Capítulo 22 - Entre Raiva e Emoção

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Após Gabriel me surpreender com um balde de água fria que me deixou tão chocada quanto um gato molhado, subi as escadas resmungando sobre a total falta de consideração que ele tinha por mim. Como se eu não tivesse uma vida bastante complicada, ainda tinha que lidar com o humor dele. Mas, de certa forma, a raiva que sentia me proporcionava uma estranha sensação de paz. Ele estava lá, a poucos metros do meu quarto, e essa ideia me acalmava mais do que eu gostaria de admitir.

Quando entrei no quarto, vi Arthur dormindo tranquilamente em seu berço. O cheirinho dele era como um sedativo, e não pude resistir. Peguei-o nos braços e o coloquei para dormir comigo. Enrolada entre os lençóis, sentia seu calor e a suavidade de sua pele. Era um alívio. Ele era meu mundo, meu pequeno refúgio em meio ao caos que era minha vida.

A tranquilidade, no entanto, foi abruptamente interrompida por um pesadelo. A imagem de Rafael me assombrava, levando Arthur de mim, machucando-o. Acordei assustada, o coração acelerado, e rapidamente olhei ao meu redor. Arthur não estava mais ao meu lado. A adrenalina tomou conta de mim, e corri pela casa, meu instinto materno gritando.

Ao chegar ao jardim, respirei fundo ao ver meu filho brincando com Gabriel. Os dois estavam se divertindo com uma bola, rindo e jogando. Um alívio instantâneo me invadiu, mas, ao mesmo tempo, uma onda de confusão me atingiu. Gabriel era um babaca, mas ali, naquele momento, ele parecia tudo menos isso. Não consegui evitar um pensamento involuntário: "E agora, quem na casa me viu de baby-doll curto, não sei se sorrio ou choro." Que horas ele entrou no quarto e eu nem ouvi, preciso ser mais atenta, deve ter sido os três dias sem dormir.

Após um banho quente, preparei café e a mamadeira para Arthur. O cheiro do café fresco me despertou, mas a raiva que eu sentia de Gabriel ainda estava presente. Prometi a mim mesma que o ignoraria do jeito que ele fez. "Vou embora e ele vai saber disso", pensei, determinada. A ideia me trouxe um alívio temporário, mas então Clara apareceu e mencionou que Gabriel havia feito a mamadeira de Arthur. Minha raiva deu lugar à surpresa e emoção. Como ele podia ser tão imprevisível e, ao mesmo tempo, tão doce com meu filho?

Na sala, notei um novo brinquedo que eu não havia prestado atenção antes: um cavalinho de pau. "E isso? Para que ele comprou isso? Como se fôssemos ficar aqui. Vou embora e deixarei essa vida para trás," pensei, determinada a não ceder à curiosidade e à confusão que ele provocava em mim.

Gabriel me chamou para a biblioteca, e uma parte de mim queria ir. A curiosidade puxava-me com força, mas eu resisti. Ele havia me ignorado na noite anterior, então não fazia sentido ir até lá agora. Ele tinha que sentir minha indiferença. E sentia, pelo jeito que seu olhar se entristeceu quando não fui. Era quase como um jogo, e, por um momento, isso me deu uma satisfação imensa.

À noite, após colocar Arthur para dormir, eu estava exausta. Tinha brincado bastante com Gabriel durante o dia e isso me deixava mais cansada do que esperava. Vesti um baby-doll bem curto, e, enquanto caminhava pela casa silenciosa, minha mente vagou sobre tudo o que havia acontecido.

Fui até a cozinha preparar um sanduíche, pensando no que eu faria a seguir. Quando terminei, quase levei um susto ao ouvir a voz de Gabriel, perguntando se eu poderia fazer um para ele também. Ah, agora ele queria puxar assunto, não era? Apenas concordei com a cabeça, sem muito entusiasmo.

Quando terminei de preparar o sanduíche, ele tocou minha mão. O contato foi elétrico, e, em um instante, a tensão, raiva, saudade entre nós explodiu. Nossos olhares se encontraram, e, antes que eu pudesse processar, ele me puxou para mais perto. Naquele momento, todas as promessas de indiferença se desfizeram. Ele me colocou sentada na bancada da cozinha, eu puxei o corpo dele com as pernas, queria matar a saudade do seu corpo, a paixão e a raiva entrelaçadas, enquanto o desejo tomava conta de nós.

"Eu preciso sentir você," Gabriel murmurou, sua voz baixa e carregada de intensidade. "Ou vou enlouquecer." E eu, que tentei me manter firme, não consegui resistir. As palavras dele eram como um feitiço, e eu me entreguei, permitindo que o calor do nosso momento consumisse qualquer pensamento de fuga ou raiva.

Enquanto o calor de nossos corpos se entrelaçava, eu não pude deixar de pensar em como a linha entre paixão e ódio era fina. E, enquanto isso, eu me perguntava se era um refúgio ou uma prisão.

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