Capítulo 6 - Revelações e Confrontos

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Sentada naquela poltrona luxuosa, eu me sentia pequena. Como se o peso de todas as decisões erradas que já tomei estivesse me esmagando de uma vez só. Segurei Arthur mais firme, seu rostinho calmo me dando uma pontada de esperança, mas eu sabia que aquele era só o começo. O homem — ainda sem nome para mim — estava à minha frente, com os braços cruzados e o olhar pesado, como quem esperava uma explicação que eu nem sabia por onde começar a dar.

"Eu estou esperando," ele disse, com a voz grave, mas sem pressa. Era como se soubesse que não importava o que eu dissesse, eu não tinha mais pra onde correr.

Engoli em seco. Cada palavra que saísse da minha boca agora seria definitiva. Ele podia me jogar pra fora a qualquer momento, e Rafael estaria por aí, provavelmente com os faróis do carro rondando cada esquina.

"Meu nome é Sofia," comecei, tentando manter minha voz firme. "E esse é o meu filho, Arthur." Eu olhei para o bebê, sentindo uma onda de emoção, como sempre acontecia quando dizia seu nome em voz alta.

"Eu estava casada com um homem chamado Rafael," continuei, sentindo as palavras saírem pesadas. "No começo, ele parecia a solução de todos os meus problemas. Eu cresci sozinha, sem ninguém, e ele entrou na minha vida como uma promessa de algo melhor. Mas eu estava errada. Muito errada."

Ele não interrompeu. Ficou ali, ouvindo, o rosto impassível. Mas havia algo nos olhos dele, uma curiosidade, uma tensão. Como se estivesse processando cada palavra.

"Rafael é... perigoso. Controlador. Ele me ameaçou, me traiu, me manteve presa dentro da casa dele por meses, sem deixar que eu tivesse contato com ninguém. Nem com a mãe dele, imagine só." Sorri, mas era um sorriso amargo. "E eu suportei. Aguentei tudo. Até hoje."

"Hoje, ele chegou em casa bêbado. Me agrediu. E eu decidi que não ia mais suportar. Peguei meu filho e fugi. Mas ele está atrás de mim."

Quando terminei, o silêncio tomou conta da sala. O homem à minha frente — ainda sem nome, ainda um mistério — não tirava os olhos de mim, mas agora, algo na expressão dele havia mudado. Era como se estivesse calculando todas as possibilidades, tentando entender o que faria com a mulher e o bebê que acabavam de invadir seu mundo sem pedir licença.

"Você disse que ele está atrás de você." A voz de Gabriel era calma, mas carregada de uma preocupação que me deixou inquieta. "Sua casa é longe daqui?"

Eu me endireitei na poltrona, tentando conter o medo crescente. "Eu não sei... andei tão depressa, com tanto medo, que perdi a noção de distância. Só queria escapar."

Gabriel deu um longo suspiro, o olhar mais intenso. "Homens como Rafael... eu conheço o tipo. Eles perseguem até o fim. Você realmente acha que fugir assim vai funcionar?"

Senti uma pontada de pavor no peito, mas tentei manter a calma. "Eu não sei. Mas é minha única chance. Não vou deixar ele tirar meu filho de mim, e me agredir novamente."

Ele caminhou até a janela, observando a rua lá fora, como se estivesse esperando o carro de Rafael surgir a qualquer momento. A tensão no ar era palpável.

"Se eu fosse você, iria até a delegacia," ele sugeriu, ainda de costas para mim. "Homens assim só param quando são parados pelas leis."

Eu ri, um riso amargo e cansado. "Delegacia? Já vi Rafael se livrar de qualquer coisa que envolva leis. Ele tem dinheiro demais, poder demais. Acha que isso importa para ele? Ele vai tomar meu filho, e, na melhor das hipóteses, me matar. Já me ameaçou, tanto bêbado quanto sóbrio."

Gabriel se virou, seu rosto sério, como se estivesse ponderando as minhas palavras. "Então você acha que ficar aqui vai resolver isso?"

Eu o encarei, a voz mais firme agora. "Eu só preciso de tempo. Um lugar seguro por hora, até poder fugir de verdade, começar de novo... Não posso confiar na lei, só posso confiar em mim mesma."

Ele se virou para me encarar, os olhos fixos nos meus. O silêncio que seguiu foi quase sufocante. Eu conseguia ouvir meu próprio coração batendo forte no peito. Arthur se mexeu nos meus braços, e eu o acalmei, enquanto esperava uma resposta.

Finalmente, ele falou.

"Meu nome é Gabriel," ele disse, a voz mais baixa, mas ainda firme. "E eu não costumo me meter nos problemas dos outros." Ele caminhou até mim, seus passos ecoando na sala silenciosa. "Mas pelo visto, agora já estou envolvido."

Aquela frase me deu um resquício de alívio, mas eu sabia que Gabriel não era um homem fácil de lidar. Ele estava entrando nessa porque, de alguma forma, viu algo em mim que o fez hesitar. Mas eu não podia contar com sorte.

"Você pode ficar aqui por enquanto. Só por enquanto," ele acrescentou, antes que eu pudesse sequer agradecer. "Mas se quiser se proteger e proteger seu filho, vai ter que me contar tudo. E eu não aceito mentiras."

Eu assenti, exausta, mas determinada. Gabriel era a minha chance. E eu não podia desperdiçar.

"Eu prometo que vou fazer tudo certo," respondi. "Só preciso de uma chance para recomeçar."

Gabriel me olhou por mais alguns segundos antes de finalmente se virar, saindo da sala e me deixando ali com Arthur, sentada na poltrona, tentando entender como a minha vida tinha virado de cabeça para baixo em questão de horas.

Mas uma coisa eu sabia: eu tinha conseguido uma pequena chance. E agora, precisava lutar com tudo o que tinha para não perdê-la.

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