Desde que chegou, Laura e eu estávamos nos dando muito bem. Para minha surpresa, havia algo genuinamente afetuoso nela. Diferente de outras mulheres ricas e fúteis que já conheci, Laura tinha uma leveza que fazia até suas futilidades parecerem encantadoras. Ela era engraçada, às vezes até infantil, mas me tratava com carinho, como se me conhecesse há anos. Gabriel, por outro lado, permanecia distante. Sempre frio, como se vivesse em um universo à parte, onde a palavra "sentimento" não tivesse o menor significado.
Certa tarde, enquanto brincava com Arthur no chão da sala, Gabriel entrou no cômodo, sua presença preenchendo o ambiente com aquele ar de seriedade que nunca o abandonava. Mesmo sem olhar diretamente para ele, sabia que estava prestes a dizer algo importante. E estava certa.
— Haverá uma festa aqui em casa — começou ele, a voz impassível, como se já estivesse cansado do assunto. — Não é minha vontade, mas minha mãe insistiu, e se eu não permitir, ela vai continuar aqui por mais tempo. E sinceramente, prefiro que a festa aconteça logo.
Levantei uma sobrancelha. Uma festa? Claro que Laura faria algo assim. Ela parecia o tipo de pessoa que respirava eventos sociais como quem respira oxigênio. Mas, pelo tom de Gabriel, dava para perceber que ele odiava a ideia. Aquilo não era para agradar a ele, claramente.
— E você está me avisando para quê? — perguntei, sarcástica, já antecipando a resposta.
Ele hesitou por um segundo, o que foi uma surpresa. O Gabriel que eu conhecia não hesitava. Nunca.
— Não posso te convidar. — Suas palavras saíram firmes, mas houve um traço de algo que eu não conseguia identificar. Era um pedido de desculpas?
Eu ri, um pouco incrédula. Desde quando eu queria ir a uma festa? Estava aqui escondida, não era para me misturar com os ricos e famosos.
— Sério? Nem estou ofendida. Odeio festas. — Eu dei de ombros, tentando disfarçar o incômodo que senti quando ele continuou.
— É arriscado — ele disse, ignorando minha tentativa de desviar o assunto. — Alguém poderia te reconhecer, e se isso acontecer, Rafael saberá onde você está.
Ah, claro. O fantasma de Rafael sempre pairando. Mas por dentro, eu achava a ideia absurda. Quem, exatamente, iria me reconhecer? Rafael nunca me exibiu por aí como alguém digna de ser apresentada. As poucas vezes que saímos juntos foram diretamente para a casa de sua mãe, e com o passar do tempo, nem isso mais aconteceu. Ele me escondeu tanto quanto possível. Eu era, para ele, apenas uma peça descartável, algo que ficava trancado no fundo do armário.
Mesmo assim, suspirei e aceitei.
— Tá, se você acha melhor assim, quem sou eu para discordar? Nem gosto de festas mesmo.
Gabriel acenou com a cabeça, satisfeito com minha resposta, e deixou a sala tão rapidamente quanto entrou, me deixando sozinha com meus pensamentos. Apesar de ter acatado a decisão dele, uma parte de mim estava incomodada. Não com a festa em si, mas com o jeito que ele tratava tudo com essa frieza inabalável. Às vezes, eu queria que ele demonstrasse alguma coisa. Raiva, frustração, qualquer emoção humana serviria. Mas não, ele era sempre esse iceberg ambulante.
Quando o dia da festa finalmente chegou, a mansão estava um caos controlado. Os empregados iam e vinham, carregando decorações, mesas, cadeiras e arranjos de flores que pareciam ter sido colhidos diretamente de um paraíso tropical. O cheiro de comida fina enchia o ar, e eu não pude deixar de pensar que, pelo menos, uma festa dessas deveria ter a melhor comida do mundo. O som dos passos apressados ecoava pela casa, misturado com a música suave que começava a ser testada pelos músicos do evento.
Olhei pela janela e observei de relance os convidados chegando. Era um desfile de pessoas extravagantes, vestidas como se cada uma delas estivesse disputando um concurso de moda. Mulheres de vestidos cintilantes, homens com ternos impecáveis. Tudo gritando riqueza e ostentação. Para mim, aquilo parecia mais um circo do que uma festa.
"Quem são essas pessoas? Amigos?", pensei, soltando uma risada silenciosa. Duvido que alguém ali soubesse o verdadeiro significado da palavra "amizade". A maioria deles devia estar ali apenas para exibir suas roupas caras e fazer networking.
Arthur, por sua vez, estava completamente alheio a tudo isso. Ele brincava no chão com os inúmeros brinquedos que Gabriel tinha trazido nos últimos dias. No começo, eu ficava desconcertada com a quantidade de presentes, mas agora... não podia reclamar. Ele estava feliz, e isso era o mais importante. Além disso, não podia esquecer que estávamos na casa de Gabriel de favor. Não era como se eu estivesse em posição de recusar qualquer gentileza.
Eu gostava daqui. Pela primeira vez em muito tempo, me sentia segura. E essa segurança era tão rara na minha vida que, quando a encontrei, foi quase impossível não me apegar a ela.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo perfume inconfundível de Gabriel. Era impressionante como ele conseguia encher o ambiente sem nem dizer uma palavra. Olhei para o corredor e o vi passar, impecável em seu terno escuro, indo em direção ao salão onde os convidados já se aglomeravam. Algo dentro de mim se agitou. Será que... será que eu estava começando a sentir algo por ele?
"Não, Sofia. Isso é loucura." Tentei afastar a ideia. Eu estava aqui para me livrar de Rafael, para proteger Arthur e me reconstruir. O último problema que eu precisava era deixar meu coração me trair de novo. Além disso, Gabriel era um enigma que eu jamais seria capaz de decifrar. Melhor não me complicar mais.
A música da festa já ressoava pelo andar de baixo, uma mistura de batidas eletrônicas e melodias românticas que me faziam pensar em danças lentas e olhares roubados. Eu não sabia que Laura tinha tão bom gosto musical. Mas, novamente, ela parecia sempre surpreender de alguma forma.
Arthur já tinha caído no sono, então pensei que aquela seria minha chance de relaxar um pouco. Estava prestes a me deitar quando ouvi batidas suaves na porta. "Quem será agora?", pensei, com um suspiro.
Ao abrir a porta, me deparei com Laura, que entrou no quarto com um sorriso caloroso e uma energia incansável.
— Por que você não está na festa, querida? — ela perguntou, com aquela curiosidade inofensiva que parecia lhe ser tão natural.
Eu inventei uma desculpa, dizendo que estava cansada e não tinha uma roupa adequada para o evento. Para minha surpresa, ela não pareceu aceitar minha explicação. Insistiu que eu deveria me arrumar e ir. Quando mencionei Arthur e disse que não poderia deixá-lo sozinho, achei que isso seria o fim da discussão.
Mas Laura era uma mulher que não desistia facilmente.
— Espere aqui um momento, vou resolver isso — ela disse, saindo rapidamente pela porta.
Eu deveria ter desconfiado. Alguns minutos depois, ouvi novas batidas. Dessa vez, Laura estava acompanhada de Clara, e com um vestido no braço.
— Clara vai ficar com Arthur, e você vai comigo — disse ela, já me empurrando para o quarto ao lado. Sem nem me dar chance de protestar, Laura começou a me transformar. Era como se eu fosse uma boneca nas mãos dela. Ela fez questão de escolher um vestido vermelho deslumbrante, com uma fenda enorme e um decote que eu sabia que chamaria atenção.
Olhei no espelho, sentindo um frio na barriga. Eu nunca tinha me visto tão bonita, tão... sensual.
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REFÚGIO PROIBIDO
Romance🚫MAIORES DE 18 ANOS Refúgio Proibido mergulha na tumultuada vida de Sofia, uma jovem mãe determinada a escapar de um relacionamento abusivo, levando seu pequeno filho, Arthur, em uma fuga desesperada. O destino a leva a uma mansão misteriosa, habi...