~Chapter Nine~

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19 de outubro de 1996

__________Lunae Nêmesis__________

O almoço com minha família havia corrido tranquilamente. Passei o resto do dia na biblioteca, absorta em livros, e mais tarde fui para a floresta ver meu bichinho, buscando um pouco de paz e tranquilidade. Quando a noite caiu, jantei novamente com meu avô e meus irmãos. A conversa à mesa foi leve, mas meu pensamento já estava em outro lugar. Decidi sair para dar uma volta pela cidade, algo que sempre me ajudava a organizar as ideias.

Vesti-me apropriadamente para o frio russo, colocando um casaco pesado por cima da calça e da blusa de manga longa. Aparatei para perto do centro de Moscou e comecei a caminhar pelas ruas iluminadas. As luzes da cidade refletiam na neve, criando uma paisagem encantadora e um tanto melancólica. Parei em uma cafeteria ainda aberta, pedi um chocolate quente e continuei meu passeio pelas ruas silenciosas, perdida em meus pensamentos. Alguns minutos depois, o que vi me fez parar abruptamente.

— Não fode comigo. - murmurei, incrédula, ao ver a figura familiar de Mattheo Riddle, parado com um sorrisinho nos lábios e os braços cruzados diante do peito. A arrogância estampada no rosto dele era inconfundível.

— O que faz aqui, Mattheo? - perguntei, ainda surpresa pela coincidência absurda de encontrar meu rival em pleno centro de Moscou, mas sabia que não era coincidência.

— Iae, saudades? - ele respondeu com sua típica risadinha e descruzou os braços, como se fosse a coisa mais natural do mundo ele aparecer ali. — Fazia um tempinho que eu não vinha para a Rússia e achei que seria uma boa ideia dar uma voltinha por aqui.

Balancei a cabeça, tentando processar a ousadia dele. O sorriso convencido não deixava o rosto de Mattheo enquanto eu o encarava com uma mistura de irritação e descrença. Revirei os olhos e passei por ele, decidida a ignorar sua presença.

— Ah, qual é? Vai dizer que não sentiu minha falta também? - ele provocou, me seguindo pela rua.

— Não, Mattheo, não senti. - respondi, sem olhar para trás, continuando a caminhar enquanto tomava meu chocolate quente. — Não faz nem um dia que saí de Hogwarts.

— Tudo bem, tudo bem. - ele disse, acelerando o passo para me alcançar e ficando na minha frente, forçando-me a parar. — Podemos não brigar? Estamos fora de Hogwarts, não precisamos provar para todo mundo que nos odiamos. A gente pode só… se tratar como pessoas normais, talvez até amigos?

Seu tom era diferente do habitual. Por um momento, o desafio constante que permeava nossas interações parecia ter desaparecido, substituído por algo mais genuíno. Ele me encarava com uma expressão quase esperançosa, e por um segundo, vi algo nos olhos dele que me fez hesitar.

— Pessoas normais não seguem as outras. - respondi, arqueando uma sobrancelha enquanto ele soltava um gemido frustrado. Uma risada escapou dos meus lábios ao vê-lo lutar para manter a postura. Tomei mais um gole do chocolate quente, usando o gesto para ganhar tempo e ponderar sobre o que ele havia dito.

Mattheo suspirou e, por um breve instante, pareceu abandonar a máscara de arrogância que sempre usava. Havia algo ali, uma vulnerabilidade que raramente deixava transparecer. Ele não estava ali por acaso, isso eu sabia. Mas, naquele momento, eu não queria decifrar suas intenções, não queria questionar o motivo pelo qual ele atravessou países para aparecer no meu caminho.

— Tudo bem. - concordei finalmente, com um suspiro resignado. — Mas só por hoje.

Os olhos de Mattheo brilharam com uma satisfação contida, como se aquele pequeno gesto de trégua tivesse mais significado do que eu podia entender naquele momento. Ele não disse mais nada, apenas assentiu, e começamos a caminhar lado a lado pelas ruas geladas de Moscou, as palavras não ditas pairando no ar frio da noite.

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