Capítulo 4 - O Refúgio Inesperado

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Eu corria. Não sabia pra onde, não sabia como, mas minhas pernas simplesmente não paravam. O vento cortava meu rosto, e eu apertava Arthur mais forte contra o peito. Ele estava quieto, mas eu sentia o calorzinho dele em mim, me lembrando do único motivo que me fazia continuar correndo.

As ruas começaram a se tornar desertas, e a sensação de estar sendo caçada se intensificava. Cada vez que eu olhava pra trás, achava que veria Rafael dobrando a esquina com seu carro. Aquela monstruosidade preta que eu já conhecia tão bem. E o pior? Eu sabia que não era só impressão. Ele estava perto, e eu não tinha muito mais para onde correr.

Até que vi.

No meio de uma rua arborizada, quase escondida entre as sombras, avistei uma mansão gigantesca. Daquelas que parecem tiradas diretamente de um filme, com portões altos e seguranças por toda parte. Uma fortaleza de luxo e proteção. Mas, para alguém como eu? Aquilo não era um refúgio, era um risco. Imaginei o que poderia acontecer se eu me aproximasse pedindo ajuda – na melhor das hipóteses, os seguranças me expulsariam; na pior, me colocariam pra fora aos gritos. Nenhuma dessas opções era boa.

Agradeci a Deus por, pelo menos, o portão estar longe dos seguranças, que naquele momento estavam ocupados ou longe o suficiente para não me verem. E ainda bem que estava escuro.

Sem ter muito tempo para pensar, eu me abaixei rapidamente. Ou era isso, ou Rafael me encontraria. Com as mãos trêmulas, coloquei Arthur por baixo do portão de ferro. Ele deslizou suavemente, enrolado na manta, sem entender nada, mas confiando em mim como sempre. Meu coração apertou enquanto sussurrava: "Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem." Só que, naquele momento, eu estava longe de acreditar nisso.

Em seguida, sem pensar muito – porque, honestamente, se eu pensasse, teria desistido – me preparei para escalar o portão. Claro, essa é a parte engraçada. Uma coisa é ver as cenas de fuga na TV, outra é ser você a protagonista de uma. As barras de ferro eram frias, e eu só tinha uma chance de não cair de cara no chão do outro lado. Meu corpo estava exausto, mas eu puxei o máximo de força que tinha. Afinal, se eu tivesse sobrevivido até agora, subir aquele portão não podia ser o pior que já tinha enfrentado, certo?

Depois de uma luta com o ferro e alguns arranhões no processo, consegui pular para o outro lado. Caí no chão com um baque surdo, tentando não fazer barulho, porque, claro, seria ótimo escapar de Rafael só para ser pega por algum segurança dessa mansão.

Peguei Arthur nos braços e me escondi atrás de uma árvore alta no jardim. Meu corpo inteiro tremia, de medo, de frio, de tudo. Então ouvi. O som dos pneus. O carro de Rafael se aproximava. Eu me encolhi, abaixando o máximo que pude, enquanto ele passava devagar pela rua. Os faróis varreram a entrada da mansão e as ruas, e por um segundo, achei que ele fosse me ver. Mas ele seguiu adiante.

Respirei fundo, ainda sem acreditar que tinha conseguido escapar. Mas eu sabia que não estava fora de perigo. Não com ele por perto. Eu abracei Arthur com força, ainda tentando controlar o pânico que pulsava dentro de mim. Ele choramingou baixinho, e eu o balancei de leve, tentando acalmá-lo, apesar de saber que eu mesma estava longe de estar calma.

Por um segundo, pensei que talvez tivesse encontrado um refúgio temporário. Talvez, naquela mansão, com aquele arbusto escuro e bem posicionado, eu pudesse me esconder por algumas horas, só até o perigo passar. Não era nada definitivo, claro. Meu plano era ficar quieta ali, entre as sombras, até que os carros de Rafael sumissem de vista. Assim que a poeira baixasse e eu não corresse mais risco, sairia sem que ninguém me visse. Sem fazer alarde, sem chamar atenção. Só precisava de um pouco mais de tempo, de um respiro.

Mas é claro que a vida nunca é fácil assim, não é?

Ouvi um som que fez meu coração parar. O rosnado de um cachorro, alto e feroz, vindo de dentro da mansão. Senti o chão tremer sob mim quando ele avançou, e antes que eu pudesse pensar em como me livrar dessa, as luzes da mansão se acenderam. Tudo ficou claro de repente, como se eu tivesse sido pega num holofote.

Então ele apareceu.

Um homem alto, imponente, saiu pela porta da frente, com uma expressão que misturava curiosidade e irritação. O cachorro ao lado dele – um doberman enorme, com os olhos fixos em mim – parecia prestes a avançar.

"O que você está fazendo na minha casa?" A voz dele era grave, autoritária, e ecoou pelo jardim. Ele me olhava como se eu fosse a coisa mais absurda que já tinha visto. E, honestamente? Talvez eu fosse mesmo.

Eu estava sem palavras. Ainda tentando recuperar o fôlego, ainda processando tudo o que tinha acontecido até ali. Eu deveria falar? Deveria correr de volta? Mas antes que eu pudesse pensar em uma resposta, os carros de Rafael apareceram ao longe. Aquele maldito carro, com os seguranças dentro, passando devagar, procurando por mim.

O pânico tomou conta de mim de novo, e antes que eu percebesse, eu estava de joelhos na frente daquele homem. "Por favor", implorei, minha voz saindo num fio. "Eu preciso de ajuda. Só preciso que me esconda. Só por essa noite. Ele está me caçando."

O doberman rosnou mais uma vez, mas o homem ergueu a mão e o segurou. Ele olhou para mim por um longo momento, como se estivesse pesando a situação. Eu sabia que estava nas mãos dele agora.

Se ele me ajudasse ou não, era uma incógnita. Mas eu estava sem opções.

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