Passei o dia fugindo de Gabriel pela mansão como se estivesse brincando de esconde-esconde. Só que, no meu caso, não tinha nada de divertido. Eu sabia que precisava falar com ele, precisava saber se era seguro sair, mas o constrangimento da noite anterior ainda pesava sobre mim. Aquela sensação de que ele podia ler meus pensamentos e perceber como cada olhar seu me desconcertava, fazia com que eu quisesse evaporar toda vez que ele surgia por perto.
No entanto, o verdadeiro problema não era só o constrangimento. Era o que estava lá fora. Rafael. Sabia que em algum momento teria que encarar a realidade. Eu não podia ficar aqui para sempre. Mas Gabriel não havia falado mais nada sobre se era seguro ou não sair. Ele parecia ter voltado ao seu modo frio e distante, como se a explosão de tensão entre nós não tivesse passado de uma leve brisa em sua vida perfeita.
Naquela noite, depois de um jantar silencioso – claro, como sempre –, tomei coragem para confrontá-lo. Não dava mais para adiar. A sala estava mal iluminada, e Gabriel, sentado de costas para a janela, parecia mais sombrio do que o habitual. Respirei fundo e fui direto ao ponto:
— Preciso saber se já posso ir embora. — soltei, sem rodeios.
Ele não respondeu de imediato. Apenas me encarou com aquele olhar gelado, analisando cada detalhe do meu rosto, como se estivesse decidindo a melhor forma de derrubar minhas defesas.
— O perigo ainda está lá fora, Sofia. — Ele falou, cada palavra saindo de forma controlada, como se quisesse martelar o ponto em minha cabeça. — Rafael ainda está te procurando. Ele sabe que você não saiu da cidade e que não conseguiu ir tão longe naquela noite.
Minhas mãos ficaram frias ao ouvir o nome de Rafael. Eu sabia que não seria fácil, mas ficar ali, cercada por todo aquele luxo que não era meu, me fazia sentir presa de uma forma que não conseguia descrever.
— Então eu vou sair amanhã de madrugada. — respondi, cruzando os braços como se isso fosse me proteger de toda aquela tensão sufocante. — Vou me hospedar num hotel e de manhã seguir para longe, outra cidade, onde eu possa recomeçar.
Gabriel me encarou por um longo momento, e a expressão dele mudou. Não de surpresa, claro, porque ele parecia sempre um passo à frente, mas de... raiva? Não. Irritação. Era como se, pela primeira vez, ele estivesse realmente irritado comigo.
— Você quer mesmo arriscar a sua segurança e a do seu filho desse jeito? — A voz dele saiu mais baixa, mas afiada, como uma faca pronta para cortar minhas ilusões. — Não seja idiota. Rafael está sempre um passo à frente desses seus "planinhos".
Minha garganta secou. Droga, ele estava certo, e eu odiava admitir isso. Mas o que mais eu podia fazer? Ficar aqui para sempre?
— Eu não tenho outra escolha, Gabriel. — Olhei para ele, tentando manter minha voz firme. — Você pode me ajudar... me dar algum dinheiro, e eu te pago quando arrumar um emprego em algum lugar onde eu possa recomeçar.
Eu sabia que estava pedindo demais, mas precisava tentar. Se Gabriel realmente quisesse me ajudar, ele entenderia.
Porém, em vez de responder de imediato, ele apenas me olhou, com aquele maldito olhar calculista que me deixava nervosa. Sabia que ele estava analisando tudo, pesando as opções, e o silêncio dele era sufocante.
— Você quer mesmo ir embora daqui? — Ele perguntou, finalmente, cada palavra impregnada de um tom que eu não conseguia decifrar.
— Sim — respondi, a firmeza na minha voz soando como uma declaração de guerra.
Gabriel permaneceu em silêncio, os olhos ainda fixos em mim, e por um instante, pensei ter vislumbrado uma tristeza escondida neles, mas ele disfarçou tão rapidamente que duvidei do que havia visto. O que ele estava pensando? A curiosidade martelava em minha mente, mas, no fundo, a verdade era que eu estava cada vez mais preocupada com o amanhã e com o que Rafael poderia fazer se soubesse que eu estava ali.
— Logo você irá — ele disse, com um ar de resignação, como se estivesse aceitando um destino inevitável.
A tensão entre nós aumentava, como se o ar estivesse carregado de promessas não ditas e decisões difíceis. Eu sabia que, em algum momento, teria que confrontar não apenas o passado que Rafael representava, mas também as escolhas que eu fazia a cada dia dentro daquela mansão. O que eu realmente desejava? Era difícil saber quando o futuro parecia tão incerto e cheio de sombras.
E, enquanto pensava nisso, uma sensação de urgência me dominou: a hora de agir estava se aproximando. A decisão de sair daquela vida dependia apenas de mim, mas os riscos poderiam ser maiores do que eu imaginava.
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REFÚGIO PROIBIDO
Romance🚫MAIORES DE 18 ANOS Refúgio Proibido mergulha na tumultuada vida de Sofia, uma jovem mãe determinada a escapar de um relacionamento abusivo, levando seu pequeno filho, Arthur, em uma fuga desesperada. O destino a leva a uma mansão misteriosa, habi...