~Chapter Fourteen~

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20 de novembro de 1996

__________Lunae Nêmesis__________

O silêncio da mansão de meu avô emoldurava os pensamentos que rodavam incessantes em minha mente. Eu não me arrependia do que fiz com Cho Chang. Ela merecia, depois de ter falado coisas tão pesadas sobre meu avô, ainda não sabia o motivo, mas nem sempre é preciso motivo. O rosto dela desfigurado não era algo que me assombrava; o que me perturbava era a reação de Gellert Grindelwald.

Após minha chegada na Rússia, permaneci trancada no quarto por um dia inteiro. Não por vergonha do que fiz, mas pela certeza de que meu avô estaria desapontado. A sensação de estar prestes a enfrentar o julgamento de alguém que significava tudo para mim era o que realmente pesava.

Na manhã seguinte, desci para o café da manhã. A mansão, com seus corredores frios e extensos, estava tão imponente quanto a figura que me esperava na sala de jantar. Meu avô estava sentado à cabeceira, envolto por sua aura de autoridade inquestionável. Ele lia o jornal bruxo com a mesma atenção com que folheava um jornal trouxa. Não disse uma palavra ao me ver entrar, e eu tampouco ousei falar.

Me sentei em silêncio, observando-o de relance. Ele parecia alheio à minha presença, mas eu sabia que cada movimento meu era cuidadosamente notado. O café da manhã transcorreu assim, sem trocas de palavras, apenas o som suave de utensílios e o folhear de páginas.

Ao terminar, ele dobrou calmamente o jornal, colocou-o de lado e, sem olhar para mim, disse:

- Lunae, venha comigo até a biblioteca.

Levantei-me sem hesitar, e o segui. O peso de suas palavras e a frieza calculada de seus gestos me deixavam em alerta. Entramos na biblioteca, uma sala repleta de conhecimento e história, com volumes antigos que meu avô sempre prezou. Ele se posicionou em frente à lareira, enquanto eu me sentava, aguardando suas palavras.

O silêncio reinou por alguns segundos antes de ele falar.

- Não preciso que você se explique - ele começou, cortando qualquer tentativa que eu pudesse ter de me justificar. - Sei exatamente por que fez o que fez.

Engoli seco, esperando pela repreensão. Porém, sua voz continuou calma, quase... reflexiva.

- Quando tinha a sua idade, eu também acreditava que força e poder eram tudo. A necessidade de defender o que é meu, minha família, minha reputação... - ele fez uma pausa, e seus olhos encontraram os meus. - Mas o poder, Lunae, é mais do que apenas uma demonstração de força. É sobre controle. Saber quando usar e, mais importante, quando não usar.

Eu sentia o peso de suas palavras, mas ele não falava com raiva. Seu tom era firme, mas havia um carinho subjacente, um tipo de compreensão que só alguém como ele poderia oferecer. Ele não estava bravo. Não havia desapontamento explícito em sua voz.

- Eu já fiz escolhas impensadas - continuou, seus olhos voltando a vaguear pela sala, como se suas memórias voltassem. - E cada uma delas trouxe consequências. Não posso te dizer o que você deve sentir pelo que fez, porque esse caminho você deve trilhar sozinha. Mas o que posso te dizer, Lunae, é que a verdadeira força está em reconhecer que o poder sem propósito é vazio.

Whispers of PowerOnde histórias criam vida. Descubra agora