. Vai ser necessário mais do que apenas inteligência para derrubá-la. Precisamos fazer ela se sentir segura, dar-lhe a falsa impressão de controle. Quando ela estiver vulnerável, atacamos.
Carolina balançou a cabeça lentamente. Havia uma frieza crescente dentro dela agora, algo que se alinhava com o plano de Ivan. Ela estava disposta a fazer o que fosse necessário para destruir Julia.
— E o que você sugere que façamos? — questionou ela.
Ivan olhou para Clara por um momento antes de responder, seus olhos escurecendo.
— Vamos usar a raiva de Clara, o medo de Lucas, e a influência que temos nas redes de Julia. Vamos construir um plano para desestabilizar suas operações, tirando uma peça de cada vez. Quando ela perceber, já será tarde demais.
Clara se aproximou, agora mais engajada do que nunca. Seu ódio por Julia a impulsionava, e ela queria ver a queda daquela que destruiu seu noivo e agora havia tirado Rafael da vida de Carolina.
— Eu estou dentro — disse Clara, sem hesitar.
Lucas permaneceu em silêncio, mas seu desconforto era evidente. Ele sabia que esse caminho seria perigoso, talvez mais do que qualquer um ali pudesse prever.
Ivan e Carolina trocaram olhares. A ideia estava formada, mas ainda não era hora de agir. No entanto, sabiam que o momento se aproximava. Julia poderia ter tirado Rafael deles, mas agora eles tinham algo mais poderoso: um plano para derrubá-la.
E assim, no meio da tensão crescente, o capítulo terminava com a promessa de um confronto iminente.
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Sombra de Vingança
Misteri / ThrillerCarolina acreditava que o passado estava enterrado, mas as sombras da traição e da vingança voltam a persegui-la. Em "Sombra de Vingança", a continuação arrebatadora da trilogia, Carolina se encontra envolvida em uma trama de segredos mortais, menti...